Rodrigo Constantino
Preciso confessar ao leitor: tenho, atualmente, mais implicância com tucanos do que com petistas. Petistas são mais escancarados, toscos, flertam abertamente com ditadores comunistas, estampam ao mundo sua ambição pelo poder. Já os tucanos são dissimulados, afetam ar de refinamento, falam em "mercado", mas acabam fazendo o L para "salvar a democracia". São, enfim, mais cínicos.
"Brasil sobe a escada e,
em um ano, recupera grau de investimento", diz Luiz Carlos Mendonça de
Barros ao Globo. Quando o jornal menciona o risco fiscal apontado pela S&P,
o economista tucano responde:
O problema fiscal é mundial, e
só os mais conservadores olham isso. A elevação da nota surpreendeu e foi um
tapa com luva de pelica naqueles que são pessimistas com o Brasil, inclusive o
Banco Central, que deu um azar danado em sua última ata adotando um tom mais
duro. Todos os pessimistas agora estão fazendo sua autocrítica. É um erro achar
que tudo vai dar errado apenas por conta da questão fiscal. Não se viu essa
força da recuperação da economia. O pessoal errou o ano todo nas previsões.
Essa mania chata que os
"mais conservadores" têm de fazer conta é mesmo uma bobagem! Onde já
se viu se preocupar com os rombos fiscais crescentes e insustentáveis, num país
que já tem carga tributária escandinava e endividamento japonês? Tudo vai ser
uma maravilha com Haddad, o novo "queridinho" dos tucanos.
Já na parte institucional, vamos apostar na conduta ilibada da turma indicada por Lula! O editorial do Estadão até levanta os riscos, diz que a missão de Paulo Gonet na PGR será árdua, mas o jogo de cena não pode ser mera ingenuidade: é cinismo mesmo! Diz o jornal tucano:
Seja qual for o discurso, há
uma hostilidade contra a independência do Ministério Público. Não cabe
puerilidade. A condução responsável e autônoma da PGR é incompatível com a lua
de mel que o PT almeja ter com o órgão. Se Paulo Gonet deseja cumprir, de forma
técnica e independente, suas atribuições constitucionais, ele certamente vai
contrariar Lula da Silva e sua legenda, cujo histórico é de empedernido
negacionismo em relação a toda e qualquer corrupção e mau uso de recursos
públicos.
O editorial do Estadão repete
a ladainha petista contra a Lava Jato, força falsa equivalência entre Lula e
Bolsonaro e ainda elogia o arbítrio supremo na "defesa do Estado
Democrático de Direito". Como levar a sério esse tipo de premissa? Tucanos
servem para trampolim de comunistas!
Por falar nisso, um jornalista
gaúcho e tucano diminui o risco comunista de Flavio Dino no STF: "O tom de
Lula não deixa margem para dúvida. Estava fazendo galhofa com bolsonaristas.
Ainda assim, foi pouco prudente. Forneceu munição aos adversários, colocou um
alvo em Dino e provocou um debate ideológico estéril, mesmo que limitado a uma
bolha que só reverbera pela estridência. No mundo real trata-se de um não
assunto, como é de costume uma indicação ao STF, seja de que presidente for. As
preocupações objetivas da população são outras, e tratam de temas menos
dogmáticos e mais práticos".
O tucano insiste: "Dino,
é verdade, foi filiado ao Partido Comunista do Brasil, mas isso é insuficiente
para defini-lo como um militante ativo das teses de Karl Marx". Com
"adversários" e "críticos" como esses tucanos, os comunistas
que clamam por censura, aparelhamento institucional e controle total do estado
não precisam perder um minuto do sono mesmo. O avanço petista jamais seria
possível sem a cumplicidade cínica desses tucanos.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 20-12-2023, 11h07
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