Carlos Eduardo Sodré Lanna
Foi dura a realidade
encontrada pelos portugueses ao aqui chegarem em 1500. Com efeito, os nativos
não correspondiam ao mito do que Rousseau chamaria mais tarde do “bom selvagem”
numa América paradisíaca. Antes de ser descoberto, o Brasil era habitado por um
conjunto heterogêneo de tribos indígenas nômades e seminômades, contrárias a
qualquer organização superior e em permanente estado de guerra entre si.
Entre eles predominavam
práticas de canibalismo, sacrifício humano, infanticídio, eutanásia e muitas
outras violações da lei natural, além de rituais sinistros, como o uso de
bebidas alucinógenas, terminando quase sempre em atos de idolatria e aberrações
morais. Ao tomar conhecimento de tamanhos absurdos, nem a Igreja nem Portugal
se omitiram de levar a cabo suas iniciativas e obrigações, entre as quais
ocupava especial lugar a propagação fé e do império.
Nesta colossal obra a unir
altar e trono, nossos denodados antepassados atravessaram o oceano em precárias
caravelas e aqui aportaram com milhares de missionários que se embrenharam
pelas montanhas e selvas. Afastadas as trevas do paganismo, os indígenas
conheceram o verdadeiro Sol da Justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo, e aprenderam
a amar a sua santíssima Mãe, a Virgem Maria, abrindo-se para eles as sendas da
civilização cristã.
Assim nasceu o Brasil, com a
dedicação épica dos descobridores, conquistadores, prelados, oficiais e
soldados, fundadores de povos e cidades, evangelizadores, colonizadores e
civilizadores. Passados 500 anos, como tudo é diferente nesse panorama,
sobretudo se analisarmos o aspecto moral e religioso nos ambientes e costumes
de nosso clero, de nossa elite dirigente, com reflexos não pequenos em inúmeros
brasileiros.
Tomemos, por exemplo, a
situação dos nossos indígenas, muitos deles ainda vivendo em situação precária
nas selvas, sem conhecerem o conforto da civilização, e com muitos dos que se
arvoram seus defensores querendo perpetuá-los ali como num zoológico, tratando-os
como se não fossem seres humanos e redimidos pelo Sangue preciosíssimo de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Pior. Tentam transformá-los em modelos vivos para o homem
novo que tentam criar.
Perplexos, acabamos de
assistir à realização em Roma do Sínodo sobre a Amazônia, com as suas
consequências nefastas para a Igreja e a civilização ocidental com seus restos
de cristandade. Sínodo longamente preparado por órgãos como o Conselho
Missionário Indigenista (CIMI), as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e, mais
recentemente, a Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), sob os auspícios de
purpurados e bispos. No Vaticano do Papa Francisco realizou-se um show
tristemente célebre de cerimônia pagã, no qual houve um culto de adoração a uma
estátua seminua denominada Pachamama, Mãe-Terra.
Segundo estimativas, há hoje
no Brasil cerca de 800 mil índios, metade dos quais vivendo nas áreas rurais e
a outra metade em terras demarcadas pelo governo federal, ocupando uma área de
13% do território nacional, ou seja, o dobro da área cultivada pelos
agricultores brasileiros. Segundo recentes palavras da Ministra Damares Alves,
o infanticídio ainda é praticado em pelo menos 20 tribos, contra crianças de
diferentes idades e condições — gêmeas; portadoras de defeitos físicos ou
mentais; ou ainda de doenças desconhecidas. Por exemplo, se a mãe descobrir
muito mais tarde que a criança é surda, deverá sacrificá-la em nome de sua
“cultura” indígena! Essas crianças são enterradas vivas, estranguladas ou
deixadas na mata para morrer ou serem devoradas por animais e insetos!
Apesar de a Constituição
Federal garantir aos índios a proteção de seus usos e costumes, sobretudo ela
garante o direito à vida, fonte de todos os direitos, que deve sobrepor-se às
suas práticas culturais. Na verdade, o infanticídio entre esses silvícolas
consiste no assassinato de crianças indesejadas.
Com base no último censo do
IBGE, a partir do ano 2000 até agora, para cada mil crianças indígenas nascidas
vivas, 51,4 % morrem antes de um ano de vida, taxa elevadíssima se comparada
aos não índios. Havia vários — ou ainda os há — casos de tolerância da Fundação
Nacional do Índio-FUNAI, de antropólogos e até mesmo de “missionários” agindo
no sentido de “proteger a pureza original e cultural” dos índios à prática do
infanticídio, o que não passa de uma iníqua aprovação do cruel assassinato de
recém-nascidos deficientes pela simples razão de os silvícolas acreditarem que
são espíritos maus.
Prometo voltar em breve ao
tema. Até lá.
Título e Texto: Carlos
Eduardo Sodré Lanna, ABIM,
23-11-2019
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