Entenda o novo front jihadista
sunita sírio-iraquiano no Oriente Médio.
Francisco Vianna
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29 de junho de 2014: Um
militante armado leal Estado Islâmico do Iraque e Síria, também chamado de
'LEVANTE' (ISIS) agita a bandeira negra do grupo terrorista em Raqqa, no Iraque.
Foto: Reuters
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Os líderes de uma ‘franquia’
da Al Qaeda, que tomaram vastas áreas do noroeste do Iraque e áreas de
fronteira da Síria, declararam a criação de um “estado islâmico” jihadista para
essa região e exigiram fidelidade de todos os muçulmanos que ali vivem.
Numa declaração de áudio,
postada on-line, que coincidiu com o primeiro dia do mês sagrado muçulmano do
‘Ramadã’, um porta-voz do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), também
conhecido como “Levante”, anunciou que o líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi,
foi declarado "califa " (líder) de um “estado cujo território se
estende desde a cidade de Aleppo, no noroeste da Síria, para a província de
Diyala, no nordeste do Iraque.
O porta-voz, Abu Muhammad
al-Adnani, descreveu al-Baghdadi como "o imã e khalifah (califa) para os
muçulmanos em todos os lugares". Ele também disse que, com o
estabelecimento do califado, o grupo foi mudando seu nome para apenas o Estado
Islâmico do Jraque e Síria (IRIS), deixando cair a menção do ‘Levante’.
"A legalidade de todos os
emirados, grupos, estados e organizações torna-se nula pela expansão da
autoridade do califa e a chegada de suas tropas para as suas áreas",
continuou al-Adnani. "Ouça o seu califa e obedeça-o. Apoie seu estado, que
cresce a cada dia".
Extremistas muçulmanos de há
muito sonhavam em recriar um estado islâmico, ou califado, que governasse o
Oriente Médio, grande parte do Norte de África e além, de várias formas, ao
longo dos 1.400 anos de história do Islã. Mas, os especialistas preveem que
essa declaração poderá anunciar novas lutas internas entre os militantes
sunitas que se juntaram forças para “criar” esse Estado islâmico em sua luta
contra os governos liderado pelos xiitas.
Não se sabe como esse estado funcionaria, uma
vez que não existe, na área, por enquanto uma atividade econômica capaz de
gerar um PIB, suficiente para mantê-lo. Esse e, por sinal, o problema maior que
vivem os palestinos de Gaza e da Cisjordânia para criarem seu “estado
palestino”, uma vez que a Autoridade Palestina é um arremedo de estado que só
sobrevive a custa de dinheiro vindo do exterior via ONU e não tem capacidade
sequer de resolver suas pendências entre os principais grupos palestinos: o
HAMAS que “governa” a Faixa de Gaza e o Fatah, que “governa” comunidades
palestinas da Cisjordânia e periferia de Jesusalém.
O “estado islâmico” é
constituído por muçulmanos extremistas e todos eles têm uma característica em
comum, mesmo não sendo árabes, como o Irã, por exemplo, que é o de levar
adiante o “jihad” ou “guerra santa aos infiéis” – sendo que os infiéis e
“inimigos do Islã” são todos os que não professam a fé maometana, e
principalmente os que não professam religião alguma.
"Agora, os insurgentes
sunitas do Iraque não têm mais desculpa para não trabalhar com o ISIS, a não
ser que estejam esperando dividir o poder com esse grupo", disse o
analista Aymenn al-Tamimi, especializado em militantes islâmicos no Iraque e na
Síria à agência de notícias Associated Press. "Uma perspectiva de luta
interna no Iraque está a aumentar, com certeza".
O maior impacto, no entanto,
poderá vir a ocorrer sobre o movimento jihadista internacional, mais amplo, em
especial, sobre o futuro da Al Qaeda. Fundada por Osama bin Laden, o grupo que
realizou os ataques de 11 de setembro os EUA, há muito tempo carrega o manto da
causa jihadista internacional. Mas o Estado Islâmico conseguiu fazer, na Síria
e no Iraque, com que a Al Qaeda nunca possa esculpir uma grande faixa de
território no coração do mundo árabe e, então, controlá-la.
"O anúncio da criação do
ISIS representa uma enorme ameaça para a Al Qaeda e sua posição de longa data
na liderança da causa jihadista internacional", disse Charles Lister, um
pesquisador visitante do Brookings Doha Center, em comentários por e-mail.
"Globalmente, a geração mais jovem da “comunidade jihadista” está se
voltando cada vez mais para o apoio de Estados Islâmicos, em grande parte, pela
lealdade de seus membros e a capacidade comprovada de alcançar resultados
rápidos através de brutalidade e da violência suicida".
Al-Baghdadi, um militante
iraquiano ambicioso, que tem uma recompensa de dez milhões de dólares pela sua
cabeça, tomou as rédeas do ISIS em 2010, quando este era ainda um grupo
“franqueado” da Al Qaeda com base no Iraque.
Al-Baghdadi tem estado também por muito tempo em desacordo com o líder
da Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, e os dois tiveram uma forte altercação depois
que al-Baghdadi ignorou as exigências de al-Zawahri, de que o Estado islâmico
deixasse a Síria e restringisse sua ação apenas no Iraque. Farto da
desobediência de al-Baghdadi e incapaz de controlá-lo, al-Zawahri desaprovou
formalmente o ISIS em fevereiro de 2011.
Mas, a estatura de al-Baghdadi
só tem crescido desde então, na medida em que os combatentes do ISIS
conseguiram fortalecer seu controle sobre grande parte da Síria, e agora se
estendendo por uma grande faixa de território do nordeste do Iraque (vide mapa).
Em Washington, a administração
Obama pediu que a comunidade internacional se unisse em face da ameaça
representada pelos extremistas sunitas. "A estratégia do ISIS para
desenvolver o tal ‘califado’ em toda a região da Mesopotâmia tem sido clara há
algum tempo e é por isso que este momento passa a ser crítico para a comunidade
internacional se unir contra o ISIS e os
avanços que fez a custa de muitos assassinatos", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki.
A declaração de criação do
ISIS vem quando o governo iraquiano tenta recuperar parte do território que
perdeu para esse grupo jihadista e seus aliados nas últimas semanas. No
domingo, helicópteros de combate do Iraque golpearam posições supostamente
‘rebeldes’ pelo segundo dia consecutivo, na cidade de Tikrit, a cidade natal,
predominantemente sunita, do ex-ditador enforcado Saddam Hussein.
Os insurgentes parecem ter
repelido o ataque inicial dos militares iraquianos contra Tikrit, e
permaneceram no controle da cidade no domingo, mas os confrontos estavam
ocorrendo no bairro norte de Qadissiyah, conforme relato de dois moradores,
pelo telefone.
Muhanad Saif al-Din, que mora
no centro da cidade, disse que podia ver a fumaça subindo de Qadissiyah, que
faz fronteira com a Universidade de Tikrit, onde as tropas trazidas de
helicóptero estabeleceram uma cabeça de ponte há dois dias. Ele disse que
muitos dos militantes mobilizados vieram da periferia da cidade, aparentemente
para neutralizar o ataque militar das forças do Iraque.
Jawad al-Bolani, um oficial de
segurança no comando provincial da operação, disse à Associated Press que os
EUA estavam compartilhando informações com o governo do Iraque e que têm
desempenhado um papel "essencial" na ofensiva a Tikrit.
Washington também enviou 180
de 300 soldados americanos e o Presidente Barack Obama prometeu ajudar as
forças iraquianas. Os EUA também estão dispondo de aeronaves tripuladas e não
tripuladas (drones) em missões de reconhecimento sobre o Iraque.
Título e Texto: Francisco
Vianna, (da mídia internacional), 14-08-2014
Leitura complementar:
Meet
the Kurds, a Historically Oppressed People Who Will Get Their Own State
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