Marcus Vinícius de Freitas
Recentemente, tive a
oportunidade de conversar com representantes de uma empresa norte-americana do
setor de saúde para analisar a viabilidade de iniciarem suas operações no
Brasil, num segmento de grande impacto, com métodos e desenvolvimentos
verdadeiramente revolucionários. Ao mostrarem os dados estatísticos, levantados
a muito custo, no setor, havia evidência cabal de que a importação dos
produtos, num primeiro momento, e a posterior abertura de operações no mercado
poderiam, de fato, resolver alguns dos inúmeros problemas de saúde existentes
no País.
Há alguns anos, tomaram a
decisão de construir uma operação no Brasil. Desistiram, em razão dos entraves
burocráticos. Recentemente, revisaram a decisão anterior e decidiram tentar
novamente. Incrivelmente, os entraves não somente eram os mesmos, como cresceram.
Citaram, por exemplo, a necessidade da visita de um inspetor da ANVISA à sede
da empresa no Exterior para verificação, com um custo associado a esta visita.
Este, no entanto, não é o problema. O grande entrave é o fato de não haver
funcionários suficientes para levar adiante a determinação estatal.
E a pergunta que não queria
calar durante o encontro: como é possível a sexta maior economia do mundo
comportar-se como um país de 4º mundo?
Outra situação: um
profissional, formado no Brasil, realizou estudos nas melhores universidades do
mundo. Ao retornar ao País, que tem enorme necessidade de talentos e
mão-de-obra qualificada, foi informado de que os seus títulos somente seriam
válidos após um processo um tanto complicado e demorado de revalidação dos
diplomas, sob o risco de não serem reconhecidos. Qual não foi o seu choque ao
ouvir que, no Brasil, seus títulos não valiam nada!
Algumas coisas são realmente
inexplicáveis. A pior coisa que existe é explicar o inexplicável. E o Brasil
está repleto de casos. Fazemos leis sem o devido aparato para suportar a
questão regulatória. Criamos requisitos absurdos, de natureza burocrática, e
não incentivamos o esforço e o mérito. Somos um país medíocre, onde não se
observa o desejo de mudar nada. Entramos no labirinto de Minotauro e seremos
devorados pela nossa incompetência. Pior ainda… Seremos devorados porque não
fazemos nada para, de fato, resolver as questões e nos tornarmos mais
competitivos.
Por que não fazemos nada? Em
primeiro lugar, porque temos vício de Estado. Achamos – erroneamente – que o
governo é a solução e não o problema. Gostamos de discutir incansavelmente
coisas inúteis. Quem olha para a pauta do Judiciário e do Executivo
brasileiros, certamente, pensará que todos os problemas do Brasil já foram
resolvidos, afinal, gastamos páginas e páginas, horas e horas discutindo Carlos
Cachoeira e Mensalão, que são o assunto do momento. Trata-se de algo fácil de
resolver. É só colocar na cadeia quem infringiu as regras. Só que as regras têm
que ser melhores e não mal feitas. Há coisas muito mais importantes a fazer no
Brasil. Será que enxergamos isso?
Em segundo, somos apaixonados
por burocracia. Tudo no Brasil é devagar porque requer muitos papéis, muitos
burocratas envolvidos. Para piorar, preservamos até segmentos de mercados para
serviços burocráticos. Quem não notou que para tudo, hoje em dia, precisamos de
um advogado? Ou de um despachante? Ou de um “facilitador”…? Ou até mesmo de uma
mãe de santo!?
Por fim, é preciso devolver
poder aos estados e aos indivíduos. Precisamos de mais Brasil e menos Brasília.
É absurdo querermos ter um país com uma legislação única, desconsiderando as
enormes diferenças, fatores e culturas regionais.
Flexibilizar deve ser um
objetivo sempre presente. Desburocratizar é o outro. Recordo-me saudoso de uma
das poucas ideias brilhantes do Presidente João Figueiredo, além da Anistia, ao
criar o Ministério da Desburocratização, ao final da década de 1970, com Hélio
Beltrão como Ministro… Lamentável notar que, depois de três décadas, o País
segue igual, senão muito pior. E muito mais caro e mais lento. E menos
competitivo.
Espero que o Governo não crie
mais um ministério para este fim. Seria mais burocracia. Ali Babá só tinha 40
assessores. Pelo jeito, o Estado brasileiro parece sempre precisar de mais.
Título e Texto: Marcus Vinícius de Freitas, Professor
de Direito e Relações Internacionais, FAAP, publicado no blogue do Instituto Liberal,
08-8-2012
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