TV e mídia israelense têm especulado que o Irã convenceu Bashar al
Assad a desistir de armas químicas em troca da desistência dos EUA de efetuar
um “ataque punitivo” a Damasco, que seria realizado em meados deste ano.
A questão do uso de armas
químicas por Assad foi levantada nos contatos secretos entre EUA e Irã,
mantidos nos últimos meses em Omã, na Jordânia. Tais conversas começaram a ser
divulgadas pela mídia israelense através do canal 2 de TV na sexta-feira
passada. A emissora citou fontes de inteligência e de segurança de Israel que,
no entanto, fizeram questão de se manter no anonimato. Todas elas afirmam que
Obama desistiu da operação militar na Síria por ter sido influenciado por tais
contatos secretos com Teerã.
O relato televisivo especulou
que “o Irã convenceu Assad a concordar em desmantelar sua capacidade bélica
química em troca de Obama não realizar o ataque planejado”.
A matéria sublinha as
preocupações dos judeus – ratificadas com insistência pelo Primeiro-Ministro
israelense Benjamin Netanyahu – de que o Irã está ludibriando os EUA sobre suas
intenções, apenas aparentemente moderadas, e que os EUA estão sendo enganados
em relação às atitudes pretensamente amigáveis do novo governo iraniano, em
função do que Israel está se tornando gradualmente isolado em sua oposição
inflexível em relação ao programa nuclear iraniano.
O mesmo programa de TV também
citou funcionários anônimos do governo israelense que supostamente denunciavam
Obama por estar a descuidar das negociações nucleares de Genebra, com o
resultado do fato de que o Irã ter atribuído a si mesmo o "direito"
de enriquecer urânio e que a pressão das sanções econômicas impostas pelo
Conselho de Segurança da ONU contra o Irã estivesse entrando em colapso.
A administração Obama, na
semana passada, reconheceu esse “direito” depois de meses de negociações
secretas com o Irã antes do desonesto acordo provisório sobre o programa
nuclear persa, que foi assinado na semana passada pelo grupo P5+1 e pelo Irã em
Genebra. O presidente americano, segundo a matéria que foi ao ar, teria
informado Netanyahu desses contatos por ocasião da visita do dirigente judeu à
Casa Branca no final de setembro, logo depois que eles se tornaram
"substantivas".
Relatos israelenses afirmaram
que o canal privativo dessas conversações passou a funcionar muito antes da
data admitida pela Casa Branca, tendo o Primeiro-Ministro transmitido ao
presidente americano a sua estranheza e desgosto por não ter sido inteirado
delas desde o efetivo início desses contatos.
A matéria que foi ao ar na
sexta-feira passada pelo Canal 2, de Tel Aviv, lembrou que o governo Obama
tinha tanta certeza de que suas forças estavam prestes a atacar a Síria no
final de agosto, pela crise das armas químicas, que autoridades americanas
telefonaram para o Primeiro-Ministro e para o Ministro da Defesa de Israel para
dar-lhes um "prévio aviso" do ataque que estava prestes a ocorrer. Os
telefonemas foram feitos logo após o secretário de Estado, John Kerry, ter
acusado o regime de Assad de genocídio e fratricídio em massa com armas
químicas proibidas pela Convenção de Genebra, em 31 de agosto. O fato resultou
em morte de 1.429 sírios, a quase totalidade de civis e a maioria de mulheres e
crianças. Os líderes israelenses disseram, na ocasião, explicitamente, que os
EUA iriam desencadear ações militares punitivas contra o regime de Assad, então,
em 24 a 48 horas. A desistência da iniciativa por parte do Pentágono e de
Washington fez parecer com que o governo israelense passasse como boateiro.
No programa da TV israelense,
Kerry surge como tendo telefonado pessoalmente aos líderes judeus para informá-los
sobre o ataque iminente, e mostrou o secretário de Relações Exteriores, William
Hague, da Grã-Bretanha, também comunicando o mesmo fato por telefone. As
chamadas foram feitas para que Israel pudesse tomar medidas profiláticas de
defesa contra qualquer potencial retaliação síria que pudesse atingir o estado
judeu.
Na verdade, entretanto, Obama
para surpresa geral, em 1 de setembro último, anunciou que iria pedir
autorização do Congresso para efetuar um ataque à Síria. Em última análise,
Obama não realizou a ação estrita, punitiva, que tinha dito ter planejado e
decidido levar a cabo, e, ao invés disso, acabou concordando com a iniciativa
liderada pela Rússia de se tentar uma solução diplomática destinada a deixar
Assad privado de suas armas químicas.
A mídia israelense, de fato,
trouxe à tona a estória de que os EUA e o Irã mantêm conversações e consultas
secretas há vários anos, desde meados do mandato presidencial de Mahamoud
Ahmadinejad, e que essas conversas levaram a uma série de libertações de
prisioneiros de ambas as partes, mostrando que essas conversas entre cúpulas
têm servido de ponte para superar o abismo diplomático que existia entre os
dois países.
A mais dramática dessas
solturas de prisioneiros, ocorreu em abril último, quando os EUA libertaram um
destacado cientista iraniano, Mojtaba Atarodi, que tinha sido preso em 2011
quando tentava adquirir uma série de equipamentos que poderiam ser utilizados
para o desenvolvimento nuclear militar iraniano.
Os israelenses pareciam querer
o ataque a Damasco, intencionado pelos americanos; mas não só a inteligência
israelense como também a inteligência americana, sabem que, “derrubar Assad ou
enfraquecê-lo demais seria propiciar a Irmandade Muçulmana – que quer a
formação de mais uma república islâmica xiita na Síria – a chegar ao poder”. E
isso não interessa nem a Tel Aviv, nem a Washington e, de certa forma, também
não a Moscou que rivaliza com o Irã a extensão de sua influência no Oriente
Médio.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 01-12-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-