Soeren Kern
"Está ficando cada vez mais evidente que um pequeno número,
embora significativo, de pessoas que residem na Grã-Bretanha, praticamente
todos cidadãos britânicos, rejeitam nossos valores. ... Está claro que a partir
desses exemplos o extremismo pode assumir várias formas. ... Eles rejeitam, em
sua totalidade, os valores britânicos e ocidentais, inclusive a democracia, o
estado de direito e a igualdade entre os cidadãos, independentemente de sexo,
etnia, religião ou orientação sexual. Eles acreditam ser impossível ser um bom
muçulmano e ao mesmo tempo um bom cidadão britânico. E eles rejeitam qualquer
um que discorde deles, incluindo outros muçulmanos, como kafirs, ou
infiéis". — Theresa May, Secretária do Interior Britânico.
"Intolerância, ódio e
preconceito se tornaram a norma. A confiança foi substituída pelo medo, a
reciprocidade pela inveja e a solidariedade pela cisão. ... Se alguém
discriminasse mulheres, acusasse pessoas tomando como base suas crenças
religiosas, rejeitasse o processo democrático, atacasse pessoas por desaprovar
suas orientações sexuais ou balançasse a cabeça e desse uma piscada em sinal de
aprovação em favor da violência e do terrorismo, nós não hesitaríamos em
desafiá-lo, ou se a lei fosse infringida, exigiríamos as devidas ações penais e
condenações". — Theresa May, Secretária do Interior Britânico.
Alguns grupos muçulmanos dizem
que os comentários de May são o mesmo que "islamofobia".
Manzoor Moghal, presidente do
Muslim Forum, um grupo de especialistas, disse à BBC que as propostas de May
irão violar a liberdade de expressão.
A Secretária do Interior
Britânico Theresa May divulgou uma série de novas propostas destinadas a
combater o extremismo islâmico "em todas as suas formas".
O plano faz parte do manifesto
da eleição do partido Tory (conservador), uma declaração de políticas e
programas a serem implementados, se o Partido Conservador do Primeiro Ministro
David Cameron continuar no poder depois das eleições gerais de 7 de maio.
A secretária do interior se
comprometeu que o futuro governo Tory irá, entre outras coisas, banir os
pregadores do ódio islâmico, fechar mesquitas extremistas e reavaliar se os
tribunais da Sharia na Inglaterra e no País de Gales são compatíveis com os
valores britânicos.
May também prometeu coibir o
extremismo islâmico nas prisões britânicas, monitorar a maneira como a polícia
está reagindo aos assim chamados crimes em nome da honra, mutilação genital
feminina e casamentos forçados, e alterar a lei da cidadania para assegurar que
os requerentes aprovados respeitem os valores britânicos.
As reações às propostas de May
foram as mais variadas. Ao passo que alguns se mostraram satisfeitos com a
determinação dela de confrontar o extremismo islâmico, outros acreditam que
muitos itens do plano serão difíceis, senão impossíveis de serem implementados,
principalmente se os Conservadores formarem um governo de coalizão com os
Liberais Democratas, que se opõem a quaisquer tentativas de limitar a liberdade
de expressão.
May anunciou as medidas
severas durante um enérgico discurso em
Londres em 23 de março, onde ela definiu o extremismo como "oposição
ruidosa e ativa aos valores fundamentais britânicos, inclusive a democracia,
estado de direito, liberdade individual e respeito mútuo e tolerância de
diferentes religiões e crenças".
Falando com uma clareza não
vista na maioria dos discursos públicos de hoje sobre o Islã, May especificou o
extremismo islâmico como principal ameaça à Grã-Bretanha contemporânea. Ela
disse:
"está ficando cada vez
mais evidente que um pequeno número, embora significativo, de pessoas que
residem na Grã-Bretanha, praticamente todos cidadãos britânicos, rejeitam
nossos valores. Nós vimos o Cavalo de Tróia se apoderar das escolas públicas em
Birmingham. Algumas considerações sobre as escolas religiosas suplementares.
Alegações amplamente difundidas sobre corrupção, nepotismo, extremismo,
homofobia e antissemitismo no bairro de Tower Hamlets. Apologistas do ódio
foram convidados a discursar em faculdades e universidades. Segregação com base
no sexo, permitida em universidades e até endossadas pela Universities UK
(grupo lobista que representa as universidades britânicas). Sociedades
beneficentes e a generosidade de doadores usadas de forma ilícita pelos
extremistas. Exemplos do uso da lei da Sharia para discriminar mulheres.
Milhares de crimes em nome da honracometidos todos os anos. E
centenas de cidadãos britânicos que foram lutar na Síria e no Iraque.
"Está claro que a partir
desses exemplos o extremismo pode assumir várias formas. Ele pode ser
ideológico ou pode ser impulsionado por normas sociais e culturais contrárias
aos valores britânicos e simplesmente inaceitáveis. Temos sido claros o tempo
todo que a estratégia contraextremista do governo deve buscar derrotar o
extremismo em todas as suas formas, mas é óbvio a partir das evidências que a
mais grave e mais disseminada forma de extremismo que temos de enfrentar é o
extremismo islamista.
"Extremistas islamistas
acreditam em um choque de civilizações. Eles promovem a incompatibilidade
fundamental entre os valores islâmicos e ocidentais, uma separação inevitável
entre eles e nós. Eles pleiteiam um califado ou um novo estado
islâmico, governado por uma implacável interpretação da lei da Sharia. Eles
rejeitam, em sua totalidade, os valores britânicos e ocidentais, inclusive a
democracia, o estado de direito e a igualdade entre os cidadãos,
independentemente de sexo, etnia, religião ou orientação sexual. Eles acreditam
ser impossível ser um bom muçulmano e ao mesmo tempo um bom cidadão britânico.
E eles rejeitam qualquer um que discorde deles, incluindo outros muçulmanos,
como kafirs, ou infiéis".
"Extremismo não é algo
que pode simplesmente ser ignorado. Ele não irá desaparecer porque nós assim o
desejamos. Ele deve ser enfrentado de frente. Visto que onde o extremismo cria
raízes as consequência são claras. Os direitos das mulheres estão corroídos. Há
discriminação com base na raça e na orientação sexual. Não há mais acesso igual
ao mercado de trabalho, lei ou a sociedade como um todo. As comunidades se
tornaram segregadas e isoladas umas das outras. Intolerância, ódio e
preconceito se tornaram a norma. A confiança foi substituída pelo medo, a
reciprocidade pela inveja e a solidariedade pela cisão.
"Enfrentar o extremismo
também é importante por causa da sua ligação com o terrorismo. Nem todo
extremismo leva à violência e nem todos extremistas são violentos, mas há, sem
a menor sombra de dúvida, um elo que liga o tipo de extremismo que promove o
ódio e uma sensação de superioridade em relação aos outros às ações daqueles que
querem impor suas crenças sobre nós por meio da violência.
"Eu sei que nem todos
concordam comigo. Eles dizem que o que eu descrevo como extremismo islamista é
simplesmente conservadorismo social. Mas se alguém discriminasse mulheres,
acusasse pessoas tomando como base suas crenças religiosas, rejeitasse o
processo democrático, atacasse pessoas por desaprovar suas orientações sexuais
ou balançasse a cabeça e desse uma piscada em sinal de aprovação em favor da
violência e do terrorismo, nós não hesitaríamos em desafiá-lo, ou se a lei
fosse infringida, exigiríamos as devidas ações penais e condenações".
May terminou o discurso com
uma advertência aos extremistas islâmicos: "acabou a tapeação". Nós
não iremos mais tolerar esse tipo de comportamento. Nós iremos expor suas
crenças abomináveis pelo que elas são. Onde vocês buscam disseminar o ódio nós
os obstruiremos. Onde vocês infringirem a lei nós os processaremos. Onde vocês
procurarem criar divisão entre nós permaneceremos unidos. E juntos nós os
derrotaremos".
Alguns itens do plano contra extremismo de May foram previamente traçados por ela durante um discurso na
Conferência do Partido Conservador em setembro de 2014. May planejava publicar
a estratégia contraterrorista oficial antes da dissolução do parlamento em 30
de março, mas foi forçada a atenuar várias propostas importantes devido à
oposição de membros do alto escalão do seu próprio partido.
De acordo com o Financial
Times, o Ministro das Universidades Greg Clark se opôs a
uma proposta para determinar às universidades que proíbam discursos de oradores
extremistas, ao passo que Chris Grayling do Ministério da Justiça pediu cautela
quanto às iniciativas para controlar os ímãs que já estão na prisão. O
Secretário de Estado para Comunidades e Governo Local Eric Pickles se opôs à
avaliação de líderes religiosos e o Secretário da Educação Nicky Morgan
censurou a imposição mais dura da função contraextremista proposta para o
Ofsted, o guardião oficial das escolas.
Alguns observadores dizem que
o plano de May pode acabar da mesma maneira que acabou um plano semelhante de
12 pontos traçado pelo
ex-primeiro-ministro Tony Blair em agosto de 2005, um mês depois que quatro
islamistas britânicos praticaram ataques com bombas em Londres que mataram 52
pessoas e feriram mais 700.
Na época Blair jurou mostrar
que as "regras do jogo estavam mudando" para os terroristas
islâmicos. Mas a maior parte do plano de Blair nunca foi implementado, devido a
rixas internas no governo trabalhista e considerações de que algumas propostas
infringiam as leis de direitos humanos.
Haras Rafiq, diretor executivo
da Quilliam Foundation, um grupo de especialistas em contraextremismo, elogiou
o discurso de May, acrescentando haver muita conversa e pouca ação. Em uma
entrevista concedida à revista Newsweek, ele disse:
"no tocante ao tempo de
vida desse governo de coalizão não houve nenhuma estratégia publicada sobre
como enfrentar as ideias e a ideologia por trás do extremismo não violento.
Ainda estamos conversando sobre o mesmo assunto. Ainda estamos falando sobre a
lei da Sharia, ainda estamos falando sobre aprender mais, ainda estamos falando
sobre como enfrentar o extremismo não violento, por que não estamos
agindo"?
Rafiq complementa:
"banir extremistas não
violentos em uma democracia secular liberal não funciona. Podemos dizer que nos
últimos 10 anos essa política não funcionou. Veja a política de Anjem Choudary
e Al-Muhajiroun. Certa vez eles foram banidos, então começaram a aparecer com
nomes diferentes".
A representante da oposição do
Partido Trabalhista Yvette Cooper, afirmou que há um
"enorme abismo entre retórica e realidade". Ela disse que embora os
princípios por trás das propostas de May estejam "corretos", ela
questiona a ausência de "políticas que dão respaldo a esses
princípios".
Alguns grupos muçulmanos dizem
que as propostas de May são o mesmo que "islamofobia". O presidente
da Comissão de Direitos Humanos islâmicos, Massoud Shadjareh, afirmou:
"ninguém será ludibriado pelas alegações da secretária do interior de que
essas medidas foram criadas para lidar com o extremismo. Elas representam a
vergonhosa expressão do ódio e do preconceito que está cada vez mais se
tornando a norma na Grã-Bretanha".
Manzoor Moghal, presidente do
Muslim Forum, um grupo de especialistas, disse à BBC que as
propostas de May violam a liberdade de expressão. "Nós estamos feito
sonâmbulos caminhando para o que virá a ser um estado policial", segundo
ele. Moghal disse que os tribunais da Sharia "não contradizem as leis
britânicas" e são "subservientes às leis britânicas em todos os
aspectos".
O debate sobre como lidar com
o extremismo islâmico vem se intensificando, desde que se ficou sabendo que
mais de 500 jihadistas britânicos estão lutando ao lado do Estado Islâmico do
Iraque e da Síria. Além da segurança, contudo, o problema também tem em si uma
importante dimensão política.
Há décadas que não são vistas
eleições gerais tão acirradas como as desse ano, as pesquisas de opinião mostram os Conservadores e os
Trabalhistas lado a lado. Isso se deve parcialmente ao crescimento do Partido
da Independência do Reino Unido (UKIP em inglês), que já é o terceiro maior
partido da Grã-Bretanha, duas vezes mais popular que os Liberais Democratas.
Um estudo recente constatou que
os Conservadores poderiam perder cerca de dois milhões de eleitores para o UKIP
em 7 maio. O UKIP já vem há muito tempo defendendo uma linha mais dura contra
os extremistas islâmicos na Grã-Bretanha, preocupação esta ao que tudo indica,
compartilhada por um número cada vez maior de eleitores britânicos.
Soeren
Kern, Gatestone Institute
Original em inglês: British Home Secretary to Islamic Extremists: "The Game is Up"
Tradução: Joseph Skilnik
Original em inglês: British Home Secretary to Islamic Extremists: "The Game is Up"
Tradução: Joseph Skilnik
Soeren Kern é
colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador
sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic
Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter.
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