MP investigará suposto
conflito de interesses na escolha de cartório
A VRG Linhas Aéreas, empresa desmembrada da massa falida da Varig, é cliente do cartório onde trabalha a escrevente Ilka Regina Miranda, mulher do juiz responsável pela falência, Luiz Roberto Ayoub, titular da 1ª Vara Empresarial da capital. A própria Ilka, em 7 de novembro do ano passado, lavrou em nome do cartório, o 8º Ofício de Notas, uma procuração na qual a VRG constitui sete advogados, um do Rio e os demais de São Paulo. No site do cartório, são citados outros três clientes ligados à falência da Varig: a Fundação Ruben Berta, acionista controlador da empresa aérea, a consultoria Delloite, que administrou a fracassada recuperação judicial da Varig, e a Oliveira Trust, que participou do processo. Após saber da ligação, a 4ª Promotoria de Tutela Coletiva da capital decidiu instaurar inquérito civil ontem para investigar o suposto conflito de interesses envolvendo o juiz e sua mulher.
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Luiz Roberto Ayoub |
O Tribunal de Justiça também
vai investigar a existência do esquema, a pedido de Ayoub. Por envolver um
desembargador, o relator do processo administrativo será o próprio presidente
do TJ, desembargador Manoel Alberto Rebelo dos Santos.
— A apuração será a mais
transparente possível — afirmou o desembargador Luiz Fernando Carvalho, da
comissão mista de Comunicação do TJ.
Ilka, ex-dona de loja na
Tijuca, assumiu a função de escrevente do 8º Ofício, no Centro do Rio, em 2009,
quando o cartório foi assumido pelo tabelião Gustavo Bandeira, ex-juiz da 1ª
Vara Empresarial. Na época, seu marido já cuidava do processo da massa falida
da Varig. O 8º Ofício de Notas do Rio lavra as procurações e faz autenticações
de documentos para a empresa. Num processo como o da falência da Varig, que já
foi uma das maiores empresas do país, a burocracia movimenta milhões de reais.
Gestor diz desconhecer relação
A diretora do Sindicato
Nacional dos Aeronautas Graziela Baggio, que acompanha de perto a luta dos
ex-funcionários da companhia por seus direitos, pediu que o caso seja apurado.
— Os cerca de 150
trabalhadores que continuam na Varig estão bastante envolvidos em buscar uma
economia dos custos gerados durante a massa falida. Não sei se esse cartório é
mais barato, mais caro. Mas tem cartório que, de acordo com o movimento de
autenticação e etc, dá até um preço mais acessível. Isso tudo tem que ser
apurado.
Jaime Nader Canha, que assumiu a função de gestor judicial da Varig em outubro de 2010, disse não saber que Ilka Regina Miranda atua como escrevente das procurações da Varig.
— Não tenho ciência desse
assunto — limitou-se a dizer.
Por duas vezes, O GLOBO entrou
em contato com a substituta de tabelião do 8º Ofício de Notas do Rio, Andréa
Rozendo. Ela prometeu falar com o tabelião e retornar as ligações, mas não
cumpriu.
— Eu não posso me pronunciar.
Não conheço ela, não conheço o juiz. Chequei aqui (ao cartório) há pouco tempo.
O grupo Varig foi o primeiro
do país a pedir a recuperação judicial, em junho de 2005, quatro meses após a
promulgação da Lei de Falências. A empresa foi dividida em duas: a nova Varig,
que ficou com a marca e sem dívidas, e a velha Varig, que assumiu um passivo
estimado em R$ 7 bilhões. A nova Varig foi vendida, em 20 de julho de 2006,
para sua ex-subsidiária VarigLog, que a revendeu à Gol em março de 2007. Com
isso, a Gol passou a ter direito aos slots, que são as permissões para pousos e
decolagens nos aeroportos brasileiros. Diante da saturação dos terminais do
país, esses slots são cobiçados no setor. A antiga Varig, por sua vez, passou a
se chamar Flex em 2008 e seguiu em recuperação judicial. Sem gerar receita
suficiente, a aérea teve a sua falência decretada em agosto de 2010.
Estações de rádio serão
leiloadas nesta quarta-feira
Os ativos estão sendo leiloados
para pagar aos credores. Um centro de treinamento de aeronautas, na Ilha do
Governador, referência mundial, e estações de rádio operadas pela antiga Varig
para orientação de pousos e decolagens de várias empresas estão entre eles.
Hoje, haverá o leilão da dessas estações, no qual Jaime Nader Canha espera
arrecadar R$ 1,8 milhão. Em agosto do ano passado aconteceu a primeira
tentativa de vender o Flex Communication Center, mas o leilão terminou sem
interessados. A avaliação de R$ 1,8 milhão foi feita pela perícia da 1ª Vara
Empresarial do TJ. No total, a expectativa é arrecadar R$ 300 milhões com os
leilões dos bens da massa falida, sendo que a dívida da empresa giraria em
torno de R$ 18 bilhões.
Pela Lei de Falências,
prestadores de serviços para a massa falida têm preferência para receber, ou
seja, têm o dinheiro liberado antes do pagamento a todos os credores, inclusive
os que têm créditos trabalhistas. Quando a falência possui bens, mas não tem
dinheiro, os administradores trabalham inicialmente sem qualquer pagamento,
sabendo que, após os leilões, receberão remuneração, que pode chegar a 5% do
total dos ativos. Segundo fontes do Judiciário, uma das estratégias usadas por
administradores do esquema revelado pelo GLOBO para aumentar os ganhos seria
demorar a acabar com a falência para vazar dinheiro da massa falida.
Pais podre esse.....Até o judiciário fede.
ResponderExcluirComo Ex-Variguiano e Aeroviario por 36 anos ligado a Pioneira, lamento muito pelos meus parentes (filha, sobrinho),pelas dezenas de amigos e milhares de companheiros pela triste situação, contudo, algo de bom ainda vai acontecer para essas pessoas sofridas pelo descaso das autoridades dos Poderes que constituem a Nação.
ResponderExcluirNelson Schuler
Cada ano que passa, venho perdendo as esperanças. Não sei até quando suportarei esta espera angustiante.
ResponderExcluirParece piada, fazem o que querem com o dinheiro da extinta Varig. Dinheiro este, que deveria ser para indenizar ex trabalhadores, aposentados e pensionistas da Varig. Vão surrupiar.
A 1ª pessoa a levantar as fragilidades no plano de recuperação da Varig foi o advogado Luiz Leonardo Cantidiano (ex presidente da comissão de valores mobiliários - CVM). Entrei em contato na época com o Dr cantidiano através do email cantidiano@mfra.com.br
ResponderExcluir- O plano de recuperação não poderia prever prazo superior a 1 ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. Como o prazo não foi cumprido qualquer credor poderia solicitar a falência da Varig. Foi o que aconteceu. Um credor chamado D. L. A. (coloquei apenas as iniciais), pois o funcionário pediu-me para não revelar seu nome. Ele solicitou a falência, mas Ayoub ignorou a solicitação. A Varig vendeu para a VRG TUDO (o CHETA, os SLOTS, as HOTRANS, etc..) restando para a FLEX apenas 1 avião parado e uma rota inexpressiva. Tenho que concordar com o dr Cantidiano e o desembargador Jair Pontes de Almeida: Como a FLEX poderia se recuperar ficando com 1 avião parado e uma rota inexpressiva? Acho que para todos nós ficou claro que o plano de recuperação da Varig foi uma fraude. Será que o MP concordará com a nossa opinião?
Lina Alves