quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ainda os estados de alma

Nuno Branco 

O Estado do país, é sabido, vai de mal a pior e o estado de alma dos portugueses teve uma grande viragem com as medidas anunciadas por Passos Coelho na última sexta que foram ampliadas ontem com a intervenção do Ministro das Finanças. Desde o anúncio do Primeiro- Ministro a ferramenta que mais tenho usado para acompanhar o espirito dos portugueses tem sido mesmo o facebook, consigo ter acesso ao que pensam os amigos, os amigos dos amigos, os colegas, os conhecidos e até aqueles que longe do meu circulo se dedicam a escrever nas páginas públicas dos actuais membros do governo e o sentimento, genericamente falando, vai de mal a pior.
Usando a tal rede social tenho visto um pouco de tudo, desde o insulto ligeiro (que até será merecido vista a forma como os governantes nos insultam a inteligência todos os dias) aos apelos à violência passando por ameaças veladas de revolução ou até o simples activismo de sofá com frases como “Portugal está de luto”… o que tem a sua verdade. Pelo menos o sonho socialista morreu.
E o meu próprio estado de alma? É um misto de tristeza com um de justiça cumprida, afinal de contas o país não tem nada mais do que aquilo que merece.
Eu vejo os protestos contra a TSU mas vejo muito poucos a queixar-se que ela subiu para 36%. Só vejo choramingas a queixarem-se da repartição mais igual que há agora entre empregado e empregador e eu, meus amigos, tenho pouca paciência para isto. Eu não vi esta gente preocupada com a TSU quando “o grande capital” andava a pagar 23,75% de TSU do bolso deles asfixiando as empresas que lutaram para construir para encher os bolsos do Estado. Mais, vi alguns destes que agora reclamam os 18% de descontos a pedir (com sucesso) uma taxa especial para os ricos que a classe política teve o mau gosto de chamar “taxa de solidariedade”. Temos um país que, a pedido dos portugueses, tem uma taxa de IRS de 46%… e os meninos queixam-se de uma TSU de 18% ? Cry me a river. Diz o povo que “ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão” e por esse prisma a pena de PPC deve ser mais leve do que muitos julgam.
Estamos a falar de um país que elegeu o penultimo Primeiro-Ministro com base num programa de governo que prometia o TGV entre outras loucuras financeiras. Isto não é brincadeira nem é passado longinquo. Isto aconteceu em Portugal apenas há 3 anos. Um país completamente alheado da realidade que o rodeava e por vontade própria, estas coisas não aconteceram sozinhas nem sem aviso prévio. Não há espelhos em casa dos portugueses? Mas nessa altura quem pagava a conta eram os ricos, portanto estava tudo bem. Passam a vida a gritar contra “o grande capital” e agora admiram-se que não há capital para investir no país? Que as empresas fecham em vez de abrir? E querem resolver isso como? Com uma manif anti-troika? Mas anda tudo bêbado? Acham que sem a troika o dinheiro cai do céu?
Anda um clueless na televisão a dizer que estas medidas são a favor do capital (que vai levar com outros impostos e vai perder clientes) sem a mínima noção do que está a dizer e há um português que se lembra de abrir uma página de apoio para elevar este ódio às empresas, de que o país precisa como de pão para a boca, a Primeiro Ministro? Estamos a falar da mesma pessoa que praticamente gozava o Medina Carreira quando este o avisava que o país estava falido. Perdeu tudo a cabeça?
Não, eu não consigo ter pena pena de Portugal. Fico triste por ver estes episódios mas pena não consigo ter. Um dia perguntaram a Francisco D’Anconia o que aconteceria ao mundo se continuasse na mesma trajectória de sempre e ele respondeu “Nada mais nem nada menos do que aquilo que o mundo merece”. E é esse o meu estado de alma, fiquem com o vosso que este país não tem emenda.
Título e Texto: Nuno Branco, O Insurgente, 13-9-2012

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