"Decepcionado com a falta de coragem e garra do nosso grupo"

Caro amigo Vilmar,

Infelizmente eu já estou desacreditando que haja uma solução para o nosso difícil caso. Não porque eu não continue a batalhar, mas a grande maioria fica em casa e não sai para gritar e espernear nas ruas e praças de algumas importantes cidades brasileiras onde há aposentados e pensionistas e até demitidos da VARIG. Ficam em casa comentando que “não adianta” ou criticando quem vai para a rua.

Eu estou com problemas de saúde, não graves, graças ao Bom DEUS, mas estou com problemas de saúde e preciso me dedicar mais a mim. Então, agora, caro amigo, eu só vou sair da minha casa para qualquer manifestação sobre a causa AERUS/VARIG se eu tiver dinheiro sobrando e que não vai me faltar. E também não vou ficar pedindo dinheiro a outros companheiros desta triste jornada para estar nos locais das Manifestações.

Chega de passar um certo constrangimento e decepção nas ruas ao ver que apenas 20, ou no máximo 30 pessoas, ainda se propõem a lutar nestas ruas e praças pelo caso tão grave que é o Caso AERUS/VARIG.

As pessoas, caro amigo, deveriam lutar, mas não lutam e ficam em casa à espera de alguma notícia boa ou então à espera da Morte. Ou, como eu já disse, criticando e inventando desculpas. Sim, se acomodaram e estão anestesiadas totalmente.

Este e-mail será também encaminhado ao pessoal do Movimento ACORDO JÁ! e a outros dos meus contatos.

Quem quiser, meu amigo, que vá para as ruas lutar e botar a bunda na janela. Nem cartas ou e-mails as pessoas têm a coragem de enviar para senadores, deputados, Ministros e outras autoridades, pedindo solução ou até criticando esta grave situação que milhares passam desde a Intervenção do Fundo Aerus e a falência da Varig em 2006. São quase 6 anos e, como você sabe e todos já sabem, 627 já faleceram sem ver a solução resolvida, e acho que ainda morrerão mais e o caso fica engavetado nas salas refrigeradas do STF - Supremo Tribunal Federal.

Às poucas e fiéis autoridades, alguns jornalistas e o Sindipetro-RJ que nos ajudam, eu sempre agradeço e continuo pedindo que continuem ao nosso lado, mas acredito que eles também devem ficar decepcionados com a pouca participação dos ex-trabalhadores da VARIG nesta tão difícil causa. Se não houver participação forte e ativa nem a Imprensa (que já não nos ajuda mesmo há algum tempo) irá dar qualquer nota sobre este difícil caso.

São muito poucos que fazem isso, que escrevem e participam ativamente desta causa. Não adianta pedir, não fazem e não se dignam a fazer. Esperam que outros façam por eles e resolvam o grave problema por eles.

Então eu vou cuidar da minha saúde. Não tenho plano de saúde e preciso ir a hospitais públicos para me tratar. Ontem mesmo eu passei quase 10 horas em um hospital público, aqui perto da minha casa em Itaipu, para conseguir fazer eletrocardiograma, RX de tórax e exame de sangue porque tenho sentido dores no peito. O resultado deu uma pequena alteração no Músculo Cardíaco. Então, caro amigo, eu vou sim continuar a lutar, mas agora tomando os devidos cuidados para não vir a ter uma doença grave que me mate de vez ou então que me deixe na cama aos cuidados da minha mulher que é uma grande mulher que até hoje me ajuda. Se não fosse ela a me ajudar eu já teria vendido a minha casa aqui em Itaipu e teria que morar em uma casa menor. Aliás, a grande maioria do nosso grupo vendeu bens adquiridos durante anos de trabalho na Varig para agora tentar sobreviver ou melhor passar por penúria e muita dor como disse a Exma. Senadora Ana Amélia no seu último pronunciamento no Plenário do Senado recentemente.

Me desculpe o desabafo, mas eu estou realmente decepcionado com a falta de coragem e garra do nosso grupo. Dói, caro amigo, assistir à passividade da grande maioria.

NÃO QUERO QUE NINGUÉM SE APIEDE DA MINHA SITUAÇÃO. O QUE EU QUERO É PARTICIPAÇÃO E LUTA. NÃO ADIANTA MEIA DÚZIA DE GATOS-PINGADOS LUTANDO POR MILHARES DE HOMENS E MULHERES QUE ME PARECEM ESTAR CADA VEZ MAIS CALADOS E QUIETOS ESPERANDO A MORTE CHEGAR.

Abraços fraternos do amigo que o estima muito,

Paulo Resende, 09-02-2012

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