![]() |
MST queima bandeira
norte-americana durante ato em defesa da Venezuela, Recife, Pernambuco, julho de
2010, foto: Alexandre Gondim/JC Imagem/Agência Estado
|
João Marques de Almeida
Quando chega o momento de
atacar a relação transatlântica o Bloco de Esquerda e o Público estão dispostos
a aceitar a hegemonia alemã e a seguir Berlim. Nunca é tarde para revelações
interessantes.
Com a partida de Bush já nos
tínhamos esquecido do anti-americanismo de alguma esquerda mal-pensante
europeia (a que devemos juntar, verdade seja dita, muita da direita populista e
anti-capitalista). E agora que o entusiasmo do “yes, we can” se foi, já nem Obama
consegue esconder o ódio aos Estados Unidos. Certas coisas nunca mudam. Em
Portugal, o anti-americanismo da esquerda mal-pensante regressou esta semana
através da velha aliança Bloco de Esquerda-Público.
O pretexto foi uma carta
assinada pelo governo português, juntamente com mais 13 governos da União
Europeia, a apelar à nova Comissão Europeia para se manter fiel ao mandato
recebido do Conselho para negociar com os Estados Unidos um tratado comercial e
de investimento (conhecido pela sigla TTIP). A assinatura da carta pelo governo
português foi vista como uma manifestação de uma política de direita e
excessivamente pró-americana.
Mais uma vez, os factos são
ignorados. Dos 14 governos que assinaram a carta, cinco são de esquerda e dois
outros resultam de uma grande coligação entre a esquerda e a direita. Ou seja,
metade dos signatários representa a esquerda europeia. Há ainda uma contradição
natural, pelo menos neste momento, entre assumir uma política de direita e uma
posição pró-americana. Se a carta pode ser interpretada, o que é altamente
discutível, como uma posição pró-americana, isso significaria um alinhamento
com uma administração democrata, logo de esquerda. Por outro lado, seria também
entendida como um manifesto contra um governo liderado pelo centro-direita, a
coligação alemã.
É ainda mais curioso que os
ataques ao governo venham de quem passou os últimos três anos a gritar contra a
subordinação a Berlim. Por uma vez, o governo critica a Alemanha, e a nossa
esquerda mal pensante sai em defesa dos alemães. A polémica começou
precisamente porque a Alemanha começou a questionar o mandato de negociação
atribuído à Comissão, o qual resultou de um difícil consenso entre todos os
Estados membros. Ficou claro para todos que quando chega o momento de atacar a
relação transatlântica o Bloco de Esquerda e o Público estão dispostos a
aceitar a hegemonia alemã e a seguir Berlim. Nunca é tarde para revelações
interessantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-