segunda-feira, 21 de outubro de 2019

[Atualidade em xeque] Bezerros de ouro

José Manuel

Continuamos o país do futuro. E o pior é que continuamos acreditando que somos o futuro, sem lastro de passado e sem previsibilidade de presente. Somos o país dos salvadores da pátria, não dos Estadistas.

A cada quatro anos trocamos seis por meia dúzia sem resolver o passado e sem perspectiva de futuro.

Quantos tipos de moedas, quantos planos fracassados no passado, com o imediatismo de sempre, agora novamente permeando o nosso cotidiano.

Trabalhamos uma vida inteira para, com os impostos que pagamos, empurrar o país para os píncaros do desenvolvimento, enquanto os gestores senhores dos anéis teimam em empurrá-lo para a vala comum do subdesenvolvimento. Conheço essa gangorra há pelo menos 73 anos.

Cansei de ver e ouvir tanta bobagem saída de bocas estúpidas e ávidas por dinheiro alheio. Tivemos uma malha ferroviária exuberante e a jogamos no lixo. Tivemos um potente e promissor sistema de aviação comercial inteiramente nacional, de fazer inveja a muitos países do primeiro mundo e o entregamos de mão beijada a abutres internacionais que fazem o que querem com os nossos céus, e as nossas malas e pior, com o aval do próprio governo. Um copo de água e um saquinho de amendoim é o prêmio cala a boca pela exorbitância paga.

Tivemos um parque industrial pujante e o falimos sem piedade. Refletir sobre as grandes indústrias e empresas que desapareceram nos últimos quinze anos, se faz necessário para entender o porquê de hoje sermos tecnicamente um país agropecuário vendedor de "commodities" que conseguimos arrancar da terra, do mar ou de animais.

Na década de 70 do século vinte, praticamente ontem em termos relativos e estatísticos, tínhamos um PIB superior a qualquer um dos tigres asiáticos. Hoje, além de gatinhos dóceis, importamos tudo o que eles querem nos impingir, de automóveis a telemóveis, sem uma contrapartida eficaz de soerguimento das indústrias brasileiras.

Não temos competitividade no cenário mundial, porque nossos impostos são altíssimos, o nosso conhecimento tecnológico baixíssimo, e o contrassenso chega a ser de tal forma sem noção, que somos o terceiro fabricante mundial de aviões, segundo os "experts", mas não conseguimos fazer e vender uma bicicleta no mercado externo. É a prova cabal do "balaio de gatos" em que nos encontramos.

Continuamos a ser um país de analfabetos funcionais, e o suprassumo do bizarro em termos de comércio bilateral é que com uma costa de oito mil quilômetros com uma fauna marinha variadíssima e abundante, importamos até peixe congelado da China, do Vietnã e do Chile, vindo de águas e processos alimentares reconhecidamente pouco recomendáveis.

Continuamos após mais de dois mil anos com a síndrome de Moisés. Sem saber o que fazer e para onde ir, apenas idolatrando ícones de barro e, de diverticulite a facadas vamos cultuando choros e mitos, talvez para nos penitenciar pelas culpas dos desastres anteriores. Nunca assumimos o nosso erro, sendo a culpa sempre dos outros que não são fiscalizados por nós, e a roda sempre girando sem resultados a futuro!

Vagamos num eterno deserto de ideias e por isso parece que Deus, aquele mesmo do Moisés ao ver tanta impiedade nas nossas atitudes e, se estiver mesmo "acima de todos", deve estar na estratosfera, bem longe do plano terrestre deixando-nos à nossa própria sorte.

Se formos analisar bem e com retidão de caráter, o que é coisa rara infelizmente, ao que parece o fato milagroso de termos saído de um Estado absolutamente cleptocrata, após 16 anos de vergonhas roubos e falcatruas em camadas, não abriu a mente dos cidadãos. A amarga experiência de um retrocesso abissal previsível efetivou o atraso em todas as áreas em no mínimo cinquenta anos e, mesmo assim, não evitou a queda em outro processo danoso que agora aparentemente começa a se mostrar como um Estado pré-teocrata, onde até antes inimagináveis atores relegados ao seu pequeno nicho, charlatões dizimistas conhecidos por abastecer sem pagar um centavo de impostos nas suas polpudas contas bancárias jatinhos e templos Sumérios em pleno século 21 e, notoriamente à custa da crença dos mais humildes e intelectualmente despreparados, têm presença garantida em palácio e pior, com pompa, circunstância e alarde em esferas midiático-religiosas.

Como será difícil extirpar totalmente o passado devastador, a se concretizarem as últimas tendências vamos conviver os próximos quatro anos com uma dualidade de um Estado clepto-teocrata, caçando bruxas e fadas sem a menor diretriz ou discernimento jurídico, aleatoriamente, apenas para mostrar serviço e futuras promoções polpudas à nossa custa, não importando quantos viventes principalmente idosos, que deveriam estar amparados, morrerão e sem a menor cota de culpa por parte de seres abjetos...
Tente como cidadão ser recebido em palácio. Só os amigos do rei têm essa deferência. Portanto, nada mudou.

Deus ou o seu filho que está "acima de todos", como reza a atual pregação maciça e contínua, que protege os seus filhos humanos, nunca falou ou escreveu nada sobre religião, muito menos sobre templos faraônicos.

Portanto, qualquer Estado teocrático desde os templos bíblicos está fadado ao desastre, pois política e religião são como água e azeite. Jamais se misturam.

E novamente caímos na mesma armadilha sazonal tentando encontrar os nossos salvadores da pátria e adorando bezerros do século 21. Agora, estamos sob nova direção sem o preparo adequado à função, fato admitido inclusive publicamente pelo próprio e novo inquilino do planalto, que acha poder governar apenas delegando poderes.

Atitudes como por exemplo a do "terrivelmente evangélico” (palavras do mandatário sobre o funcionário de sua confiança) Ministro da AGU ao suspender uma liminar de tutela antecipada em vigor e uma execução de sentença proferida por pleno do STF, mostra a completa incapacidade técnico-jurídica e o despreparo funcional para o cargo.

Escrever e pior, publicar que a continuidade de pagamento de alimentos, chancelado por duas vezes pela justiça configura "enriquecimento ilícito" é absolutamente vergonhoso e imoral para um órgão como a AGU, fiscal jurídico da Nação e uma afronta a toda a sociedade.

Também imoral foi a publicação de um videoclipe pela AGU, em redes sociais convocando a população a dizer se deveriam pagar ou não aos idosos do AERUS sem tornar público a responsabilidade jurídica da União, com viés tendencioso e puramente no sentido de agradar ao seu líder. O dinheiro do povo foi usado para no mesmo dia ter sido retirado de circulação, ou seja, dinheiro jogado fora.

A uma ordem recebida e meramente delegada pelo novo líder espiritual, sem embasamento algum no ordenamento jurídico, os acólitos da AGU capitaneados pelo terrível pastor, ceifaram a vida de seis idosos em menos de quinze dias, com todos os indícios de uma ordem teocrata deste governo que acha poder fazer tudo em nome de Deus.

Talvez para os seus adoradores de bezerros dourados isso seja possível.

Para nós do planeta real, donos do voto, e com dois canudos judiciais na mão, não pode!

Já provamos o contrário, e no futuro vamos dar a nossa resposta a este crime praticado contra idosos indefesos e suas famílias, do AERUS, sem a menor dúvida.

Interessante notar que a covardia teocrata não se volta contra os onze de ouro do supremo ou os inquilinos da casa dos penicos invertidos, que manifestamente teimam em jogar o país na rabeta dos países em desenvolvimento, ficando em último lugar perante os parceiros BRICS, só para exemplificar nossa tragédia política. Mas contra idosos indefesos atua com uma celeridade absurda. Covardia pura!

E a Nação que já teve até caçadores de marajás, lamentavelmente continua assistindo passivamente a mais um culto meramente vade retro em sua trajetória político conturbada, idolatrando salvadores da pátria e sem perceber que lutar contra um passado perverso é uma coisa admirável e absolutamente pertinente a um Presidente. Insistir em erros infantis, covardes e chacotas familiares para chamar a atenção sobre si é outra completamente diferente.
Título e Texto: José Manuel - atingido, mas jamais vencido. 21-10-2019

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