terça-feira, 19 de novembro de 2019

[Aparecido rasga o verbo] Breves observações sobre a religião

Aparecido Raimundo de Souza

A MAIOR DE TODAS as religiões é ter um Deus vivo pulsando dentro de vocês? A resposta a esta indagação é uma só. Sim! Se vocês não tiverem um Deus, o mundo à volta, o universo, as suas vidas, enfim, os seus dias, as suas horas no trabalho, mesmo as de lazer, tudo se tornará num grande e penoso inferno. E o que significa religião? Ou melhor, o que é ter uma religião? As pessoas que não professam uma crença por determinados seguimentos seriam consideradas ímpias ou pecadoras, e, por essa lacuna, estariam fora da bem-aventurança de Deus com passagem garantida para os quintos?

Vejam o que leciona Léon Denis em sua obra “Depois da Morte”. Explica ele “que a palavra religião vem do latim – religare, que significa ligar, unir, atar”. E esclarece, sem complicar: “Bem compreendida deveria ser um laço que prendesse os homens entre si, unindo-os por um mesmo pensamento ao princípio superior das coisas. Há na alma um sentimento natural que arrasta para um ideal de perfeição em que se identificam o Bem e a Justiça”.

E prossegue: “Este sentimento, o mais nobre que poderemos experimentar, se fosse esclarecido pela Ciência, fortificado pela razão, apoiado na liberdade de consciência, viria a ser o móvel de grandes e generosas ações; mas, manchando, falseado, materializado, tornou-se, muitas vezes, pelas inquietações da teocracia, um instrumento de dominação egoística”. Do mesmo livro acima citado, Léon vai um pouco mais além. Bate na tecla de que “a religião é necessária e indestrutível por que se baseia na própria natureza do ser humano, do qual ele resume e exprime as aspirações elevadas”.

Sinaliza, ainda o seguinte: “É, igualmente, a expressão das leis eternas, e sob este ponto de vista, tende a confundir-se com a filosofia, fazendo com que esta passe do domínio da teoria ao da execução, tornando-se vivaz e ativa”. Mais um pouquinho à frente, o grande autor de “No Invisível” e “O Porque da vida”, sustenta que: “para exercer uma influência salutar, para voltar a ser um incitante de progresso e elevação, a religião deve despojar-se dos disfarces com que se revestiu através dos séculos. Não são os seus elementos primordiais que devem desaparecer, mas sim, as formas exteriores, os mitos obscuros, o culto, as cerimônias. Cumpre evitar confundir coisas tão dessemelhantes”.

No nosso humilde entender, achamos que apesar dos ensinamentos de Leon, a verdadeira religião é um sentimento. Um sentimento profundo, intocável, imutável. E é, pois, no coração humano, e não nas formas ou manifestações exteriores, que está o melhor templo do Eterno. Por isso, em nossa sã consciência, devemos cultivá-lo, acima de qualquer coisa. No mesmo olhar, devemos ter em conta, ainda, que a verdadeira religião não poderia ser encerrada dentro de regras e ritos acanhados. Ela, em verdade, não necessita de sacerdotes nem de fórmulas nem de imagens.

Em pensar quase idêntico, Camille Flammarion em seu famoso livro ‘La Pluralité des Mondes Habités’, sustenta que “o homem perdeu a sua fé e a segurança dos tempos antigos, que o nosso tempo é uma época de lutas, e que a humanidade inquieta está à espera de uma filosofia religiosa na qual possa depositar suas esperanças. Reparem, senhoras e senhores, que Flammarion escreveu essas palavras em 1862, ou mais precisamente 157 anos atrás. Se formos olhar com uma visão mais aprofundada e detalhista, chegaremos à conclusão que dos idos de Camille até nossos dias, passando por Leon Denis, Allan Kardec, Bezerra de Menezes, Chico Xavier, Cairbar Shutel, Ernesto Bozzano, nada, absolutamente nada mudou.

A maior de todas as religiões continua sendo Deus. Deus, Esperança Universal Soberana. Para que isso ocorra, todavia, se faz necessário mantê-lo dentro de nós, vivo e pulsante em nossos corações. Sem os ares benfazejos do Soberano, estaremos perdidos, sem saída, sem rumo, sem bússola. Os que não professam uma religião estão literalmente fora dos planos do Eterno e os que propagam, mas não seguem uma doutrina se verá encarcerado dentro de sua própria imbecilidade espiritual. A alma deve estar sempre ligada, plugada vinte e quatro horas no Bem e na Justiça. Sem o Bem, não teremos a glória, e sem a glória, não veremos o paraíso.

Sem a Justiça, lado outro da moeda, ambas as coisas cairão definitivamente por terra. Verificamos, nesse ponto do caminho, voltando aos ensinamentos de Leon, “que, de dia para dia, diminui o número dos crentes sinceros”. Pasmem senhoras e senhores. “A ideia de Deus, outrora simples e grande nas almas, foi desnaturalizada pelo temor do inferno, e perdeu seu poder. Na possibilidade de se elevarem até ao absoluto, certos homens a acreditarem ser necessário adaptar à sua forma e medida tudo o que queriam conceber”. E Ponto finaliza asseverando que: “Foi assim que rebaixaram Deus ao nível deles próprio, atribuindo-lhes as suas paixões e fraquezas, amesquinhando a Natureza e o Universo, e, sob o prisma da ignorância, decompondo em cores diversas os argênteos raios da verdade”.

Sábias palavras. Prova inconteste e cabal desse particular caros leitores, sem dúvida alguma, termos em números incontáveis, os falsos pastores, os falsos profetas, os falsos curandeiros, os falsos servidores de Deus. Sem falarmos na corrida desenfreada, desembestada de seguidores fictícios do Altíssimo, abrindo a cada novo dia uma portinha em periferias humildes, à consagração ou a elevação de igreja, quando, na verdade, esses senhores apenas desejam ludibriar a boa fé dos inocentes, e, sobretudo, meter as mãos cheias de dedos em seus bolsos. Essas criaturas acham que são felizes? São! Mas a felicidade desses seres é falsa, é fictícia, se faz pujante somente em uma metade.  Em razão disso, a suposta felicidade não prospera, não se dilata, não se edifica.

Queremos concluir nosso texto com as sábias palavras de Amália Domingo Soler, nascida em Sevilha, na região de Andaluzia, Espanha. Ela disse com muita propriedade em seu livro ‘Reencarnação e vida’, que: “A felicidade é uma nuvem de fumo que se desfaz ao menor sopro de vento no furacão da vida, como se desfaz a névoa aos primeiros raios do sol”. Senhoras e senhores, um alerta. Cuidem da sua felicidade. A vida é breve, rápida, rasteira, passageira, ligeira demais para que percamos tempo enganando aos mais carentes e aos mais necessitados.

Em verdade, estamos enganando a nós mesmos. Em meio a tantos engodos e ardis, charlatanarias e engambelações, há aquelas lábias de diferentes graus e sabor. A saber: as suportáveis e as irresistíveis. A escolha entre as duas, entendam, é sempre a de vocês, em face do livre arbítrio que lhes foi dado, de graça, sem nada em troca, por Ele, o Onipresente e Onisciente. Repetindo o óbvio, a maior e a melhor das religiões, é ter um Deus vivo pulsando dentro de todos nós. O resto, bem, o resto é teologia barata.   
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de São Paulo, Capital. 19-11-2019

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Um comentário:

  1. Sabias palavras amigo escritor. Concordo. Devemos nos ater a Deus e não a ou as religiões. Devemos nos ater a uma vida de boas ações, e a tentarmos ser feliz, já que a felicidade e a vida se desfaz em um sopro.

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