Reinaldo Azevedo
A estupidez da política
externa brasileira não reconhece limites.
Não recua diante de nada.
Não recua diante de cabeças
cortadas.
Não recua diante de
fuzilamentos em massa.
Não recua diante da
transformação de mulheres em escravas sexuais.
Não recua diante do êxodo de
milhares de pessoas para fugir dos massacres.
Não recua diante da conversão
de crianças em assassinos contumazes.
A delinquência intelectual e
moral da política externa brasileira, sob o regime petista, não conhece
paralelo na nossa história.
A delinquência intelectual e
moral da política externa brasileira tem poucos paralelos no mundo — situa-se
abaixo, hoje, de estados quase-párias, como o Irã e talvez encontre rivais à
baixura na Venezuela, em Cuba e na Coreia do Norte.
Nesta terça, na véspera de
fazer o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, a ainda
presidente do Brasil fez o impensável, falou o nefando, ultrapassou o limite da
dignidade. Ao comentar os ataques dos Estados Unidos e aliados às bases do
grupo terrorista Estado Islâmico, na Síria, disse a petista:
“Lamento enormemente isso
(ataques aéreos na Síria contra o EI). O Brasil sempre vai acreditar que a
melhor forma é o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU. Eu não acho que
nós podemos deixar de considerar uma questão. Nos últimos tempos, todos os
últimos conflitos que se armaram tiveram uma consequência: perda de vidas
humanas dos dois lados. Agressões sem sustentação aparentemente podem dar
ganhos imediatos, mas, depois, causam prejuízos e turbulências. É o caso do
Iraque, está lá provadinho. Na Líbia, a consequência no Sahel. A mesma coisa na
Faixa de Gaza. Nós repudiamos sempre o morticínio e a agressão dos dois lados.
E, além disso, não acreditamos que seja eficaz. O Brasil é contra todas as
agressões. E, inclusive, acha que o Conselho de Segurança da ONU tem de ter
maior representatividade, para impedir esta paralisia do Conselho diante do
aumento dos conflitos em todas as regiões do mundo”.
Nunca a política externa
brasileira foi tão baixo. Trata-se da maior coleção de asnices que um chefe de
estado brasileiro já disse sobre assuntos internacionais.
A fala de Dilma é moralmente
indigna porque se refere a “dois lados do conflito”, como se o Estado Islâmico,
um grupo terrorista fanaticamente homicida, pudesse ser considerado “um lado” e
como se os EUA, então, fossem “o outro lado”.
A fala de Dilma é
estupidamente desinformada porque não há como a ONU mediar um conflito quando é
impossível levar um dos lados para a mesa de negociação. Com quem as Nações Unidas
deveriam dialogar? Com facínoras que praticam fuzilamentos em massa?
A fala de Dilma é
historicamente ignorante porque não reconhece que, sob certas circunstâncias,
só a guerra pode significar uma possibilidade de paz. Como esquecer — mas ela
certamente ignora — a frase atribuída a Churchill quando Chamberlain e
Daladier, respectivamente primeiros-ministros britânico e francês, celebraram
com Hitler o “Pacto de Munique”, em 1938? Disse ele: “Entre a desonra e a
guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”.
A fala de Dilma é
diplomaticamente desastrada e desastrosa porque os EUA lideram hoje uma
coalizão de 40 países, alguns deles árabes, e conta com o apoio do próprio
secretário-geral da ONU, Ban ki-Moon.
A fala de Dilma é um sarapatel
de ignorâncias porque nada une — ao contrário: tudo desune — os casos do
Iraque, da Líbia, da Faixa de Gaza e do Estado Islâmico. Meter tudo isso no
mesmo saco de gatos é coisa de uma mente perturbada quando se trata de debater
política externa. Eu, por exemplo, critiquei aqui — veja arquivo — a ajuda que
o Ocidente deu à queda de Muamar Kadafi, na Líbia, e o flerte com os grupos que
se organizaram contra Bashar Al Assad, na Síria, porque avaliava que, de fato,
isso levaria a uma desordem que seria conveniente ao terrorismo. Meus posts
estão em arquivo. Ocorre que, hoje, os terroristas dominam um território
imenso, provocando uma evidente tragédia humanitária.
A fala de Dilma é coisa, de
fato, de um anão diplomático, que se aproveita de uma tragédia para, uma vez
mais, implorar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança de ONU. O
discursso da presidente do Brasil só prova por que o país, infelizmente, não pode
e não deve ocupar aquele lugar. Não enquanto se orientar por critérios tão
estúpidos.
Ao longo dos 12 anos de
governos do PT, muita bobagem se fez em política externa. Os petistas, por
exemplo, condenaram sistematicamente Israel em todos os fóruns e se calaram
sobre o terrorismo dos palestinos e dos iranianos. Lula saiu se abraçando com
todos os ditadores muçulmanos que encontrou pela frente — incluindo, sim, o já
defunto Kadafi e o antissemita fanático Mahmoud Ahmadinejad, ex-presidente do
Irã. Negou-se a censurar na ONU o ditador do Sudão, Omar al-Bashir, que
responde pelo assassinato de 400 mil cristãos. O Brasil tentou patrocinar dois
golpes de estado — em Honduras e no Paraguai —, que depuseram legitimamente
seus respectivos presidentes. Endossou eleições fraudadas na Venezuela, deu
suporte ao tirano Hugo Chávez e ignorou o assassinato de opositores nas ruas,
sob o comando de um louco como Nicolás Maduro.
E, como se vê, ainda não era
seu ponto mais baixo. Dilma, nesta terça, deu o seu melhor. E isso quer dizer,
obviamente, o seu pior. A vergonha da política externa brasileira, a partir de
agora, não conhece mais fronteiras.
Pois eu faço um convite: vá
lá, presidente, negociar com o Estado Islâmico. Não será por falta de preparo
que Vossa Excelência não chegará a um bom lugar.
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