Brasil deve receber parte do dinheiro
prometido na COP21, diz ministro
Alex Rodrigues
O ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, antecipou hoje (27) que, durante a próxima Conferência
Internacional sobre Mudança Climática (COP25), o Brasil voltará a cobrar dos
países desenvolvidos compensação ao Brasil pela preservação da flora e da fauna
existentes no território brasileiro.
Foto: José Cruz/Agência Brasil |
Considerado um dos mais
importantes eventos globais sobre o clima, a conferência, realizada pela
Organização das Nações Unidas (ONU) será em Madri, entre os dias 2 e 13 de
dezembro. Salles deve viajar no próximo dia 30 para Madri.
“Nossa missão na COP será
fazer valer a promessa dos países ricos para com os países em desenvolvimento
de prover recursos no montante necessário e suficiente para remunerar pelo
trabalho que o Brasil já faz”, declarou o ministro ao participar, hoje, de audiência
pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento
Rural da Câmara dos Deputados.
A jornalistas, o ministro
disse que uma de suas prioridades é o debate em torno da regulamentação do
Artigo 6 do Acordo de Paris, adotado ao fim da 21ª Conferência das Partes (COP
21) para fortalecer a resposta global à ameaça das mudanças climáticas e
reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos decorrentes dessas
mudanças. A regulamentação do Artigo 6 – que o ministro afirmou ser da maior
importância para os países em desenvolvimento por tratar da “monetização” –
estabelece que os países em desenvolvimento devem receber uma “ajuda”
financeira para custear as ações de mitigação das emissões de gases de efeito
estufa e de promoção do desenvolvimento sustentável.
“Temos muita coisa para
mostrar na parte da agricultura, de energia renovável, reciclagem...E, por
outro lado, esperamos receber, finalmente, a sinalização de que recursos
vultosos para os países em desenvolvimento se concretizem já a partir do ano
que vem”, acrescentou o ministro, lembrando que, quando foi realizado o Acordo
de Paris, em 2015, falava-se na disponibilização de cerca de US$ 100 bilhões
por ano. Segundo o ministro, esse seria o montante que os países desenvolvidos
repassariam aos em desenvolvimento a título de compensação financeira.
“O Brasil, que é, certamente,
dos países em desenvolvimento, o que mais faz pela preservação do meio
ambiente, que tem a maior floresta tropical, o Código Florestal e uma série de práticas
já consolidadas, certamente tem a maior legitimidade para pleitear uma boa
parcela destes US$ 100 bilhões. Nosso trabalho é criar um mecanismo jurídico no
âmbito do Acordo de Paris e na legislação nacional para que este recurso já
comece a fluir para o país já no ano que vem”, argumentou o ministro.
Na audiência, Salles apontou o
que considera ser o principal desafio de sua pasta. “Em primeiro lugar, a
regularização fundiária. Resolvida essa questão, [precisamos] fazer o
zoneamento econômico ecológico para identificar as potencialidades, os pontos
mais sensíveis e onde pode haver produção, infraestrutura. [É preciso
viabilizar o] pagamento por serviços ambientais e, finalmente, trazer dinheiro
para o Brasil, mas na proporção que o país precisa e merece, e não pequenos
valores simbólicos”, afirmou Salles. Ele enfatizou que o Brasil merece ser
recompensado pelo “bom serviço de conservação” que presta ao mundo e disse tais
recursos, quando tirados do papel, devem chegar aos produtores rurais que mantêm
parte da vegetação e dos recursos naturais de suas propriedades intocadas,
conforme determina a legislação ambiental brasileira.
“Não vamos passar a fazer isso
[preservar] a partir da COP em Madri. Nós já temos reservas legais na Mata
Atlântica, no Cerrado, na Amazônia, em todo o país. E o produtor rural, que tem
parte da sua propriedade congelada por uma norma que impõe esta reserva legal,
precisa e merece ser remunerado por isto”, acrescentou o ministro.
Salles disse que o dinheiro
para compensar a preservação ambiental sobre o qual tanto se fala nos fóruns
globais não tem beneficiado o produtor rural. “Se é que há dinheiro fluindo,
ele tem parado em outro lugar", ressaltou o ministro. “Temos que fazer com
que esses recursos cheguem às mãos dos produtores rurais e de outros partícipes
da preservação ambiental, como comunidades ribeirinhas e povos tradicionais. E
isso pode ser feito de diversas formas. Desde projetos de investimento, até
pagamentos por serviços ambientais, créditos de carbono, projetos de Redd
[Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, do inglês
Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation], que entendemos
que devem ser contemplados também para a preservação de florestas”, detalhou o
ministro.
Ele destacou ainda a pouca
atenção dada aos problemas ambientais urbanos. “O problema ambiental brasileiro
está nas cidades, não no campo. Oitenta por cento da população brasileira vive
em cidades sem saneamento, sem coleta e tratamento de lixo, sem uma política de
qualidade do ar adequada. É preciso olhar onde estão efetivamente os problemas.
O campo, definitivamente, não é o problema. Pode até ter alguns problemas
localizados, mas como um todo, como um setor produtivo, certamente não é um
problema”, acrescentou Salles.
Título e Texto: Alex
Rodrigues; Edição: Nádia Franco – Agência Brasil, 27-11-2019, 13h39
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