Tramita no Tribunal Internacional
de Haia ação criminal contra Maduro por crimes de lesa-humanidade
Francisco Vianna
A Promotoria da Corte Penal Internacional (CPI) de
Haia iniciou o estudo de uma denúncia apresentada por mais de 300 deputados e
senadores da Espanha e da América
Latina, que acusam a cúpula do regime bolivariano herdado por Nicolás
Maduro do falecido Hugo Chávez Frías, de crimes de lesa-humanidade durante a cruenta
repressão das manifestações deste ano.
A mesma denúncia, que também
acusa o regime de manipular e aparelhar o sistema judicial venezuelano como instrumento de perseguição
política, atribui ao chavezismo uma série de violações dos direitos fundamentais
da pessoa humana que teriam sido perpetradas pelos “corpos de segurança”
(inclusive milícias paramilitares) do chavezismo durante a feroz repressão aos
manifestantes que deixou este ano mais de quarenta mortos, centenas de feridos,
milhares de prisões e dezenas de casos documentados de tortura.
A denúncia tinha sido
apresentada em abril pelos legisladores, agrupados sob a Aliança Parlamentar
Democrática da América (APDA), organização constituída por deputados e
senadores da América ibérica, interessados em promover os direitos humanos e os valores
democráticos. Numa carta dirigida à Aliança, o chefe da Unidade de Informação e Evidência do
Escritório do Promotor da Corte Penal Internacional, Mark Dillon, notificou os
legisladores que seu escritório tinha iniciado a etapa de interrogatórios
preliminares.
“Sob o artigo 53 do estatuto de Roma, o promotor deve considerar se
existe uma base razoável para crer que foram cometidos crimes dentro da
jurisdição da Corte, a gravidade desses crimes e se o sistema nacional está ou não investigando e processando os
crimes relevantes no interesse da justiça”, escreveu Dillon na notificação
dirigida ao presidente da APDA, o deputado boliviano Adrián Oliva. “A análise será feita com a maior celeridade
possível, mas, por favor, tenha em conta que uma análise significativa desses
fatores poderá levar algum tempo”, acrescentou o Promotor.
Já Oliva explicou da Bolívia
que a comunicação emitida pela Promotoria da CPI é o prelúdio de uma eventual
investigação por parte da Corte sobre as graves violações dos direitos humanos que estão sendo
perpetradas na Venezuela.
Um dos objetivos da CPI é o de
verificar se na Venezuela existem tribunais que estejam averiguando e
tramitando ações públicas, populares ou não, de modo natural e processual
habitual e as estejam processando para apurar responsabilidades de crimes pelas
graves denúncias de violações aos direitos humanos no país durante o período
mencionado.
No entanto, os legisladores
argumentaram em sua denúncia que isso não é possível ocorrer diante da falta de
independência do poder judiciário na
Venezuela, onde Maduro dá “instruções aos promotores”, em público, para que
processem judicialmente os seus oposicionistas.
As provas enviadas pelos
denunciantes incluem testemunhos e material recolhido durante as manifestações
que mostram como os agentes dos organismos de segurança e integrantes de
milícias paramilitares vinculadas ao chavezismo utilizaram armas de fogo contra
os manifestantes. Várias ONGs, incluindo a Human Rights Watch, emitiram uma série de informes sobre a
sistemática violação dos direitos humanos na Venezuela, que incluem o uso
frequente da tortura contra dissidentes.
A decisão da Promotoria de dar
início ao exame do caso venezuelano ocorre em meio de uma recente onda de
sinalizações e acusações de que o regime de Maduro está se tornando cada vez mais repressivo. Essas
violações estão distanciando a “Revolução Bolivariana” sob o mando de
Maduro frente do que era
quando seu fundador, Hugo Chávez, estava vivo.
O ex-embaixador da Venezuela
junto à ONU, Diego Arria, ressaltou que ainda quando Chávez acumulou um enorme
poder e encarcerou arbitrariamente seus opositores, sempre cuidou de “manter as
aparências” dando aos casos uma conformação legal. Isso, no entanto, não está
acontecendo agora com Maduro, cujo governo adquire cada vez mais
características ditatoriais, comentou Arria, de Nova Iorque. “Não se pode mais
dizer que a Venezuela seja uma democracia, pois está sob um regime
militarizado, onde mais da metade dos ministros são militares, onde os
vice-ministros são militares ou obedecem instruções de militares cubanos
investidos de mais força decisória que eles, e os presidentes das empresas
estatais de uma economia francamente estatizada também o são”, disse o
diplomata. “A Venezuela é o exemplo do que são as novas ditaduras do Século XXI, que mal têm uma roupagem institucional democratóide”, receita
infalível para o caos, o retrocesso e o atraso.
Ainda assim, Maduro, com a
repressão que exercita sob aconselhamento cubano, está se despindo de toda a
roupagem institucional que possa fazer seu país sequer parecer uma democracia.
“Está a fazer um striptease antidemocrático”,
afirmou Arria.
Ao conjunto de denúncias, das
ONGs e dos legisladores ibero-americanos está se somando o coro de vozes que
advertem a comunidade
internacional de que “o imperador está nu”, acrescentou o ativista
democrático Luis Monch, cuja ONG ‘UNOAMERICA’, tem respaldado os esforços da
APDA junto à CPI de Haia. “Está havendo a conscientização da comunidade
internacional com relação à sistemática violação dos direitos humanos na
Venezuela”, destacou Monch.
A cúpula do politburo de
Caracas parece estar pouco se lixando para o que decidir a Corte Penal
Internacional de Haia, assim como já cansaram de fazer os irmãos Castro em
Cuba. Talvez sejam a hora e a vez de mudar essa estória medonha, pois o que o
mundo menos precisa hoje é de instituições figurativas de “faz de contas”.
Título e Texto: Francisco
Vianna, (da mídia internacional), 24-9-2014
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