O PS, Bloco e PCP querem controlar quem
fala, querem determinar o que é politicamente correto pensar e querem zelar
para que o espírito do socialismo condicione o pluralismo inerente à
democracia.
Luís Rosa
1 A história conta-se em poucas palavras. O PS, o Bloco de
Esquerda e o PCP esqueceram-se momentaneamente das recentes divergências
e uniram-se para
colocar uma mordaça nos três partidos que apenas têm um deputado. Apesar de
PSD, CDS e PAN serem a favor da abertura de uma exceção para que a Iniciativa
Liberal, Chega e Livre falassem no debate quinzenal com o primeiro-ministro
nesta 4.ª feira, a ex-Geringonça bloqueou a proposta.
Como bons situacionistas, PS,
Bloco e PCP receiam a mudança e usaram o formalismo do regimento parlamentar
(que impõe fortes restrições à participação do Chega, Iniciativa Liberal e Livre
no Parlamento) para silenciar os 192.679 cidadãos que votaram naqueles três
partidos.
Como as grandes multinacionais
que dominam os mercados, apelidados de “incumbentes” pelos respetivos
reguladores, mostraram ter medo das mensagens da concorrência dos novos
partidos. Compreende-se, pois podem perder quota de mercado.
Pior: nem sequer tiveram
coragem para assumir a medida. Como a Iniciativa Liberal apresentou um projeto
de reforma que reconhece mais direitos aos deputados únicos, a esquerda
situacionista empurrou um deputado daquele partido que apenas existe como
satélite do PCP para assumir as dores de todos. Segundo declarações de José
Luís Ferreira (Partido Ecologista Os Verdes) à Rádio Observador, não faz
sentido “criar um regime de exceção antes da discussão” da proposta dos
liberais. Até porque o deputado do PEV admite a eventualidade de o projeto dos
liberais ser chumbado (imagine-se!), o que levaria a um retrocesso na
atribuição dos tempos a estes partidos.
2 É óbvio que o problema resolvia-se facilmente com o
alargamento do regime de exceção que foi concedido na legislatura anterior ao
partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), até a proposta da Iniciativa Liberal
ser discutida. O deputado André Silva teve tempo na legislatura passada para
falar nos debates do Estado da Nação, nos debates quinzenais com o
primeiro-ministro e noutras ocasiões e o mesmo deveria ser permitido a Joacine
Katar Moreira (Livre), João Cotrim Figueiredo (Iniciativa Liberal) e André
Ventura (Chega). Aliás, isso já tinha acontecido no debate do Programa do
Governo.
Por que razão isto não
aconteceu?
O objetivo da esquerda
situacionista é obviamente atingir a Iniciativa Liberal e o Chega. Por razões
diferentes, são estes os partidos que mais podem ameaçar a narrativa
socialista, daí a mordaça que lhes querem colocar na boca dos seus deputados.
Arrisco-me mesmo a dizer que se fosse o Livre o único novo partido a entrar no
Parlamento, os benefícios anteriormente concedidos ao PAN já estavam
garantidos.
O que impressiona mais,
contudo, é a ansiedade ridícula do PS e da extrema-esquerda para calarem André
Ventura. Que o ministro Augusto Santos Silva regresse ao seu passado maoísta e
critique que se dê palco aos “extremismos” (como se o Chega tivesse menos
legitimidade para estar no Parlamento do que os restantes partidos), não me
surpreende. Que a liderança de António Costa cometa um clamoroso erro político
(que Ferro Rodrigues e até a habitual pouco perspicaz deputada Isabel Moreira
conseguem detectar a olho nu) é que já é digno de registro.
O diagnóstico deste erro
político é óbvio: quanto mais tentarem silenciar André Aventura, mais audível
será a sua voz, quanto mais tentarem retirar-lhe palco, maior será a sua
plateia e quanto mais lições de falta de espírito democrático continuarem a
dar, mais força darão a movimentos que querem atacar a democracia liberal.
Recusar esse alargamento é o
mesmo que dizer que os 75.140 votantes do PAN merecem mais respeito do PS,
Bloco de Esquerda, PCP e PEV do que os 192.679 cidadãos que fizeram questão em
eleger três novos partidos para o Parlamento.
Os piores inimigos da
democracia não são aqueles que querem impor ditaduras (o que nem sequer é o
caso de André Ventura). São aqueles pseudo-democratas que só gostam do
pluralismo quando as diferentes tonalidades de vermelho e outras cores mais
neutras são as únicas vozes autorizadas a se expressarem no Parlamento.
3 Ainda há uma remota hipótese de a reunião desta terça-feira
na Comissão de Assuntos Constitucionais convocada a pedido de Ferro Rodrigues
permita uma apreciação em tempo recorde da proposta da Iniciativa Liberal, mas
é pouco provável. Até porque a proposta vai muito mais além da questão de falar
no plenário e pretende mesmo equiparar os deputados únicos dos três novos
partidos aos grupos parlamentares dos restantes seis partidos — matéria sobre a
qual o PSD e o CDS já não concordam.
Certo é que o silenciamento
dos três novos partidos permite dizer que o PS e a extrema-esquerda agem
como se fossem os donos do regime, mantendo sob forte controlo as forças
liberais e conservadoras. São os socialistas e os defensores do totalitarismo
comunista quem concede a palavra a quem quer falar. São eles quem determinam o
que é politicamente correto pensar. E são estes que zelam para que o espírito
da sociedade socialista condicione o verdadeiro pluralismo da democracia
portuguesa.
De democratas, coitados, têm
muito pouco ou quase nada. São pequenos aprendizes de novas ditaduras que,
direta ou indiretamente, ajudarão a construir ou a implementar no futuro.
Título e Texto: Luís Rosa,
Observador,
11-11-2019, 7h13
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