A decisão da justiça que virtualmente desarmou a necessária Operação Verão, de segurança na orla carioca, é um tapa na cara da sociedade e um símbolo do caos que a instrumentalização política do judiciário está causando ao país
Quintino Gomes Freire
Para a juíza, a operação preventiva da polícia, tão comum e que sempre protegeu a orla com a apreensão de menores e sua identificação forçada, “cinge o Rio de Janeiro, quebra a alma do carioca, hospitaleiro, gentil, alegre. O carioca que gosta de pé na areia, vento no rosto, surf, samba, funk, skate; que joga altinha, futebol, vôlei, tênis, tudo isso, no espaço da praia”. A meritíssima vive em um conto de fadas, de quem está em uma bolha e não sai dela. Com certeza uma deliciosa e fresca bolha de home office, tão característica do nosso judiciário atual. Ela descreve o Rio da Zona Sul de Classe Média Branca; eu nasci e cresci na Praça Seca, não tive pé na areia e nem vento no rosto.
A minha revolta com a decisão,
e – claro – com o pedido do Ministério Público é enorme, já tinha escrito que
vivemos uma triste realidade em que a Polícia prende e o Judiciário solta. Não adianta nada ter polícia num país assim;
só se enxugar gelo. E agora a douta julgadora quer banir também a prevenção de
crimes. Mas se ainda tivesse alguma lógica torpe devido a uma legislação mais
torpe ainda! Só que a decisão da ilustre doutora Lysia Maria beira o nível de
debate de uma roda de conversa da Praça São Salvador. Daquelas regadas a outro
tipo de brisa no rosto, até. Queremos uma sociedade onde todos tenham a mesma
chance, que não haja diferenças, mas infelizmente não é assim, elas existem e
são claras e óbvias. E a diferença entre facínoras e assassinos e pessoas
comuns é das mais flagrantes.
Será que os membros do Douto
Ministério Público do Rio de Janeiro conhecem a linha 474, Jacaré-Copacabana, sabem o terror que significa
para quem vai à praia? Será que sabem que nesta linha nem os motoristas duram
muito tempo e ficam sendo trocados por não aguentar o terror psicológico? E não
é preconceito, é simplesmente um fato. É a conclusão lógica da observação
empírica. A brava Polícia Militar do Rio de Janeiro já tem de montar uma
operação de guerra todo verão, e nessa linha está praticamente a única das
defesas contra uma criminalidade que ocorrerá na praia, sem sombra de dúvida. E
que cuja pujança vem crescendo, gerando até mesmo uma reação direta da própria
sociedade, onde elementos revoltados tomam pra si a tutela que deveria ser do
estado e resolvem trucidar os bandidos e facínoras que deveriam ser presos pela
polícia.
E, sim, os policiais já sabem
quem são os que tem mandados de prisão e os que vão mais à delegacia que ao
banheiro, já os prenderam diversas vezes e nossas leis são ainda mais benéficas
para os Bandidos de menos de 18 anos. Não é certo, como bem disse o governador
sobre a decisão “primeiro se espancar, matar e depois se atuar?“.
Afinal, quem será criticado sobre os arrastões e o aumento de criminalidade não
será o Poder Judiciário e o Ministério Público, sempre acima do bem e do mal,
mas sim o próprio Cláudio Castro e o prefeito Eduardo
Paes, que não trabalham de home office e nem despacham da
piscina numa cidade praiana qualquer.
Está na hora dos nossos
colegas jornalistas e seus veículos também acordarem, parar de culpar a polícia
e o sistema de Segurança e ir mais a fundo. A legislação, ONGs, MP e Justiça
acabaram deixando soltos os criminosos que deveriam estar distantes da sociedade;
a velha história da carochinha do “desencarceramento” chega a ser cansativa.
Entendo que um país em que um padre político vira astro ao propagandear que
mendigos e cracudos têm direito de ficar, fazer sexo e defecar onde bem
entenderem, ainda que seja na cara de crianças ou senhoras fazendo crochê,
precisa rever seus conceitos urgentemente. Esta argumentação mimizenta e
destruidora virou lei. Assim fica mesmo muito fácil culparmos governadores e
prefeitos, policiais e outras forças de segurança – não que sejam isentos de
culpa – em vez de olhar para o cancro que se tornaram as instituições que vivem
no mundo de Bobby, protegidas por seguranças, ar-condicionado e home office,
enquanto apanhamos na cara – como ocorreu outro dia em Copacabana – e estamos
nós mesmos atrás das grades.
Título e Texto: Quintino
Gomes Freire, Diário do Rio, 15-12-2023
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Até quando vamos reclamar da Polícia se o crime for cometido por quem foi preso e solto?
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