Manuel Bourbon Ribeiro
Tenho 17 anos e uma vida pela frente. Sinto
que posso fazer algo pelo meu país, podemos todos. Porém, tu pareces que não
queres que eu o faça. Aliás, não queres que o faça nem ninguém da minha
geração.
Querido Portugal,

Não tenho qualquer autoridade
para te criticar ou emitir juízos de valor acerca de ti, mas já que toda a
gente o faz, mesmo quem nada percebe, arrisquei fazê-lo.
Eu tenho 17 anos e uma vida
pela frente. Sinto que posso fazer algo pelo meu país, podemos todos. Porém, tu
pareces que não queres que eu o faça. Aliás, não queres que eu o faça nem
ninguém da minha geração. Nós somos sonhadores, também já tiveste a nossa
idade. Achamos que podemos fazer tudo e alcançar o céu. E a verdade é que
conseguimos mesmo. Mas tens que nos ajudar, tens de nos encorajar e
proporcionar-nos uma educação que nos permita sonhar. Precisamos de acreditar
que podemos fazer a diferença. Não nos mandes para fora, este é o nosso país,
foi aqui que crescemos e tem de ser aqui que vamos singrar. Só precisas de nos
ajudar. O resto? O resto fazemos nós, tal como os nossos antepassados fizeram
nessa tal altura em que eras grande, lembras-te?
Mas como é que eu posso fazer
algo grande do modo que tu estás?
Como é que eu posso fazer algo
grande se em vez de me ensinares os grandes feitos por ti alcançados no passado
e de me fazeres ter orgulho por fazer parte de ti, te preocupas em impingir-me
coisas sem sentido como seja a ausência de diferenças entre raparigas e rapazes
numa idade em que nem sei ler? Ensina-me a pensar, ensina-me Ciências ou
História porque de sexo não percebes nada. Já se dizia que temos de olhar para
a História para preparar o futuro. Mas, pensando melhor, como é que eu posso
escolher o meu futuro se nem sequer a escola onde estudo posso escolher? Como é
que posso confiar em ti se nem me deixas escolher o hospital onde quero ir?
Como é que me dizes que sou livre se depois não me deixas ser? Já está na hora
de perceberes que eu decido melhor que tu, quando o tema é a minha educação ou
saúde. Já é tempo de perceberes que se continuares assim vão continuar a morrer
pessoas à espera de consultas. Dá-me a liberdade para escolher!
Como é que me dizes que sou
livre se me tiras mais rendimentos hoje do que alguma vez me tiraste? Por
outras palavras: como é que me dizes que sou livre se grande parte do dinheiro
que eu ganho vai para ti e nem sei bem o que fazes com ele? Por que é que não
me ajudas a criar o meu negócio através de poucos impostos? Ao cortares as
pernas à iniciativa privada estás a impedir-me de progredir. Estás a impedir-me
de te ajudar. Estás a desajudar e não a ajudar. Como é que não percebes isso?
Portugal, tu estás diferente.
Onde é que estão os grandes governantes a que me habituaste? Antigamente os
reis e ministros iam parar ao panteão. Hoje quem governa, ou suborna ou vai
parar à prisão.
Depois admiras-te que quase
metade de nós não vai votar. Como é que eu, com 17 anos, não posso escolher o
destino do meu país, mas posso mudar de sexo? Não reclamo que a idade para
votar seja mais baixa, mas mudar de sexo?! Achas que me estás a ajudar se me
incentivas a ser outra pessoa que não aquela que veio ao mundo com o meu nome?
Achas que com 16 anos tenho capacidade de negar aquilo que sou? Pareces mais
parvo que eu quando decido escolher o caminho mais fácil por imaturidade. Posso
ainda nem ser maior de idade, mas sei que a vida é tudo menos fácil.
A vida não é fácil, mas é algo
valioso, o mais valioso que temos. Infelizmente não o é para todos. Olha o
exemplo dos doentes terminais. Achas que a melhor maneira de melhorar a sua
vida é acabando com ela? Claro que não. Quem és tu, Portugal, senão aquele que
me deve proteger? Quem és tu senão aquele que me deve proporcionar uma vida
boa, independentemente das minhas circunstâncias? Por que é que me ajudas a
acabar com a minha própria vida sem me tentares ajudar primeiro? Por que é que
em vez de me matares não me dás uma nova vida, nem que seja por uma semana? Por
que é que em vez de investires dinheiro em matar-me não investes em cuidados
paliativos para que, pelo menos quando morrer, possa estar a sorrir e não
anestesiado?
Por que é que não defendes a
vida humana por tão pequena que ela seja? Uma vida nunca é insignificante e até
um embrião é uma pessoa. Por que é que me incentivas a matá-lo e não me ajudas
a ser feliz com ele?
Por que é que uma mãe sem
condições financeiras não tem uma creche gratuita para poder trabalhar enquanto
cria o seu filho? Isso faz com que as pessoas não tenham filhos. E, digo-te já,
estás a criar um problema gravíssimo. Os meus pais tiveram 6 filhos por terem
condições e são felicíssimos. Porque é que não dás também essa possibilidade a
outras famílias que não tenham as mesmas condições que a minha, mas também
querem ser felizes?
Neste momento estou a estudar
Direito e, apesar de terem passado poucos meses desde que comecei, aprendi
muitas coisas. Uma delas, e que é comum a muitos autores que eu estudei como
Thomas More, Marsílio de Pádua ou São Tomás de Aquino, é que o principal
intuito do estado deve ser o bem viver das pessoas. Será que é isso que estás a
fazer? Será que me estás a dar a melhor vida possível?
Será que estás a dar o exemplo
do que é uma Democracia quando quem governou durante 4 anos nem sequer ganhou
as eleições? Que país é este que se diz democrático, mas que não faz a vontade
ao povo? Que país é este que ao ver a sua defesa ameaçada e roubada, como
aconteceu em Tancos, não sabe punir e responsabilizar os intervenientes? Que
país é este que perante quase metade da percentagem de abstenção, resultante de
uma colossal indiferença do seu povo perante a vida política, fica de braços
cruzados a lamentar-se, sem quaisquer medidas concretas para o resolver?
Encoraja as pessoas a votar.
Faz-lhes acreditar que conseguem melhorar a sua vida. Estás aborrecido,
Portugal. Hoje em dia não há discussões políticas saudáveis. Não há trocas de
ideias interessantes, nem argumentos válidos. As pessoas que mandam estão há
mais anos no poder do que eu na vida. Temos um sistema político ultrapassado e
as pessoas estão fartas. Como é que não percebes isso, Portugal? Como é que não
percebes que precisamos de caras novas e lufadas de ar fresco para todos
aqueles que já desistiram de ti? Desde as pessoas da minha idade que só querem
ir para fora porque “Portugal não me valoriza”, até aos idosos que vivem sem ânimo
e são totalmente comprados pelos demagogos que lhe oferecem promessas de
pensões maiores em troca de votos.
Que país és tu que não
garante, de modo algum, a segurança dos seus cidadãos? Que deixa que vidas de
trabalho sejam desperdiçadas por pura incompetência, como aconteceu em
Pedrogão? Um país que está mais preocupado em descobrir de quem é a culpa do
que a resolver os problemas causados. Porque é que tiveram que morrer pessoas
para perceberes que a prevenção de incêndios é um tema fulcral da nossa sociedade,
Portugal? Por que é que és um país que não torna o trabalho dos milhares de
bombeiros voluntários mais fácil e só o complicas por incompetência do estado?
E por falar em trabalhos
difíceis. Como é que é possível que o trabalho dos polícias não seja valorizado
como devia? Por quê, Portugal? Não são eles afinal que controlam a ordem
pública e que protegem os cidadãos? Será que não é um trabalho suficientemente
digno?
Posso ter 17 anos, mas sei
perfeitamente que não estás bem. Mesmo que me tentem convencer com manipulação
de números. Mesmo que me ofereçam, de forma demagoga, passes sociais porque
mais tarde ou mais cedo vou ter de os pagar, eu percebo que não estás bem.
Daqui a cinco anos devo entrar no mercado de trabalho e tenho de me fazer à
vida. Gostava muito que me ajudasses a ajudar-te. A mim e à minha geração. Nós,
portugueses, somos melhores do que tu achas. Não nos subestimes, ajuda-nos.
Título e Texto: Manuel Bourbon
Ribeiro, Observador,
3-11-2019
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