Humberto Pinho da Silva
São muitos os que se indignam – e com razão – da
exploração de crianças no mundo do trabalho, e poucos os que se preocupam com
os chamados meninos-prodígios, que tantas vezes são tratados, pelos
progenitores, como verdadeiros escravos.
Sei que me vão dizer ou pensar: “são ‘vítimas’ da
Arte. Trabalham pelo prazer e pela vaidade.”
Mas quantos não puderam nem podem brincar, porque
os pais os obrigaram e obrigam a treinos constantes, para estarem aptos a
participar em competições desportivas, artísticas ou teatrais?
Passam e passaram noites mal dormidas, percorrendo
feira em feira, circo em circo, até altas horas, angariando dinheiro para os
progenitores.
Recordo a ginasta romena Nadia Comăneci que alcançou importantes medalhas nos Jogos Olímpicos, para que
seu país pudesse orgulhar-se da conquista de medalhas de ouro. Mas a que preço?
De constantes sacrifícios, treinos forçados e infância perdida.
Lembro-me, de Saul e do notável futebolista - hoje multimilionário, Cristiano, que iniciou a carreira na Madeira, aos nove anos e entrou no Sporting aos onze, sendo titular aos dezassete anos.
E também do extraordinário Lionel Messi, que começou a fulgurante vida de futebolista aos sete e aos treze foi para Barcelona, sendo titular aos dezasseis. Dir-me-ão: jogar a bola não é trabalho; trabalho é explorar os menores, para ajudarem os pais nas lidas domésticas ou nas tarefas agrícolas e oficina.
Não decorreu ainda uma década – penso eu – que
jornalista surpreendeu rapazinho em plena serra transmontana a guardar o
rebanho paterno.
Levantou-se a mass-media, indignada: criança de
tão pouca idade devia estudar e não ser pastor!
Tratava-se de filho de agricultores remediados,
que frequentava a escola secundária, mas por gosto, em horas de lazer, subia à
serra com o gado do pai, para recreio. O problema é que a pastorícia não é
Arte, mas trabalho, portanto, “exploração infantil”.
Crime é o comerciante levar o filho para a loja,
no intuito de o coadjuvar, ou o lavrador solicitar ajuda ao filho nas labutas
agrícolas. Porque o menor não pode nem deve trabalhar, asseveram os políticos e
certos intelectuais.
Até 1841 era permitido as crianças trabalharem em
todo o mundo. Depois foi proibido em França, ou melhor, só podiam trabalhar com
mais de oito anos!
Em Portugal, só no reinado de D. Carlos é que se
levantou a questão do trabalho infantil.
No nosso tempo, na maioria dos países, o trabalho
infantil está proibido, embora ainda se pratique em alguns, mas ilegalmente.
Os nossos velhos diziam (com razão?): o trabalho
do menino é pouco, mas mais louco é quem não o aproveita. Claro que só
executavam – penso eu – nessa época e na nossa terra, tarefas de acordo com
idade. Caso contrário seria crime.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, dezembro de 2023
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Mãe é quem cria
Ainda Eça...
Meu filho sempre quiz jogar futebol, mas a cirurgia em seu par fêmures acabou com seu sonho. Isso tem a ver com aptidão, saúde e sorte. Eu trabalhei desde 13 anos no Brasil com a famosa carteira de trabalho de menor, hoje extinta no país, e os menores agora trabalham para o crime.
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