O enredo do novo livro do
enfant terrible da literatura francesa conta com um presidente muçulmano à
frente dos destinos da França. Autor é acusado de xenofobia e racismo.
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Foto: Getty Images |
Catarina Fernandes Martins
Milhares de alemães nas ruas
de Dresden para, todas as segundas-feiras, se manifestarem contra o que
consideram a “Islamização do Ocidente”.
Sondagens em França a darem vitória na primeira volta das eleições presidenciais, em 2017, a Marine Le Pen, a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional e vencedora das últimas eleições europeias que quer travar a “Islamização da França”. É neste contexto que chega às bancas, na próxima quarta-feira, dia 7 de janeiro, o novo livro de Michel Houllebecq, o enfant terrible da literatura francesa que, desta vez, decidiu imaginar uma França verdadeiramente islamizada e submetida ao Islão, na sequência da eleição de um presidente muçulmano. O livro – Soumission – ainda só esteve nas mãos de poucos críticos, mas a polémica que promete esperá-lo está já acesa. Começando logo pelo título, que pode ser lido como uma das traduções possíveis para a palavra Islão, que em árabe significa submissão à palavra de Alá.
Sondagens em França a darem vitória na primeira volta das eleições presidenciais, em 2017, a Marine Le Pen, a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional e vencedora das últimas eleições europeias que quer travar a “Islamização da França”. É neste contexto que chega às bancas, na próxima quarta-feira, dia 7 de janeiro, o novo livro de Michel Houllebecq, o enfant terrible da literatura francesa que, desta vez, decidiu imaginar uma França verdadeiramente islamizada e submetida ao Islão, na sequência da eleição de um presidente muçulmano. O livro – Soumission – ainda só esteve nas mãos de poucos críticos, mas a polémica que promete esperá-lo está já acesa. Começando logo pelo título, que pode ser lido como uma das traduções possíveis para a palavra Islão, que em árabe significa submissão à palavra de Alá.
O editor da revista francesa
Libération, Laurent Joffrin, leu o livro e foi acutilante. “[A publicação deste
romance] vai ficar para a história como o dia em que as teses de
extrema-direita regressaram à esfera superior da literatura.” E não ficou por
aí, acrescentando que Soumission faz as “ideias da Frente Nacional parecerem
nobres”. A revista Les Inrockuptibles diz que o enredo “vira a sociedade ao
contrário”.
2022. François Hollande
cumpriu o segundo mandato como presidente da França e recandidata-se a um
terceiro. Na primeira volta das eleições é derrotado pelo candidato da Frente
Nacional e… por Mohammed Ben Abbes, candidato da Fraternidade Muçulmana, um
partido islâmico francês (e imaginário). Para impedir a vitória da Frente
Nacional, tanto os socialistas como a UMP, partido de centro-direita de
Sarkozy, dão apoio à Fraternidade Muçulmana. E é assim que Mohamed Ben Abbes, um
muçulmano, é eleito para o Eliseu, impondo a Sharia – lei islâmica – em França.
Houllebecq imaginou este ponto
de partida e continuou a imaginar e a descrever uma França islamizada,
recorrendo a um narrador professor de literatura, de 44 anos, alcoólico e
insatisfeito com a sua vida sexual, que acaba por ser despedido da Universidade
Islâmica Sorbonne-Paris, que apenas aceita professores muçulmanos. E aquilo que
este professor vê é um país com uma baixíssima taxa de desemprego (as mulheres
são encorajadas a abandonar o mercado de trabalho para se concentrarem na
família), pouco crime nas ruas e escolas islâmicas. As conversões ao Islão
aumentam, o que, de acordo com o narrador, conduz à morte da liberdade de
pensamento e do espírito crítico. Este professor resiste durante algum tempo a
“colaborar” com a nova ordem política e social, mas acaba também ele por se
converter. Isto porque lhe é prometido um salário mensal de 10 mil euros e a
possibilidade de ter três mulheres. Na França de Mohamed Ben Abbes, a poligamia
é legal.
Houellebecq saltou para a ribalta – e para o centro da polémica literária – aquando da publicação do seu segundo romance – As Partículas Elementares (1998) – no qual critica os revolucionários que fizeram o Maio de 68. O autor, que tem sido acusado de ser xenófobo, racista e provocador – em 2001 disse, numa entrevista à revista Lire que “o Islão é a mais estúpida das religiões”, sendo processado por incitação ao ódio racial, mas acabando absolvido – é o escritor contemporâneo francês mais traduzido e aclamado internacionalmente.
Em resposta às críticas que o
acusavam mais uma vez de querer acicatar a opinião pública, defendeu que
Soumission não é uma provocação. Não quando, na sua forma de ver a realidade,
os eventos descritos são verossímeis. O autor prefere, então, falar de uma
antecipação. “Eu estou a acelerar a história. Não posso dizer que o livro é uma
provocação, se isso significar dizer coisas que considero falsas só para
chatear as pessoas”, disse o autor numa entrevista. E sublinhou o fator de
antecipação: “Neste livro condensei uma evolução que, na minha opinião, é
realista”.
Título e Texto: Catarina Fernandes Martins, Observador, 6-1-2015
Título e Texto: Catarina Fernandes Martins, Observador, 6-1-2015
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A realidade um dia destes...
ResponderExcluirNão tenho dúvidas!
ExcluirCoincidentemente quando recebi o aviso do seu comentário me preparava para encomendar o livro online... quer dizer, se o preço for acessível, well...
E também assistindo na France 24 a ainda tímida demonização do Movimento PEGIDA...
Encomendado na Amazon/France. Chegará entre 14 e 16 de janeiro...
ResponderExcluirAcabo de lê-lo.
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