José Carlos Bolognese
O julgamento do mensalão
revela para os leigos como eu certas expressões que nos fazem pensar em como
apanhamos igual a mulher de malandro, sem saber o quê nem porquê.
Na constatação óbvia de que
sofremos as consequências de maus atos alheios à nossa vontade – o domínio dos
fatos que nos interessa – ficamos esses mais de seis sofridos anos sem sequer
poder falar os nomes dos patifes que nos impuseram o calote no Aerus e o
indesculpável fim da Varig; de direitos de trabalhadores, da entrega de
faturamento da indústria de transporte aéreo a empresas estrangeiras e por aí
vai. Os “Atos de Ofício”, provas materiais e contundentes, não são ativos que
chegam com facilidade às mãos de trabalhadores e aposentados, aos quais cabem
quando muito, apenas os “ossos do ofício”.
É assim que a gente descobre
que, apesar de toda a estrutura – pelo custo que impõe ao cidadão – a justiça
não funciona para certas classes como a nossa, mesmo quando ela... funciona! A decisão que responsabiliza a União com relação aos aposentados do Aerus tomada no
dia 13 de julho passado, ainda corre por vias desconhecidas e tortuosas,
teimando em não se materializar como fato. É um escândalo ter os advogados que
entrar com outra ação para que uma decisão com toda a aparência de legítima,
venha a ser cumprida. Aqui o “domínio dos fatos”, isto é, os mais de seis anos
de calote, a fraude do desvio da terceira fonte do Aerus – os 3% – e, pior que
tudo, todas as desgraças impostas aos aposentados, não está sendo levado em
conta.
Não resta dúvida que “atos de
ofício” para destruir a Varig, quebrar o Aerus e fraudar os participantes do
fundo de pensão, houve aos montes. Papéis foram assinados, documentos trocados
e decisões tomadas. Nada de que nós, trabalhadores e aposentados possamos
lançar mão para provar que fomos roubados. Nem deveríamos precisar disto, haja
vista que o único documento representativo de um “ato de ofício”, deveria ser o
nosso contracheque. Prova incontestável do nosso vínculo com a Varig e recibo
legítimo de nossas contribuições ao Aerus, bastaria ele – o contracheque - para
provar a qualquer autoridade o nosso direito a uma aposentadoria complementar
decente e sem riscos.
Depois de passar por todo esse
sofrimento, se ele passar de fato, é natural que as pessoas queiram voltar a
viver e esquecer um passado tão triste. Até mesmo perdoar não deixará de ser
uma prova de superioridade moral da parte de quem foi vítima. Mas não podemos
esquecer que o futuro pertence mais às gerações vindouras do que a nós. E que
mesmo o nosso futuro de aposentados também merece cuidados, pois não podemos
permitir que no tempo que nos resta viver, sejamos de novo atropelados por
outro calote perpetrado pelos mesmos malandros ou por suas crias.
O que defendo é que se
mantenha vigilância sobre uma eventual nova situação a que estejamos sujeitos.
E se detectarmos qualquer fraude, corramos a anotar os nomes dos responsáveis e
levá-los à justiça, ainda que duvidosa. Os delitos a que nos acostumamos achar
de difícil punição no Brasil, em países mais sérios dá cadeia. Era o que
mereciam esses calhordas que nos colocaram nessa situação. Isto não é vingança,
é apenas maturidade cívica.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 07-8-2012
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Quando copiar mencione de onde o fez. Simples e elegante.
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