quarta-feira, 3 de agosto de 2022

“Reviver Centro é o Cacete!” – Cueca ‘Calvin Klein’ a 5 reais, compra de ouro roubado e caos na rua Uruguaiana

Frequentadores do Centro apelidaram caos que se tornou a rua Uruguaiana, esquina de rua do Ouvidor de "Mercado Andino". Lá, mercadoria falsificada, contrafeita e roubada ocupa praticamente toda a rua, sem espaço sequer para o trânsito de pedestres. Enquanto isso, o comércio da rua está falindo

Quintino Gomes Freire

Paulo Veiga da Silva trabalha como segurança num prédio na rua Uruguaiana. Entrevistado pelo DIÁRIO, disse que não entra numa loja de roupas há muito tempo; explica que frequenta o “mercado andino” e compra todas as suas “roupas de marca” ali mesmo, no chão da rua que ficou famosa pelas suas lojas de linha branca e grandes magazines, como foi no caso da Sloper, que hoje é uma Leader Magazine. 

Valdemar Barboza é gestor do Shopping Paço do Ouvidor, grande edifício espelhado de propriedade de um fundo, que amarga uma praça de alimentação tinindo de nova, mas apenas uma loja ocupada. Explica que a reforma da grande praça, com acesso por escadas rolantes e 14 lojas, ar refrigerado central, televisão, banheiros luxuosos, custou 6 milhões de reais ao seu proprietário, e que mesmo antes da pandemia, a locação de lojas vem sendo dificultada principalmente pelo caos que se tornou o local, após a prefeitura de Marcelo Crivella.

Os camelôs que ocupam toda a rua Uruguaiana vendem roupas falsificadas de marcas como Calvin Klein, Nike, Balenciaga, Gucci e Adidas por valores como 5 reais, e ainda anunciam isto em placas de proporções agigantadas. São em sua maioria estrangeiros de países latinos, e além de urinar pelas ruas, jogar restos de quentinhas por toda a parte, vendem criminosamente mercadoria falsificada, sem contar os que compram cordões de ouro roubado“, explica o gestor, preocupado com a situação da rua, que conta com mais de uma dezena de lojas vazias. Ele explica que proprietários de imóveis na região se uniram, criaram uma associação, conseguiram redução de impostos, investem no monitoramento dos problemas da área, mas que nada disso funciona enquanto não houver um mínimo de ordem.

Para Wilton Alves, diretor da Sergio Castro Imóveis, “é ininteligível que se possa cometer crimes assim, às claras. A mercadoria vendida é praticamente toda falsificada, criminosa portanto. Se ser camelô pode vir a ser um reflexo da necessidade, mas vender contrabando e comprar o que os outros roubam não deveria ser tolerado. Temos alugado bastantes lojas, mas o pessoal não quer vir pra Uruguaiana, porque aqui a concorrência dos criminosos é direta com quem paga impostos e gera empregos“.

A situação da Uruguaiana no dia a dia é de total caos; os estrangeiros tomaram as calçadas e é absolutamente intransitável. Da mesma forma, os camelôs se comportam de forma ameaçadora quando tentamos tirar fotos, razão pela qual acabamos optando por usar fotos do Google Street View, mas a situação é exatamente esta, todos os dias, exceto durante um dia da semana retrasada, quando a Prefeitura fez sua última operação no local. Nesta operação – ninguém entendeu nada – a Prefeitura agiu como agia antigamente, do nada, e foi lá e expulsou os vendedores de mercadoria ilegal, deixando a rua transitável e com aspecto da época pré-Crivella.

Hurley falsificada sai a 5 reais. Na frente, o comerciante tenta sobreviver vendendo a mesma coisa, sem ser falsa, pelo preço de quem paga impostos e dá emprego. Na foto, o vendedor do ‘mercado andino’.

Recentemente, uma grande empresa de material esportivo presente no mundo todo visitaria uma das lojas que se encontra vazia na região, acompanhada do corretor Rodolfo Rique. “O cliente veio com o carro pela Ouvidor. Os camelôs são tantos que não dava pra passar com o carro, mas com muita má vontade iam afastando suas tendas. Um deles bateu no carro com a mão e disse: – pra passar tem que me dar 20 reais. O executivo olhou o caos à sua volta e desistiu de entrar na loja. Menos uma locação pro Centro.” Rique disse que o executivo que buscava uma loja de 800m2 no Centro, foi embora e exclamou: Reviver Centro é o Cacete!

Os valores de locação dos imóveis no local caíram bastante segundo informações de mercado, e o problema não têm sido proprietários gulosos. Na verdade, o que fica cada vez mais claro é que o abandono do espaço público, os imóveis invadidos, a transformação da camelotagem numa grande e organizada quadrilha de venda sempre das mesmas mercadorias falsas e contrabandeadas, a ocupação da rua pelo caos absoluto e pela receptação e o aspecto de violência e criminalidade são a verdadeira razão do esvaziamento do Centro. É lógico que a vinda de novos moradores para os empreendimentos que estão sendo lançados na região vai ajudar a aumentar a demanda e a frequência no Centro. Mas um prédio demora 3 anos pra ficar pronto, em média. E até lá? Continua o ‘mad max’ inventado por Crivella e adotado, infelizmente com louvor, pelo novo Eduardo Paes?

Todos entendemos que Eduardo Paes quer se posicionar contra Bolsonaro, na sua luta política de centro (centro-esquerda?). Mas pra ser de centro-esquerda ele não precisa adotar criminosos, proteger falsificadores, contrabandistas e nem receptadores. Ele pode tolerar o camelô que trabalha sem licença? Pela lei não poderia, mas se decidiu fazê-lo, que pelo menos obrigue este camelô a vender mercadoria legal, que afaste o ambulante comprador de ouro roubado na esquina mais próxima, que exija que pelo menos trabalhe na calçada e não no meio da rua. Não dá para reconhecer este Eduardo Paes que abraçou o caos, que flerta com a imundície, que dá guarida à desordem. Não precisa odiar a ordem para ser de centro ou de centro-esquerda, da mesma forma que nem todo político de direita participa de rachadinha. O Centro do Rio está à deriva. Será que certo está o executivo que disse ao corretor que Reviver Centro é o Cacete? Esperamos que não.

Título, Imagens e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 2-8-2022

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