Aparecido Raimundo de Souza
A MAIOR DE TODAS as religiões é ter um Deus vivo pulsando dentro de
vocês? A resposta a esta indagação é uma só. Sim! Se vocês não tiverem um Deus,
o mundo à volta, o universo, as suas vidas, enfim, os seus dias, as suas horas
no trabalho, mesmo as de lazer, tudo se tornará num grande e penoso inferno. E
o que significa religião? Ou melhor, o que é ter uma religião? As pessoas que
não professam uma crença por determinados seguimentos seriam consideradas
ímpias ou pecadoras, e, por essa lacuna, estariam fora da bem-aventurança de
Deus com passagem garantida para os quintos?
Vejam o que leciona Léon Denis em sua obra “Depois da Morte”. Explica ele
“que a palavra religião vem do latim – religare, que significa ligar, unir,
atar”. E esclarece, sem complicar: “Bem compreendida deveria ser um laço que
prendesse os homens entre si, unindo-os por um mesmo pensamento ao princípio
superior das coisas. Há na alma um sentimento natural que arrasta para um ideal
de perfeição em que se identificam o Bem e a Justiça”.
E prossegue: “Este sentimento, o mais nobre que poderemos experimentar,
se fosse esclarecido pela Ciência, fortificado pela razão, apoiado na liberdade
de consciência, viria a ser o móvel de grandes e generosas ações; mas,
manchando, falseado, materializado, tornou-se, muitas vezes, pelas inquietações
da teocracia, um instrumento de dominação egoística”. Do mesmo livro acima
citado, Léon vai um pouco mais além. Bate na tecla de que “a religião é
necessária e indestrutível por que se baseia na própria natureza do ser humano,
do qual ele resume e exprime as aspirações elevadas”.
Sinaliza, ainda o seguinte: “É, igualmente, a expressão das leis eternas,
e sob este ponto de vista, tende a confundir-se com a filosofia, fazendo com
que esta passe do domínio da teoria ao da execução, tornando-se vivaz e ativa”.
Mais um pouquinho à frente, o grande autor de “No Invisível” e “O Porque da
vida”, sustenta que: “para exercer uma influência salutar, para voltar a ser um
incitante de progresso e elevação, a religião deve despojar-se dos disfarces
com que se revestiu através dos séculos. Não são os seus elementos primordiais
que devem desaparecer, mas sim, as formas exteriores, os mitos obscuros, o
culto, as cerimônias. Cumpre evitar confundir coisas tão dessemelhantes”.
No nosso humilde entender, achamos que apesar dos ensinamentos de Leon, a
verdadeira religião é um sentimento. Um sentimento profundo, intocável,
imutável. E é, pois, no coração humano, e não nas formas ou manifestações
exteriores, que está o melhor templo do Eterno. Por isso, em nossa sã
consciência, devemos cultivá-lo, acima de qualquer coisa. No mesmo olhar,
devemos ter em conta, ainda, que a verdadeira religião não poderia ser
encerrada dentro de regras e ritos acanhados. Ela, em verdade, não necessita de
sacerdotes nem de fórmulas nem de imagens.
Em pensar quase idêntico, Camille Flammarion em seu famoso livro ‘La
Pluralité des Mondes Habités’, sustenta que “o homem perdeu a sua fé e a
segurança dos tempos antigos, que o nosso tempo é uma época de lutas, e que a
humanidade inquieta está à espera de uma filosofia religiosa na qual possa
depositar suas esperanças. Reparem, senhoras e senhores, que Flammarion
escreveu essas palavras em 1862, ou mais precisamente 157 anos atrás. Se formos
olhar com uma visão mais aprofundada e detalhista, chegaremos à conclusão que
dos idos de Camille até nossos dias, passando por Leon Denis, Allan Kardec,
Bezerra de Menezes, Chico Xavier, Cairbar Shutel, Ernesto Bozzano, nada,
absolutamente nada mudou.
A maior de todas as religiões continua sendo Deus. Deus, Esperança
Universal Soberana. Para que isso ocorra, todavia, se faz necessário mantê-lo
dentro de nós, vivo e pulsante em nossos corações. Sem os ares benfazejos do
Soberano, estaremos perdidos, sem saída, sem rumo, sem bússola. Os que não
professam uma religião estão literalmente fora dos planos do Eterno e os que
propagam, mas não seguem uma doutrina se verá encarcerado dentro de sua própria
imbecilidade espiritual. A alma deve estar sempre ligada, plugada vinte e quatro
horas no Bem e na Justiça. Sem o Bem, não teremos a glória, e sem a glória, não
veremos o paraíso.
Sem a Justiça, lado outro da moeda, ambas as coisas cairão
definitivamente por terra. Verificamos, nesse ponto do caminho, voltando aos
ensinamentos de Leon, “que, de dia para dia, diminui o número dos crentes
sinceros”. Pasmem senhoras e senhores. “A ideia de Deus, outrora simples e
grande nas almas, foi desnaturalizada pelo temor do inferno, e perdeu seu
poder. Na possibilidade de se elevarem até ao absoluto, certos homens a
acreditarem ser necessário adaptar à sua forma e medida tudo o que queriam
conceber”. E Ponto finaliza asseverando que: “Foi assim que rebaixaram Deus ao
nível deles próprio, atribuindo-lhes as suas paixões e fraquezas, amesquinhando
a Natureza e o Universo, e, sob o prisma da ignorância, decompondo em cores
diversas os argênteos raios da verdade”.
Sábias palavras. Prova inconteste e cabal desse particular caros
leitores, sem dúvida alguma, termos em números incontáveis, os falsos pastores,
os falsos profetas, os falsos curandeiros, os falsos servidores de Deus. Sem
falarmos na corrida desenfreada, desembestada de seguidores fictícios do
Altíssimo, abrindo a cada novo dia uma portinha em periferias humildes, à
consagração ou a elevação de igreja, quando, na verdade, esses senhores apenas
desejam ludibriar a boa fé dos inocentes, e, sobretudo, meter as mãos cheias de
dedos em seus bolsos. Essas criaturas acham que são felizes? São! Mas a
felicidade desses seres é falsa, é fictícia, se faz pujante somente em uma
metade. Em razão disso, a suposta
felicidade não prospera, não se dilata, não se edifica.
Queremos concluir nosso texto com as sábias palavras de Amália Domingo
Soler, nascida em Sevilha, na região de Andaluzia, Espanha. Ela disse com muita
propriedade em seu livro ‘Reencarnação e vida’, que: “A felicidade é uma nuvem
de fumo que se desfaz ao menor sopro de vento no furacão da vida, como se
desfaz a névoa aos primeiros raios do sol”. Senhoras e senhores, um alerta.
Cuidem da sua felicidade. A vida é breve, rápida, rasteira, passageira, ligeira
demais para que percamos tempo enganando aos mais carentes e aos mais
necessitados.
Em verdade, estamos enganando a nós mesmos. Em meio a tantos engodos e
ardis, charlatanarias e engambelações, há aquelas lábias de diferentes graus e
sabor. A saber: as suportáveis e as irresistíveis. A escolha entre as duas,
entendam, é sempre a de vocês, em face do livre arbítrio que lhes foi dado, de
graça, sem nada em troca, por Ele, o Onipresente e Onisciente. Repetindo o
óbvio, a maior e a melhor das religiões, é ter um Deus vivo pulsando dentro de
todos nós. O resto, bem, o resto é teologia barata.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de São
Paulo, Capital. 19-11-2019
Colunas anteriores:
Sabias palavras amigo escritor. Concordo. Devemos nos ater a Deus e não a ou as religiões. Devemos nos ater a uma vida de boas ações, e a tentarmos ser feliz, já que a felicidade e a vida se desfaz em um sopro.
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