quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Militantes sunitas declaram a criação do ISIS (Islamic State of Irak and Syria)

Entenda o novo front jihadista sunita sírio-iraquiano no Oriente Médio.
Francisco Vianna

29 de junho de 2014: Um militante armado leal Estado Islâmico do Iraque e Síria, também chamado de 'LEVANTE' (ISIS) agita a bandeira negra do grupo terrorista em Raqqa, no Iraque. Foto: Reuters

Os líderes de uma ‘franquia’ da Al Qaeda, que tomaram vastas áreas do noroeste do Iraque e áreas de fronteira da Síria, declararam a criação de um “estado islâmico” jihadista para essa região e exigiram fidelidade de todos os muçulmanos que ali vivem.
Numa declaração de áudio, postada on-line, que coincidiu com o primeiro dia do mês sagrado muçulmano do ‘Ramadã’, um porta-voz do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), também conhecido como “Levante”, anunciou que o líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi, foi declarado "califa " (líder) de um “estado cujo território se estende desde a cidade de Aleppo, no noroeste da Síria, para a província de Diyala, no nordeste do Iraque.

O porta-voz, Abu Muhammad al-Adnani, descreveu al-Baghdadi como "o imã e khalifah (califa) para os muçulmanos em todos os lugares". Ele também disse que, com o estabelecimento do califado, o grupo foi mudando seu nome para apenas o Estado Islâmico do Jraque e Síria (IRIS), deixando cair a menção do ‘Levante’.

"A legalidade de todos os emirados, grupos, estados e organizações torna-se nula pela expansão da autoridade do califa e a chegada de suas tropas para as suas áreas", continuou al-Adnani. "Ouça o seu califa e obedeça-o. Apoie seu estado, que cresce a cada dia".

Extremistas muçulmanos de há muito sonhavam em recriar um estado islâmico, ou califado, que governasse o Oriente Médio, grande parte do Norte de África e além, de várias formas, ao longo dos 1.400 anos de história do Islã. Mas, os especialistas preveem que essa declaração poderá anunciar novas lutas internas entre os militantes sunitas que se juntaram forças para “criar” esse Estado islâmico em sua luta contra os governos liderado pelos xiitas.

Não se sabe como esse estado funcionaria, uma vez que não existe, na área, por enquanto uma atividade econômica capaz de gerar um PIB, suficiente para mantê-lo. Esse e, por sinal, o problema maior que vivem os palestinos de Gaza e da Cisjordânia para criarem seu “estado palestino”, uma vez que a Autoridade Palestina é um arremedo de estado que só sobrevive a custa de dinheiro vindo do exterior via ONU e não tem capacidade sequer de resolver suas pendências entre os principais grupos palestinos: o HAMAS que “governa” a Faixa de Gaza e o Fatah, que “governa” comunidades palestinas da Cisjordânia e periferia de Jesusalém.

Mapa da região mostrando a área de atuação do grupo radical islâmico ISIS que cruza a Mesopotâmia.

O “estado islâmico” é constituído por muçulmanos extremistas e todos eles têm uma característica em comum, mesmo não sendo árabes, como o Irã, por exemplo, que é o de levar adiante o “jihad” ou “guerra santa aos infiéis” – sendo que os infiéis e “inimigos do Islã” são todos os que não professam a fé maometana, e principalmente os que não professam religião alguma.

"Agora, os insurgentes sunitas do Iraque não têm mais desculpa para não trabalhar com o ISIS, a não ser que estejam esperando dividir o poder com esse grupo", disse o analista Aymenn al-Tamimi, especializado em militantes islâmicos no Iraque e na Síria à agência de notícias Associated Press. "Uma perspectiva de luta interna no Iraque está a aumentar, com certeza".

O maior impacto, no entanto, poderá vir a ocorrer sobre o movimento jihadista internacional, mais amplo, em especial, sobre o futuro da Al Qaeda. Fundada por Osama bin Laden, o grupo que realizou os ataques de 11 de setembro os EUA, há muito tempo carrega o manto da causa jihadista internacional. Mas o Estado Islâmico conseguiu fazer, na Síria e no Iraque, com que a Al Qaeda nunca possa esculpir uma grande faixa de território no coração do mundo árabe e, então, controlá-la.

"O anúncio da criação do ISIS representa uma enorme ameaça para a Al Qaeda e sua posição de longa data na liderança da causa jihadista internacional", disse Charles Lister, um pesquisador visitante do Brookings Doha Center, em comentários por e-mail. "Globalmente, a geração mais jovem da “comunidade jihadista” está se voltando cada vez mais para o apoio de Estados Islâmicos, em grande parte, pela lealdade de seus membros e a capacidade comprovada de alcançar resultados rápidos através de brutalidade e da violência suicida".

Al-Baghdadi, um militante iraquiano ambicioso, que tem uma recompensa de dez milhões de dólares pela sua cabeça, tomou as rédeas do ISIS em 2010, quando este era ainda um grupo “franqueado” da Al Qaeda com base no Iraque.  Al-Baghdadi tem estado também por muito tempo em desacordo com o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, e os dois tiveram uma forte altercação depois que al-Baghdadi ignorou as exigências de al-Zawahri, de que o Estado islâmico deixasse a Síria e restringisse sua ação apenas no Iraque. Farto da desobediência de al-Baghdadi e incapaz de controlá-lo, al-Zawahri desaprovou formalmente o ISIS em fevereiro de 2011.

Mas, a estatura de al-Baghdadi só tem crescido desde então, na medida em que os combatentes do ISIS conseguiram fortalecer seu controle sobre grande parte da Síria, e agora se estendendo por uma grande faixa de território do nordeste do Iraque (vide mapa).

Em Washington, a administração Obama pediu que a comunidade internacional se unisse em face da ameaça representada pelos extremistas sunitas. "A estratégia do ISIS para desenvolver o tal ‘califado’ em toda a região da Mesopotâmia tem sido clara há algum tempo e é por isso que este momento passa a ser crítico para a comunidade internacional se unir contra o ISIS  e os avanços que fez a custa de muitos assassinatos", disse o porta-voz  do Departamento de Estado, Jen Psaki.

A declaração de criação do ISIS vem quando o governo iraquiano tenta recuperar parte do território que perdeu para esse grupo jihadista e seus aliados nas últimas semanas. No domingo, helicópteros de combate do Iraque golpearam posições supostamente ‘rebeldes’ pelo segundo dia consecutivo, na cidade de Tikrit, a cidade natal, predominantemente sunita, do ex-ditador enforcado Saddam Hussein.

Os insurgentes parecem ter repelido o ataque inicial dos militares iraquianos contra Tikrit, e permaneceram no controle da cidade no domingo, mas os confrontos estavam ocorrendo no bairro norte de Qadissiyah, conforme relato de dois moradores, pelo telefone.

Muhanad Saif al-Din, que mora no centro da cidade, disse que podia ver a fumaça subindo de Qadissiyah, que faz fronteira com a Universidade de Tikrit, onde as tropas trazidas de helicóptero estabeleceram uma cabeça de ponte há dois dias. Ele disse que muitos dos militantes mobilizados vieram da periferia da cidade, aparentemente para neutralizar o ataque militar das forças do Iraque.

Jawad al-Bolani, um oficial de segurança no comando provincial da operação, disse à Associated Press que os EUA estavam compartilhando informações com o governo do Iraque e que têm desempenhado um papel "essencial" na ofensiva a Tikrit.

Washington também enviou 180 de 300 soldados americanos e o Presidente Barack Obama prometeu ajudar as forças iraquianas. Os EUA também estão dispondo de aeronaves tripuladas e não tripuladas (drones) em missões de reconhecimento sobre o Iraque.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 14-08-2014

Leitura complementar:
Meet the Kurds, a Historically Oppressed People Who Will Get Their Own State
While Hamas fires rockets, and ISIS beheads unbelievers, the Kurds build the second non-Arab state in the Middle East

http://www.tabletmag.com/jewish-news-and-politics/182042/kurdish-independence?utm_source=tabletmagazinelist&utm_campaign=604cda1ec1-Thursday_August_14_20148_14_2014&utm_medium=email&utm_term=0_c308bf8edb-604cda1ec1-207197641

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-