domingo, 4 de novembro de 2012

Livre mercado, moralidade e cesarismo

Jeffrey Nyquist
O socialismo pavimenta o caminho para a tomada do poder pelos criminosos, pois ele avança em conjunto com a desintegração da ordem moral.
Gustave Le Bon, já em 1898, viu onde iríamos parar: “O socialismo moderno é muito mais um estado mental que uma doutrina”.
No livro Psychology of Socialism de Gustave Le Bon, há um excepcional aviso contra a experimentação socialista. “Não devemos nos iludir”, escreveu Le Bon, “como alguns fizeram, a ponto de permitir que o socialismo mostre sua finalidade para que se prove sua fraqueza, pois o socialismo imediatamente dará origem ao cesarismo e prontamente se suprimirá todas as instituições democráticas”. Isso foi publicado por Le Bon em 1898 e desde então tem sido invariavelmente profético quando se vê a Revolução Bolchevique na Rússia dezenove anos depois e a Revolução Nacional Socialista na Alemanha em 1933-34. Quando os princípios socialistas tomaram o controle na Rússia e na Alemanha, o cesarismo em Lênin, Stálin e Hitler logo apareceu. A liberdade de expressão logo foi espezinhada juntamente com os direitos de propriedade. Quando Le Bon escreveu Psychology of Socialism, a palavra “totalitarismo” não havia sido inventada. Uma palavra bem mais antiga designava a mesma coisa: era o “cesarismo”.
Foi Caio Júlio César quem cruzou o Rio Rubicão com suas legiões em 49 a.C. para derrubar a constituição romana para que pudesse instituir uma ditadura absoluta. “A maior e praticamente única contribuição de César foi a destruição da república” disse John Dickinson no livro Death of a Republic. “Na apatia dos eleitores [...] César viu uma oportunidade para introduzir um novo método [...] Era o método da desordem: as brigas de rua e intimidações levadas a cabo por bandidos. Era mais barato que o suborno [...] Eleitores que poderiam ser induzidos a votar apenas mediante suborno, por outro lado também poderiam ser forçados a ficar em casa caso corressem sérios riscos de danos físicos ou até risco de perder a vida; Deste modo, o corpo de votantes pôde ser reduzido aos poucos que votariam da maneira que o líder da bandidagem desejasse”.
Não foi acidental o fato de que os bolcheviques e nazistas também tenham contado com criminosos e gangues. A emersão de forças similares aqui nos Estados Unidos deveria servir também como aviso. Uma vez inseridos certos elementos no cerne da sociedade, deixa de ser possível o retorno à liberdade. Uma vez que se permitir que os criminosos intimidem a sociedade, é quando se aceitou ser acorrentado; e essas correntes não são fáceis de remover. Daí em diante todos estão subjugados pelo poder do crime organizado – ou qualquer nome que se chame isso, mesmo que eles usem slogans nobres. O sistema de mercado atual, assim como o sistema republicano desde os primórdios, dependem dos conceitos de lei e ordem e das instituições fundadas segundo esses princípios. Mas agora nós temos algo diferente.
Quando um demagogo declara que um empresário ou comerciante trabalhando legalmente é um ladrão, há aí um corolário nessa afirmação; nomeadamente diz-se aí que os ladrões e criminosos são os libertadores. Tão logo o bandido de rua é glorificado, o respeitável empresário ou comerciante é vilipendiado. “Tão logo nos adentramos um pouco no mecanismo das civilizações”, escreveu Le Bon, “logo descobrimos que uma sociedade com suas instituições, crenças e artes representam um tecido de ideias, sentimentos, costumes e modos de pensar [...] é essa coesão que constitui sua força”. Substitua sentimentos morais por sentimentos imorais e o que se consegue? Substitua empresários e comerciantes por criminosos e o quê se construiu? O que se alcança é um Estado criminoso – como a Alemanha Nazista ou a Rússia Soviética. Pode se chamar isso de liberdade, democracia ou socialismo, mas o que se tem é o gangsterismo; ou em outras palavras, o cesarismo.
Como manter a criminalidade distante? Como se opor ao cesarismo? A liberdade depende da intensidade das nossas convicções morais, assim como o livre mercado. “Nenhuma sociedade se mantém firmemente unida a menos que sua herança moral esteja firmemente estabelecida não em códigos, mas na natureza dos homens”, escreveu Le Bon, “ [a sociedade] decai quando ela se fragmenta; e quando sua herança moral é finalmente desintegrada, a sociedade está fadada a desaparecer...” E o que é mais perturbador na nossa sociedade contemporânea? A derrocada moral está demasiadamente evidente em meio a uma epidemia de trapaças, roubos e mentiras. Seria necessário nos dar ao trabalho de dar esses exemplos?
Tampouco o crescente desuso de sólidos princípios pode se considerar como insignificante. Sem dúvida fomos tomados por uma corrupção generalizada das ideias. Por conta dessa corrupção perdemos nosso senso de certo e errado, amizade e inimizade. Parece que não podemos mais distinguir um criminoso de um patriota, um inimigo de um parceiro. Quanto mais se sobe na academia, governo ou mídia, maior fica o ego, mais perturbado fica o intelecto e mais atenuado fica o amor pelo país. Alguns meses atrás, um oficial da inteligência aposentado que voltava para a América após anos de trabalho no exterior, escreveu o triste comentário: “Morando no estrangeiro desde 1984, posso honestamente dizer que esse não é o mesmo país”.
A erosão do caráter romano, escreveu Dickinson, foi uma das “causas fundamentais da instabilidade da república...”. E a erosão do caráter americano está sujeito a produzir um resultado similar nos dias de hoje. A liberdade e o livre mercado podem ser sustentados apenas por uma forte moral. Quando a moralidade desaparece, o que toma o seu lugar deve ser definitivamente imoral (seja qual for a roupagem, mesmo que seja algo que venha em nome da defesa dos “pobres”). Logicamente, o socialismo pavimenta o caminho para a tomada do poder pelos criminosos, pois ele avança em conjunto com a desintegração da ordem moral. É como Patrick Buchanan observou: “Os Estados Unidos sofreram uma revolução cultural, moral e religiosa [...] Enquanto os conservadores venceram a Guerra Fria contra o comunismo político e econômico, nós perdemos a guerra cultural para o marxismo [...] que é agora a cultura dominante”. (Veja o documentário Cultural Marxism: The Corruption of America.) (Vídeo abaixo)
A contradição na observação de Buchanan é óbvia. A Guerra Fria não foi vencida no final das contas e o sistema de livre mercado dificilmente pode ser considerado vitorioso. Ele foi flanqueado por um ataque em suas bases culturais. Assim que cumprido, uma erosão generalizada do sistema econômico e político é consequência certa. Junto do colapso da moralidade vem o colapso do discernimento. Hoje em dia não há uma solidez de julgamento nas classes dirigentes que consiga sustentar o sistema de mercado por mais uma década. Até mesmo Gustave Le Bon, já em 1898, viu onde iríamos parar: “O socialismo moderno é muito mais um estado mental que uma doutrina”. Segundo ele, “O que torna o socialismo tão ameaçador é [...] suas já instauradas mudanças de grande porte causadas na mente das classes dirigentes. A burguesia moderna não está mais certa dos seus direitos. Ou sequer estão certos de qualquer coisa. Eles dão atenção a tudo e tremem diante do mais deplorável falaz”.
Apesar do “deplorável falaz” de Le Bon, as revoluções advêm de cima, e não de baixo. Raramente são as massas que insurgem; são as classes dirigentes que adotam novas ideias – ou perdem a fé nas antigas. Essa crise de fé, esse colapso de moralidade e senso comum, é algo absolutamente real. Não devemos ter ilusões de que uma futura guinada em direção ao socialismo será algo temporário. Na verdade, ele promete deixar tudo mais inteligível (NT.: No sentido de mostrar seus verdadeiros objetivos). “O corpo social é um organismo delicado”, escreveu Le Bon, “que deveria ser tocado o mínimo possível”. Hoje em dia, é claro, o corpo social tem sido molestado em todas as partes. E assim nós esperamos a vinda de César.
Título e Texto: Jeffrey Nyquist, publicado no Financial Sense.

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