Maria diz que prestava serviços à
Junta de Freguesia de Arroios e apenas aceitou tirar a foto. Acusa o PS de fabricar a
história e de não ter autorizado. O PS diz que os representados são figurantes
que aceitaram.
Liliana Valente
“A história não é minha. Aquela afirmação é falsa”.
É assim que Maria João resume a utilização da sua fotografia colada à frase
“Estou desempregada desde 2012, para o governo não existo” num dos
polémicos cartazes do PS, em declarações ao Observador. Maria João diz que não
estava desempregada e que não disse o que está no outdoor. Mais:
acrescenta que quando tirou a fotografia, que viria a aparecer espalhada pelo
país nos cartazes do partido, prestava até serviços à Junta de Freguesia de
Arroios (socialista) e foi lá que o fotógrafo a apanhou. Mais ainda: diz
não ter dado autorização para que a sua cara aparecesse nos cartazes, quer
que o partido os retire das ruas e admite processar o PS por uso indevido de
imagens. Mas a história com os polémicos cartazes não acaba aqui. Há mais
dois casos na mesma junta.
Ao Observador, o PS respondeu dizendo que:
“Tratam-se de representações. Apesar de não faltarem exemplos de tantos e
tantos casos semelhantes aos denunciados no cartaz, não iríamos expor assim as
próprias pessoas e o seu sofrimento. Portanto, embora os cartazes sejam todos
relativos a casos reais, as pessoas são figurantes escolhidos e que aceitaram
figurar nos cartazes”.
Essa não é a versão de Maria João. Ela conta a sua
história dividindo-a em duas partes: a primeira sobre a forma e a
segunda sobre o conteúdo.
Do conteúdo. “Eu não estou desempregada desde 2012. Não me
podem envolver desta maneira. Aqueles dados, são mentira”, conta ao Observador.
Maria João Pinto tem 29 anos e diz que prestava serviço na área da comunicação
na Junta de Freguesia de Arroios. No cartaz do PS, a frase que se podia ler
associada à sua cara era: “Estou desempregada desde 2012″.
“Estou revoltadíssima”, revela. De 2012 para cá já
esteve desempregada e já trabalhou. Mas não estava desde 2012, nem estava
quando na quinta-feira passada tirou as fotografias para a campanha do PS.
Tinha suspendido o subsídio de desemprego (que recebia apenas desde
2014) para poder abrir atividade e passar recibos à Junta. Mas não quis
tirar nova fotografia para ilustrar este artigo justificando não se querer
expor mais e por ser “incoerente”. “Se eu quero que retirem, não vou estar a
expor-me”. Na sua página do Facebook poucas são as fotos de cara, mas muitos
são os comentários de amigos que desde esta quinta-feira a avisaram que tinha o
rosto espalhado pelo país. Foi assim que diz que se deu conta do que
estava a passar.
Da forma. Essa mesma quinta-feira (dia 30 de julho)
foi o último dia em que Maria João esteve na Junta de Freguesia de
Arroios. Diz ter sido chamada ao gabinete da presidente da parte da manhã.
Conta que Margarida Martins, a presidente da Junta (ex-líder da Abraço, que se
candidatou como independente), lhe pediu para tirar “uma foto para a campanha
do António Costa” e que foi apanhada de surpresa tanto pelo pedido primeiro,
como, logo depois de almoço, pelo aparecimento do fotógrafo. “Foi uma
autorização para uma fotografia, mas pensei que haveria o processo a seguir”.
Diz que ainda pensou tratar-se de uma fotografia para usar com muitas outras pessoas
em cartazes com muitas caras, mas que esperou pelo pedido de autorização.
Apesar da autorização verbal para a respetiva foto, Maria diz que não deu
autorização para a sua utilização e acrescenta, que muito menos daria
autorização se soubesse para o que seria utilizada. “Eu não me exponho e eles
expõem-me em outdoors gigantes” e ainda por cima e com “uma frase falsa”.
Acresce ainda que a fotografia não foi paga.
Quando questionada se a autorização verbal não
teria dado a entender que estava disposta a ceder os direitos de imagem, Maria
conta que não assinou nenhum papel, que seria necessário para que o PS
pudesse usar a sua fotografia: “Não foi um consentimento. Foi-me tirada
uma fotografia, mas nunca pensei que não haveria o passo a seguir que era dizerem-me
para o que era e pedirem-me para assinar um papel de cedência de imagem”. O
fotógrafo, conta, não a soube informar do destino final da fotografia. Muito
menos a dimensão que iria ter.
Maria João não quer deixar cair a história e por
isso o próximo passo que vai tomar é pedir ao PS para retirar os cartazes das
ruas. Já falou com uma advogada e pondera mesmo processar o partido de
António Costa. Mas o caso de Maria João não é único.
Mais dois trabalhadores. Um passou por emigrante,
o outro por desempregado
Mais dois participantes dos polémicos
cartazes trabalharão também na mesma Junta e a sua história não bate
com aquela pela qual dão a cara nos cartazes.
O rapaz que no cartaz diz ter sido “obrigado” a
emigrar em 2012, de acordo com o seu perfil no Facebook – e de acordo com Maria
João, morará em Lisboa e trabalhará na mesma Junta de Freguesia de Arroios. O
Observador entrou em contacto com ele para confirmar a informação — através do
Facebook–, mas não obteve resposta, apesar de a mensagem ter sido lida.
Já esta participante, que no polémico cartaz
(o tal que remete para o governo de José Sócrates) está associada a uma frase
em que diz estar desempregada “há 5 anos sem qualquer subsídio ou apoio”,
estará, na realidade, também a trabalhar na mesma Junta de Freguesia de Arroios
através de um dos programas do Centro de Emprego, segundo uma denúncia que
chegou ao Observador e confirmado por outra fonte da freguesia.
Uma fonte autárquica socialista, ouvida esta tarde
pelo Observador, conferia que os dois são colaboradores nessa junta.
O Observador tentou obter uma resposta da
presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Margarida Martins, mas não foi
possível até à publicação desta notícia
Título, Imagens e Texto: Liliana Valente, Observador,
8.8.2015
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