segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A esquerda situacionista que quer calar 192.679 cidadãos

O PS, Bloco e PCP querem controlar quem fala, querem determinar o que é politicamente correto pensar e querem zelar para que o espírito do socialismo condicione o pluralismo inerente à democracia.

Luís Rosa


1 A história conta-se em poucas palavras. O PS, o Bloco de Esquerda e o PCP esqueceram-se momentaneamente das recentes divergências e uniram-se para colocar uma mordaça nos três partidos que apenas têm um deputado. Apesar de PSD, CDS e PAN serem a favor da abertura de uma exceção para que a Iniciativa Liberal, Chega e Livre falassem no debate quinzenal com o primeiro-ministro nesta 4.ª feira, a ex-Geringonça bloqueou a proposta.

Como bons situacionistas, PS, Bloco e PCP receiam a mudança e usaram o formalismo do regimento parlamentar (que impõe fortes restrições à participação do Chega, Iniciativa Liberal e Livre no Parlamento) para silenciar os 192.679 cidadãos que votaram naqueles três partidos.
Como as grandes multinacionais que dominam os mercados, apelidados de “incumbentes” pelos respetivos reguladores, mostraram ter medo das mensagens da concorrência dos novos partidos. Compreende-se, pois podem perder quota de mercado.

Pior: nem sequer tiveram coragem para assumir a medida. Como a Iniciativa Liberal apresentou um projeto de reforma que reconhece mais direitos aos deputados únicos, a esquerda situacionista empurrou um deputado daquele partido que apenas existe como satélite do PCP para assumir as dores de todos. Segundo declarações de José Luís Ferreira (Partido Ecologista Os Verdes) à Rádio Observador, não faz sentido “criar um regime de exceção antes da discussão” da proposta dos liberais. Até porque o deputado do PEV admite a eventualidade de o projeto dos liberais ser chumbado (imagine-se!), o que levaria a um retrocesso na atribuição dos tempos a estes partidos.

2 É óbvio que o problema resolvia-se facilmente com o alargamento do regime de exceção que foi concedido na legislatura anterior ao partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), até a proposta da Iniciativa Liberal ser discutida. O deputado André Silva teve tempo na legislatura passada para falar nos debates do Estado da Nação, nos debates quinzenais com o primeiro-ministro e noutras ocasiões e o mesmo deveria ser permitido a Joacine Katar Moreira (Livre), João Cotrim Figueiredo (Iniciativa Liberal) e André Ventura (Chega). Aliás, isso já tinha acontecido no debate do Programa do Governo.

Por que razão isto não aconteceu?

O objetivo da esquerda situacionista é obviamente atingir a Iniciativa Liberal e o Chega. Por razões diferentes, são estes os partidos que mais podem ameaçar a narrativa socialista, daí a mordaça que lhes querem colocar na boca dos seus deputados. Arrisco-me mesmo a dizer que se fosse o Livre o único novo partido a entrar no Parlamento, os benefícios anteriormente concedidos ao PAN já estavam garantidos.

O que impressiona mais, contudo, é a ansiedade ridícula do PS e da extrema-esquerda para calarem André Ventura. Que o ministro Augusto Santos Silva regresse ao seu passado maoísta e critique que se dê palco aos “extremismos” (como se o Chega tivesse menos legitimidade para estar no Parlamento do que os restantes partidos), não me surpreende. Que a liderança de António Costa cometa um clamoroso erro político (que Ferro Rodrigues e até a habitual pouco perspicaz deputada Isabel Moreira conseguem detectar a olho nu) é que já é digno de registro.

O diagnóstico deste erro político é óbvio: quanto mais tentarem silenciar André Aventura, mais audível será a sua voz, quanto mais tentarem retirar-lhe palco, maior será a sua plateia e quanto mais lições de falta de espírito democrático continuarem a dar, mais força darão a movimentos que querem atacar a democracia liberal.

Recusar esse alargamento é o mesmo que dizer que os 75.140 votantes do PAN merecem mais respeito do PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV do que os 192.679 cidadãos que fizeram questão em eleger três novos partidos para o Parlamento.

Os piores inimigos da democracia não são aqueles que querem impor ditaduras (o que nem sequer é o caso de André Ventura). São aqueles pseudo-democratas que só gostam do pluralismo quando as diferentes tonalidades de vermelho e outras cores mais neutras são as únicas vozes autorizadas a se expressarem no Parlamento.

3 Ainda há uma remota hipótese de a reunião desta terça-feira na Comissão de Assuntos Constitucionais convocada a pedido de Ferro Rodrigues permita uma apreciação em tempo recorde da proposta da Iniciativa Liberal, mas é pouco provável. Até porque a proposta vai muito mais além da questão de falar no plenário e pretende mesmo equiparar os deputados únicos dos três novos partidos aos grupos parlamentares dos restantes seis partidos — matéria sobre a qual o PSD e o CDS já não concordam.

Certo é que o silenciamento dos três novos partidos permite dizer que o PS e a extrema-esquerda agem como se fossem os donos do regime, mantendo sob forte controlo as forças liberais e conservadoras. São os socialistas e os defensores do totalitarismo comunista quem concede a palavra a quem quer falar. São eles quem determinam o que é politicamente correto pensar. E são estes que zelam para que o espírito da sociedade socialista condicione o verdadeiro pluralismo da democracia portuguesa.

De democratas, coitados, têm muito pouco ou quase nada. São pequenos aprendizes de novas ditaduras que, direta ou indiretamente, ajudarão a construir ou a implementar no futuro.
Título e Texto: Luís Rosa, Observador, 11-11-2019, 7h13
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