A Direcção Nacional de
Investigação Criminal (DNIC) interrogou esta manhã, em Luanda, o fotógrafo
Timóteo João, como parte do seu processo de cadastramento de manifestantes,
seus apoiantes e eventuais líderes.
Timóteo João compareceu na
DNIC sob “Ordem de Comparência sob Custódia”, equivalente a mandado de captura,
por ter faltado ao primeiro interrogatório marcado para 28 de Agosto passado.
Segundo o fotógrafo, um
oficial da DNIC telefonou-lhe, identificou-se e disse-lhe que estava à sua
espera à entrada do prédio onde mora. “Pensei que fosse brincadeira dos meus
amigos. Desci e ele [oficial da DNIC] notificou-me, a 27 de Agosto, depois das
15h00, para ser interrogado no dia seguinte, às 8h00 da manhã”.
Por não ter comparecido ao
interrogatório, Timóteo João foi constituído arguido por crime de
desobediência. O mandado de captura foi assinado pelo director da DNIC,
comissário-chefe Eugénio Pedro Alexandre.
“É um acto ilegal a concessão,
a um declarante, de menos de 24 horas para responder a um notificação. O
notificado tem de ter tempo para organizar a sua agenda e contactar um
advogado”, disse ao Maka Angola um defensor dos direitos humanos, que preferiu
não ser identificado. “Sabemos como opera a nossa judiciária. Trabalha como se
estivesse no tempo da outra senhora”, acrescentou.
O interrogatório que teve
lugar hoje cingiu-se exclusivamente às manifestações organizadas por pequenos
grupos de jovens que, desde Março de 2011, têm atormentado o poder do presidente
José Eduardo dos Santos.
Timóteo João explicou que os
seus interrogadores queriam saber detalhes sobre “como os manifestantes são
convocados, quem são os líderes e onde se reúnem”.
“Os investigadores queriam
saber quem são os meus amigos, quem são os activistas cívicos que conheço. Eles
tinham uma lista de nomes”, disse Timóteo João.
Ao jovem também foi perguntado
se era membro do Movimento Revolucionário Unido (MRU) ou do Movimento
Revolucionário de Angola (MRA). Desde o início da primavera árabe, tem surgido,
em Luanda, uma profusão de movimentos informais de jovens que se auto-denominam
como revolucionários ou patrióticos e que têm em comum a exigência de demissão
do presidente José Eduardo dos Santos, há 34 anos no poder, acusando-o de ser o
principal foco da corrupção e da má-governação no país.
“Perguntaram-me se eu conhecia
o Luaty Beirão “Brigadeiro Mata Frakuz”, Adão Ramos, Hugo Calumbo, Nito Alves,
Carbono Casimiro, Adolfo Campos, Gaspar Luamba e Alexandre Dias dos Santos.
Confirmei que os conheço”, afirmou o arguido.
Sobre a onda de investigações
criminais contra supostos manifestantes, o arguido enfatizou que “as
autoridades estão a fazer o cadastramento de todos aqueles que acham serem
manifestantes e presumíveis apoiantes. É uma caça às bruxas”.
Em entrevista recente ao canal
privado de televisão português SIC, o presidente José Eduardo dos Santos
qualificou os jovens, que se manifestam contra si, como um bando de frustrados,
sem sucesso escolar e desempregados. O presidente também estabeleceu que esses
jovens, que contrariam o seu regime, são apenas cerca de 300. Por esta altura,
a DNIC já deve tê-los todos catalogados.
Dezenas desses jovens já
experimentaram o carácter repressivo do regime, tendo sido detidos, torturados
e perseguidos. Vários foram condenados a penas de prisão. A última tentativa de
manifestação, em Luanda, teve lugar a 27 de Maio passado, que resultou na
tortura e detenção de Emiliano Catumbela.
Título, Imagem e Texto: Maka Angola,
04-9-2013
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