sábado, 9 de outubro de 2021

As diretrizes da comunidade

O trancamento de um canal com embargo de todas as suas veiculações a partir de uma suposta infração que ninguém sabe dizer qual é não tem parentesco com os valores da democracia

Guilherme Fiuza

O YouTube suspendeu o canal do programa jornalístico dominical 4 por 4 alegando “informações médicas incorretas”. A decisão foi acompanhada da remoção integral da edição do programa veiculada no dia 3 de outubro. A outra punição anunciada pela plataforma foi a proibição ao canal de postar vídeos durante sete dias — atingindo, portanto, a veiculação semanal do programa em sua edição seguinte (10 de outubro).

O vídeo do programa removido pelo YouTube abordava o assunto das vacinas contra covid. E comentava especificamente o caso do jovem advogado Bruno Oscar Graf, vacinado no dia 14 de agosto e morto no dia 26 de agosto (AVC hemorrágico). Bruno tinha 28 anos, era saudável e não tinha nenhum histórico de problemas cardiovasculares. A mãe de Bruno, Arlene Ferrari Graf, enviou carta ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, relatando a total ignorância da família sobre riscos da vacina contra covid e pedindo que a política nacional de imunização passasse a prestar esclarecimentos sobre os efeitos adversos que vêm sendo verificados a partir da vacinação contra covid. Os integrantes do programa leram ao vivo a carta da mãe do jovem morto.

O YouTube não esclareceu quais eram as “informações médicas incorretas” presentes no vídeo removido do canal 4 por 4. Essa e outras plataformas digitais têm visado e suprimido diversos conteúdos relativos ao assunto das vacinas contra covid. No caso do programa que levou à suspensão do canal jornalístico ancorado por Luís Ernesto Lacombe, a partir da abordagem do caso de Bruno Graf avaliava-se o estágio de desenvolvimento das vacinas e apontava-se o status inconcluso da eficácia e da segurança dessas substâncias.

Intervenção em autoria alheia sem exposição clara de motivos não é critério, é censura

Onde estariam as informações médicas incorretas, alegadas pela plataforma para punir, limitar, intervir, suprimir e embargar o canal? É impossível saber, porque os responsáveis pela empresa não entram em detalhes. Se o objetivo é levar os usuários ao devido cumprimento das chamadas “diretrizes da comunidade”, como esperar que esse tipo de punição contribua para o atendimento desse objetivo?

Uma punição grosseira não pode ser pedagógica. Um ato de eliminação de conteúdo sem especificação da mensagem supostamente incorreta não se parece com o cumprimento de uma “diretriz” de boa convivência. O trancamento de um canal com embargo de todas as suas veiculações a partir de uma suposta infração que ninguém sabe dizer qual é não tem parentesco com os valores da transparência democrática.

As plataformas de rede social são instituições privadas. Se quiserem adotar critérios autoritários de permissão para o seu uso elas podem — mas proceder dessa forma alegando preservação do ambiente contra infratores não fica bem. Intervenção em autoria alheia sem exposição clara de motivos não é critério, é censura.

Enquanto este texto era redigido, o YouTube devolveu ao canal do programa 4 por 4 o vídeo removido e retirou o embargo para novas veiculações. É mais uma esperança de que a plataforma aprimore de forma saudável seus critérios para a produção dos usuários e não ceda a certas tendências momentâneas de imposição de “verdades”.

Além de Luís Ernesto Lacombe, integram o 4 por 4 os colunistas da revista Oeste Ana Paula Henkel, Rodrigo Constantino e este signatário. Todos comprometidos com o debate leal e a busca da informação relevante, sem especulações, não só sobre os difíceis temas relativos à pandemia como sobre todos os assuntos que sejam de interesse do público.

Título e Texto: Guilherme Fiuza, revista OESTE, nº 81, 8-10-2021

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