Portugal está repleto de imbecis, dos quais
os maiores enchem as televisões a dar palpites, e os ligeiros servem de coro
nas redes sociais (aparentemente os indivíduos equilibrados vivem no manicómio)
Alberto Gonçalves
Há oito dias, numa daquelas
erupções emotivas em que é pródigo, o prof. Marcelo subiu a um palco e
declarou: “Conseguimos! Portugal tornou-se no país chave da revolução
tecnológica!”. O palco era o da Web Summit, uma cerimónia de carácter religioso
que decorreu para os lados de Moscavide e na qual ninguém, em nenhum canto do
mundo civilizado e do outro, reparou.
O extraordinário evento, que
não foi noticiado por qualquer “media” a leste de Badajoz e a oeste das
Berlengas, serviu para um guru carismático vender bilhetes e camisolas, para o
Estado “investir” milhões e para governantes sem vergonha recolherem o aplauso
de fiéis em transe. E só.
Portugal talvez seja razoável
em matéria de rolhas e chinelos de dedo, mas anda tão distante da revolução
tecnológica quanto perto dos resultados de uma lobotomia desastrosa. A coisa
não teria sido pior se o prof. Marcelo tivesse visitado o IV Torneio de
Columbofilia de Famalicão e decretado que estamos na vanguarda da conquista
espacial. Ao contrário do que garante o prof. Marcelo, Portugal não tem os
melhores jogadores do mundo, os melhores bombeiros do mundo, os melhores
emigrantes do mundo e nem sequer os melhores portugueses do mundo.
Em compensação, tem,
provavelmente, o presidente mais inverosímil do hemisfério norte. A fechar a
Web Summit, o prof. Marcelo, aplaudido de pé, jurou que “não temos medo do
futuro, somos imparáveis. Ninguém nos vai parar.” E a seguir chamou os
repórteres para, acompanhado do sem-abrigo que fez a descoberta, espreitar o
recipiente do lixo onde se encontrou um bebé recém-nascido.
Muitos julgaram perceber um
contraste simbólico entre o país que finge ser moderno e o país em que uma mãe
deita fora o próprio filho. Julgaram mal. A senhora em causa é estrangeira,
crimes terríveis acontecem em toda a parte, e a loucura individual é uma
permanência em todos os tempos. Por sorte, a loucura coletiva é menos
frequente. Por azar, é uma constante do buraco a que descemos: num ápice, meio
mundo decidiu que a responsabilidade pelo bebé atirado ao lixo não é da mãe que
tentou o infanticídio, e sim da sociedade, da crise de valores, da crise da
bolsa, do capitalismo, nossa, minha e sua. No dia em que eu resolver abalroar
com um autocarro o comentador Y por proferir palermices, espero que seja a
sociedade a responder em tribunal. A miséria mental da pátria, afastada da
inovação tecnológica e próxima da insuficiência cognitiva severa, não se revela
no ato isolado de uma senhora desesperada, maldosa ou demente. A chatice é a
demência geral que “justifica” e tolera o ato.
Ao invés do que sucede com a
tecnologia, estamos perfeitamente aptos a exportar doidice. E os pessimistas,
os que acham que não possuímos doidos suficientes, devem pôr os olhos no
entusiasmo com que, nos dias seguintes à cimeira das camisolas, inúmeros
portugueses saudaram a libertação do sr. Lula, ex-presidente do Brasil e
afamado gatuno. Houve canais que transmitiram em direto a missa subsequente.
Houve uma “jornalista”, dada a apaixonar-se por trafulhas, que se confessou
arrepiada ou assim perante a “força” daquele homem. E houve, inevitavelmente à
esquerda, e hoje quase tudo por aqui é esquerda, o tipo de veneração dedicada a
um santo, um mártir a que, por uma réstia de pudor, a “inteligência” (não se riam,
vá) oficial chama “preso político”.
Desde que haja boa vontade,
até o canibal de Milwaukee poderia ser considerado um preso político. No mundo
real, fora das alas de psiquiatria, o sr. Lula é um trafulha, que aprovou um
gigantesco esquema de corrupção e acabou condenado por ele. Não duvido de que
isto, apenas isto, seria suficiente para subjugar a esquerda à sua “força”, por
norma indistinguível da delinquência. Porém, o sr. Lula acumula a desonestidade
épica com uma boçalidade lendária, que o torna praticamente incapaz de falar a
própria língua e de certeza incapaz de assinar o próprio nome. A “inteligência”
indígena derrete-se face a um bom troglodita.
Aliás, ainda a “inteligência”
não tinha terminado de se derreter com o sr. Lula, passou a dissolver-se de vez
com o sr. Morales. O sr. Morales é o presidente deposto da Bolívia, despachado
após sabotar eleições. O sr. Morales é também o erudito que atribuiu a
homossexualidade dos europeus ao consumo de frango. Ditador, vigarista e
chanfrado: era impossível a “inteligência” não apreciar tamanho vulto. Escusado
dizer que a “inteligência” nacional é sinónimo da falta dela.
Eis a questão: Portugal está
repleto de imbecis, dos quais os maiores percorrem as televisões a dar
palpites, e os ligeiros servem de coro nas “redes sociais” (aparentemente, os
indivíduos equilibrados vivem no manicómio). São estes chalupas, os melhores
chalupas do mundo, que definem a “opinião pública” e traduzem o exato atraso de
vida que permite as infantilidades demagógicas do prof. Marcelo. Ninguém nos
vai parar, e o problema é esse.
Título e Texto: Alberto
Gonçalves, Observador,
16-11-2019
Relacionados:
Camilo Lourenço: “O transporte aéreo não é para meninos...” +“o primeiro-ministro mentiu duas vezes”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-