domingo, 10 de novembro de 2019

Um homem de saia no Parlamento

Cristina Miranda

Não foi acaso nenhum. Nem sequer foi uma escolha inocente. A indumentária do assessor de Joacine Katar foi pensada do mesmo jeito que Rui Tavares pensou na Joacine para cabeça de lista do Livre: estratégia.

O Livre, que não ganhava nada com seu líder apostou na diferença – digamos que muito original – para chamar eleitorado, criando a ideia de ser extremamente inclusivo com os “desfavorecidos”. Já havia negras na política, mas negras gagas, muito gagas, feministas radicais era revolucionário. Quem se lembraria de tal?

Ora, se com a primeira fase da estratégia funcionou às mil maravilhas e com isso elegeu um deputado, a segunda foi ainda melhor: colocar as pessoas todas a criticar o “pobre” transgénero” mostrando que somos um povo “mesquinho” e “conservador” adverso à diferença e assim  claramente dizer  ao país ao que vinha e porque era necessário uma pessoa como ela, Joacine, no Parlamento: acabar “radicalmente” com o preconceito e a discriminação das minorias. Como? Apresentando-se no primeiro dia ao Parlamento com um assessor de… saia. Foi perfeito!

Quase todas as pessoas caíram na “armadilha” e foram apanhadas a falar do óbvio, sem discriminação, mas foi o bastante para que toda a ala esquerda conseguisse passar a mensagem do Livre: “estão a ver como eles são “intolerantes” às minorias? Percebem agora porque o Livre faz tanta falta na Assembleia da República?”.

O ridículo das justificações para a saia do assessor não teve limites. Desde alegar que Afonso Henriques também as usou, a comparar com o traje tradicional dos escoceses, tudo serviu. Só faltou falar sobre os romanos e egípcios, mas deve ter sido só por mero esquecimento.

Ao contrário da maioria, desde o primeiro minuto desconfiei daquela indumentária e por isso não reagi de imediato. Preferi aguardar para ver se o tempo me mostrava a verdade por detrás daquela imagem que me intrigava e eis que me enviam esta foto: Alexandria Ocasio-Cortez com um apresentador ativista LGBTQ no Congresso americano.


Dirão que são meras coincidências. Eu digo, são construções. É recorrer ao choque social para mostrar que são “diferentes” no tratamento das minorias.

Mas isso é falso. Se há grupo que menos importância dá às minorias são precisamente os radicais de esquerda. Eles não se preocupam com eles. Usam-nos. Mas não todos: as minorias pobres, brancas ou heterossexuais, não interessam para nada; os idosos e crianças abandonadas (ou traficadas) não lhes interessam para nada; os deficientes também são ignorados; os cristãos perseguidos e assassinados menos ainda. Na agenda só gente de outras raças (menos brancos) e LGBTQ. Precisamente os grupos que eles sabem que criam fissuras na sociedade porque esse é o objetivo.

Se as esquerdas radicais quisessem mesmo lutar pelas minorias não fariam nada para criar atritos com as maiorias, como é óbvio. Sendo o objetivo a inclusão, não faz sentido nenhum provocar o desentendimento entre grupos, instigar ódios, impor agendas que privilegiam descaradamente e de forma completamente injusta uns em detrimento de outros.

Incluir pressupõe que haja aceitação e para haver aceitação de um grupo em relação a outro não pode haver luta entre eles. Tem de se baixar as barreiras que os separam de forma natural e sem recurso à violência nem por imposição da lei. O problema é que no dia em que as esquerdas radicais pararem de instigar a luta das minorias contra as maiorias, perdem voz, perdem poder, perdem as causas pelas quais dizem “lutar” e “morrem” politicamente.

Por essa razão, isto não passa de show-off. O assessor de Joacine sabia que ir de saia no dia da apresentação dos deputados no Parlamento iria pôr o país a falar dele. Sabia que não era a vestimenta apropriada para aquele evento. Que tal como numa discoteca, num casino, numa gala, numa igreja e tantos outros locais e eventos, onde não se entra como queremos e bem nos apetece, esse não é o “dress code” apropriado na casa da Nação. Mas o objetivo foi mesmo esse: quebrar o protocolo e criar histeria. A prova veio nos dias seguintes: foi à tomada de posse do Governo de fato (muito bem) mas foi ao programa da Cristina de calças quando, naquele contexto descontraído, podia ter ido de saias. E não, não foi por medo das críticas.

Portugal é um país muito tolerante e amigo dos estrangeiros. Por isso temos uma sociedade colorida por quase toda a parte até ao próprio Parlamento. Evocar racismo e discriminação é útil para os partidos políticos continuarem a capitalizar votos à conta dele.
Metam uma coisa na cabeça: esta esquerda radical, onde se inclui o LIVRE, nunca dá ponto sem nó.  Com saias ou sem elas.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias, 7-11-2019

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