Em Sintra, junto à Quinta do Relógio, na estrada para Seteais
Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens/DN
DN/Lusa
Um sobreiro classificado com
Interesse Público junto à Quinta do Relógio, na estrada para Seteais, tem sido
alvo de cortes de turistas, incentivados por guias turísticos, para levarem
'souvenirs', denunciou o Grupo dos Amigos das Árvores de Sintra (GAAS).
"Recentemente, foi
relatado o impensável: é frequente ver-se turistas serem incentivados
por guias turísticos a arrancarem pedaços da casca da árvore para os levarem
como 'souvenirs'", revelou o GAAS, numa carta enviada ao presidente da
Câmara de Sintra, no distrito de Lisboa, Basílio Horta (PS), e do Instituto de
Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Nuno Banza.
Na carta, a que a Lusa teve
acesso, o grupo ambientalista salientou que "o sobreiro monumental
existente junto à Quinta do Relógio" se encontra "classificado de
Interesse Público desde 1996".
"A conhecida 'sobreira
dos fetos' é uma árvore fantástica, que tem uma idade estimada de mais de 300
anos e é uma das árvores mais célebres da Sintra histórica",
lê-se na missiva, com a referência a "vários relatos nos últimos anos
sobre agressões".
Um aviso da Direção-Geral de
Florestas, publicado em Diário da República em 1996, atribuiu Interesse Público
a um conjunto de árvores, entre as quais "um 'Quercus suber L.',
vulgarmente conhecido por sobreiro, existente junto à Quinta do Relógio, freguesia
de São Martinho".
Sendo a "sobreira dos fetos" propriedade particular, o GAAS apelou à Câmara de Sintra e ao ICNF para "intercederem junto do proprietário e recorrerem a especialistas para, com caráter de urgência, se tomarem medidas efetivas de reforço da integridade da árvore, uma vez que o gradeamento existente não é de todo eficaz, colocando em sério risco" a sua sobrevivência, "se as mutilações continuarem".
A busca por 'souvenirs' em
árvores da serra de Sintra não é caso único na Quinta do Relógio, pois na
Estrada Nacional 247, entre o Pé da Serra e a Azoia, antes do desvio para a
estrada da Ulgueira, existe outro sobreiro vítima de cortes sucessivos para os
turistas.
"Antes da Ulgueira, do
lado direito, está ali um sobreiro muito bonito e antigo, mas, coitado, está à
beira da estrada e os promotores turísticos vão ali tirar um bocadinho, para
mostrar a um chinês ou inglês, ou seja quem for", contou à Lusa o
presidente da Junta de Freguesia de Colares, Pedro Filipe (PSD).O sobreiro Assobiador, em Palmela, é um dos mais antigos do mundo
"Tiram um bocadinho com a navalha, dois centímetros para verem o corte, mas estão a matar a árvore, porque não deviam tirar camadas em cima de camadas", acrescentou.
O autarca explicou que já
foram colocadas algumas placas a alertar para que a prática não se repita, mas
os avisos são retirados e a árvore apresenta um aspeto desolador, tal o grau de
mutilação, apesar de o sobreiro ser uma espécie protegida pela lei portuguesa.
"Param as carrinhas, num
corrupio a certas horas, e tiram um bocado da árvore para mostrar a cada um dos
turistas, para irem todos contentes com uma recordação", lamentou Pedro
Filipe, assegurando que "algumas pessoas da Ulgueira também já têm
posto" avisos a alertar para a situação.
O GAAS enviou ainda ao
município e ao ICNF uma carta a pedir que intercedam com urgência junto do
proprietário da Quinta do Relógio "no sentido de se recorrer a
especialistas e intervirem nas duas araucárias monumentais" que se
encontram junto ao portão da propriedade.
Em causa está a deposição de
materiais e equipamentos da obra que decorre na quinta junto às árvores.
Embora as obras tenham
terminado com o estacionamento de automóveis em cima das raízes das araucárias,
o GAAS considerou "premente que se desafogue a área junto às árvores"
e "se reduza a compactação do solo, mantendo a humidade, e também se
analise os solos em profundidade", procedendo-se à sua fertilização.
Título e Texto: Agência
Lusa, Diário de Notícias, 9-8-2024, 17h10
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