Quando vi fotografias de um
dos primeiros conjuntos habitacionais, tive uma sensação desagradável. Casas
iguais, retilíneas, monótonas, deram-me a impressão de um cemitério de soldados
mortos em combate. O leitor certamente conhece conjuntos assim, que a sabedoria
popular denomina Vila Moscou, mas o marketing oficial disfarça como Minha casa,
minha dívida.
Muito tempo depois, uma funcionária de setor sob a minha direção, dotada com poucos recursos financeiros, mas profundamente religiosa, pediu-me conselho para decidir sobre a compra de um imóvel como esses. Fiz algumas perguntas para avaliar a capacidade de pagamento, distância, facilidade de transporte, e lhe dei uma opinião afirmativa. Após o fim de semana dedicado a visitar o imóvel, informou-me que desistira, e o único motivo era este: É tudo igual, sem personalidade. Custei a acreditar na decisão, mas nem precisei perguntar o que ela entendia por personalidade, pois conhecia bem sua disposição para trabalhar e progredir, não se limitando a uma vida estagnada, sem esperança e sem objetivos mais altos. Concluí que ela estava absolutamente certa, pois não lhe interessava apenas um local tipo “salário mínimo” ou “cesta básica”, igual para todos, com o essencial para continuar vivendo.
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Em Moscou, conjunto habitacional que está sendo abandonado pelos moradores |
Pessoas como essa funcionária
simples e trabalhadora não se conformam com a estagnação, querem sempre
progredir, melhorar a situação da família. Admiram sem inveja o que pertence a outros,
e querem dar aos filhos o melhor possível. O contrário disso predominava na
Rússia soviética, onde uma igualdade imposta, ditatorial, impedia qualquer
esperança de progresso, tolhia os esforços e iniciativas pessoais.
A propaganda esquerdista mostrava os países comunistas em franco progresso, mas essa sinfonia midiática nunca enganou algumas pessoas que conheci. Nenhuma surpresa elas tiveram quando degringolou o comunismo, revelando a real situação de miséria. De onde provinha essa certeza de uma Rússia em condições econômicas precárias, quando a imprensa insistia em informar o contrário? É que conheciam bem a psicologia popular, marcada por este raciocínio simples e lógico: Se não me deixam progredir, por que vou me esforçar, trabalhar mais? Nosso povo diz a mesma coisa em verso: Plantando dá / não plantando dão / Pra que plantar? / Não planto não!

Entre os conceitos antinaturais do comunismo, são especialmente nocivos os de caráter igualitário, cuja intenção não é reduzir ou eliminar desigualdades injustas, qualquer desigualdade é motivo para choramingos esquerdófonos. Ultimamente estão no foco da mídia as desigualdades até nos países mais abertos ao progresso de quem quer progredir e trabalha para isso. No atual governo esquerdista dos Estados Unidos, avaliado como o pior em mais de um século, a propaganda oficial batuca na tecla de reduzir as desigualdades. Confirma assim o que disse outro presidente americano: Comunistas são os que leram Marx, gostaram mas não entenderam; anticomunistas são os que leram Marx, entenderam e não gostaram.
Posso afirmar, sem ter
perguntado, que aquela minha funcionária nunca perdeu tempo lendo Marx nem
outros escritores que lhe erguem altares. Se perguntasse, ela entenderia que
falei de um colega chamado Marques, e estranharia que ele tivesse escrito um
livro. Não deve também ter lido São Tomás de Aquino, mas pensava como ele, pois
o que ele escreveu está trocado em miúdos no Catecismo. Como ela conhece a
doutrina católica, sabe também o que pensava São Tomás. Sabe, por exemplo, que
Deus é perfeitíssimo, tem todas as perfeições possíveis, e criou o mundo com
multidões de seres desiguais. Nem poderia ser de outro modo, como afirma São
Tomás, pois a criação se destina a refletir as incontáveis perfeições de Deus.
Para isso é necessário que existam seres múltiplos e diferentes, já que muitas
criaturas iguais, ou uma só muito perfeita, não conseguiriam refletir todas
essas perfeições.
Ler Marx e gostar, mesmo sem
ter entendido, dá resultado muito pior do que não gostar dele sem o ter lido,
como deve fazer quem aprendeu e também quem ensina o Catecismo. Se o
igualitarismo conduz à estagnação, melhor resultado se obtém estimulando o progresso
de quem deseja progredir e se esforça para isso. Os caminhos de Marx e São
Tomás são opostos, e só um deles ordena a sociedade e conduz a Deus.
Título, Imagens e Texto:
Jacinto Flecha, ABIM,
13-09-2014
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