domingo, 17 de dezembro de 2023

[As danações de Carina] Rabiscos ilegíveis

Carina Bratt  

SE EXISTEM ALGUMAS ‘COISAS BOAS’ que eu ainda não encontrei na minha vida, certamente, mais hoje, ou amanhã, a oportunidade de topar com elas, baterá à minha porta. Ou interfonará aos cuidados do senhor Ricardo ou do senhor Manoel, os vigias da Torre onde moro. Faço referência às ‘coisas boas’ no sentido de oportunidades que me trarão momentos de Felicidades plenas. 

Chances que me farão pular de alegria e contentamento. Propósitos que me deixarão de boca aberta e os olhos arregalados de exultações. Instantes imorredouros em que me verei pulando como pipocas tresloucadas dentro de uma panela e, no mesmo norte, a ponto de me flagrar sorrindo de um canto a outro da jovem ‘euzinha-risonha-e encantada’ que habita faz muitos janeiros dentro de mim. Não tenho pressa, confesso. Não me afobo, não me desespero, não me rasgo. Menos ainda me descabelo. 

No momento exato toparei com ‘aventuranças’ novas, com momentos do mais puro regozijo e deleite. Prazimentos e ledices que eu sequer tinha em mente fossem acontecer. Me considero uma pessoa boa. De coração aberto. De alma exposta. Comprometida com a sinceridade transparente e cordial. Uma generosidade espetaculosa, isenta de máscaras e dissimulações, sem caras e bocas amordaçadas ou ‘socapadas.’ 

Sempre que posso, procuro fazer o bem. Espalhar atrativos que deixem meus vizinhos aqui do meu andar e, no geral, de toda a fortaleza até o vértice como um todo. Carrego no âmago a certeza de que sou uma criatura desprovida de maldades e imposturas, disparates e perfídias, picuinhas e ‘nequícias do bicho boi’ -, como asseverou o grande escritor Guimarães Rosa em seu livro Sagarana.’‘ Atropelos que a meu entendimento poderiam afastar quem tentasse se aproximar. 

Fosse essa aproximação para um simples bom dia, ou para fofocas ou conversinhas oriundas de esbarrões no ir e vir no entrar e sair lá em baixo, do hall principal. ‘Morar em prédio de apartamentos é estar sozinha e na solidão... todavia, sem ninguém ao nosso lado perturbando ou entediando as medidas ou sacolejando os minutos sagrados ou mais especificamente aqueles majestosos em que buscamos a Nossa Paz,’ como escreveu Ann Patchett em seu romance ‘Bel Canto,’ publicado no Brasil pela Intrínseca. 

Penso que a magia de se viver em harmonia e em sintonia meridiana com outras pessoas (conhecidas ou não) está em sabermos levar a vida em frente, sempre de uma forma delicada, obviamente cuidando para que os dias vindouros, as horas e o fluir do cotidiano se façam intemeratos. Procuro me policiar, ou seja, não deixo que as minhas roupas de uso constante se encolham comigo dentro. 

Busco, a cada manhã (e sugiro às minhas leitoras e amigas que façam o mesmo), desde o teto do meu quarto até o revestimento do bocal pendurado no estuque do espaço da Ingrid, minha secretária do lar, subir para o mais alto cimo que me é possível, melhor dito, que me for possível. Mas percebam: nunca cometam o erro de olharem para os passos percorridos -, grosso modo, PARA BAIXO. Olhar para o dito cujo poderá ser desgastante. 

Dependendo da ocasião, dúvidas se apresentarão e dirão em seus escutadores de novelas: ‘você pulou um degrau. Volte e refaça.’ A trilha palmilhada deve sempre -, não importam as consequências ou os motivos -, necessitam perder a força e deixados aos cuidados do passado. O ‘ontem’ nem sempre deve ser esmiudado, remoído, esgaravatado, a não ser para a verificação das tolices que engolimos como se fossem copos de água insalubre.  

Em meu interior existe uma espécie de acendalha sempre pronta para pegar fogo. Entretanto, cuido, considero, mentalizo, para que um incêndio desproporcional não se alastre por sobre meus gravetos e folhas secas... cavacos e lascas que se amontoam ao meu redor e também dentro de meu ser desde a hora em que me levanto e volto a me deitar. Possivelmente, esses inoportunos tirariam de mim, a minha alegria. Notadamente aquela maviosa e sempiterna vontade férrea e inabalável de V-I-V-E-R.  

Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 17-12-2023   

Anteriores: 
Daqui a pouco... será NATAL 
O âmago da vertigem 
É escrevendo que as minhas loucuras ‘desafloram’ 
Pequeno mapa de um tempo que não se perde 
Descanso merecido 
Acre

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-