O trancamento de um canal com embargo de todas as suas veiculações a partir de uma suposta infração que ninguém sabe dizer qual é não tem parentesco com os valores da democracia
Guilherme Fiuza
O YouTube suspendeu o canal do programa jornalístico dominical 4 por 4 alegando “informações médicas incorretas”. A decisão foi acompanhada da remoção integral da edição do programa veiculada no dia 3 de outubro. A outra punição anunciada pela plataforma foi a proibição ao canal de postar vídeos durante sete dias — atingindo, portanto, a veiculação semanal do programa em sua edição seguinte (10 de outubro).
O vídeo do programa removido
pelo YouTube abordava o assunto das vacinas contra covid. E comentava
especificamente o caso do jovem advogado Bruno Oscar Graf, vacinado no dia 14
de agosto e morto no dia 26 de agosto (AVC hemorrágico). Bruno tinha 28 anos,
era saudável e não tinha nenhum histórico de problemas cardiovasculares. A mãe
de Bruno, Arlene Ferrari Graf, enviou carta ao ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga, relatando a total ignorância da família sobre riscos da vacina contra
covid e pedindo que a política nacional de imunização passasse a prestar esclarecimentos
sobre os efeitos adversos que vêm sendo verificados a partir da vacinação
contra covid. Os integrantes do programa leram ao vivo a carta da mãe do jovem
morto.
O YouTube não esclareceu quais
eram as “informações médicas incorretas” presentes no vídeo removido do
canal 4 por 4. Essa e outras plataformas digitais têm visado e
suprimido diversos conteúdos relativos ao assunto das vacinas contra covid. No
caso do programa que levou à suspensão do canal jornalístico ancorado por Luís
Ernesto Lacombe, a partir da abordagem do caso de Bruno Graf avaliava-se o
estágio de desenvolvimento das vacinas e apontava-se o status inconcluso
da eficácia e da segurança dessas substâncias.
Intervenção
em autoria alheia sem exposição clara de motivos não é critério, é censura
Onde estariam as informações médicas incorretas, alegadas pela plataforma para punir, limitar, intervir, suprimir e embargar o canal? É impossível saber, porque os responsáveis pela empresa não entram em detalhes. Se o objetivo é levar os usuários ao devido cumprimento das chamadas “diretrizes da comunidade”, como esperar que esse tipo de punição contribua para o atendimento desse objetivo?
Uma punição grosseira não pode
ser pedagógica. Um ato de eliminação de conteúdo sem especificação da mensagem
supostamente incorreta não se parece com o cumprimento de uma “diretriz” de boa
convivência. O trancamento de um canal com embargo de todas as suas veiculações
a partir de uma suposta infração que ninguém sabe dizer qual é não tem
parentesco com os valores da transparência democrática.
As plataformas de rede social
são instituições privadas. Se quiserem adotar critérios autoritários de
permissão para o seu uso elas podem — mas proceder dessa forma alegando
preservação do ambiente contra infratores não fica bem. Intervenção em autoria
alheia sem exposição clara de motivos não é critério, é censura.
Enquanto este texto era
redigido, o YouTube devolveu ao canal do programa 4 por 4 o
vídeo removido e retirou o embargo para novas veiculações. É mais uma esperança
de que a plataforma aprimore de forma saudável seus critérios para a produção
dos usuários e não ceda a certas tendências momentâneas de imposição de
“verdades”.
Além de Luís Ernesto Lacombe,
integram o 4 por 4 os colunistas da revista Oeste Ana
Paula Henkel, Rodrigo Constantino e este signatário. Todos comprometidos com o
debate leal e a busca da informação relevante, sem especulações, não só sobre
os difíceis temas relativos à pandemia como sobre todos os assuntos que sejam
de interesse do público.
Título e Texto: Guilherme
Fiuza, revista
OESTE, nº 81, 8-10-2021
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