quarta-feira, 4 de setembro de 2013

“Depenando Anjos”

Jonathas Filho 
 
O  Poeta  Augusto dos Anjos nasceu na Paraíba em 1884. Morreu em  1914, muito novo, aos 30 anos de idade.
Escreveu,  em um dos seus inúmeros versos, poemas e trovas, o que sintetiza o desvanecer de uma esperança, como  uma notícia  há muito tempo esperada, que chega tardia, na bolsa do correio que veio montado  num cavalo magro, doente e manco,  tendo no texto mais uma resposta tipo “ainda sem definição”,  cujos destinatários são  pessoas que esperam por  Justiça.  Somente Justiça, nada mais que Justiça.

Principiando, disse ele em Versos Íntimos:  Vês! Ninguém assistiu ao formidável enterro da tua última quimera.”
De fato, só quem  sofre na carne e no bolso  dessa doença chamada “ausência de numerário” e  assiste sem poder impedir tal “sepultamento”,  sabe o porquê das mínimas necessidades  terem se tornado sonhos inatingíveis.

Continuando, ele afirma: Somente a ingratidão, essa pantera, foi tua companheira inseparável.” 
Pela falta de recíproca ao que  pagamos anos a fio,  podemos também  nominá-la de pantera, diz um aposentado do Aerus.

Em seguida, Augusto dos Anjos, explicita: Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”. 
Inequívoco que naquela época, já grassava por essas plagas a inquietude, a inconstância e o desrespeito, causando concepções negativas a quem tem direito a  uma melhor qualidade de vida.
Na estrofe seguinte, ele escreveu: Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja”.  
Conclui-se daí que, a mão que “balança o berço” da esperança é a mesma que usa de todas as prerrogativas para reprimir até mesmo os anseios contidos na Razão, no Direito e na Justiça.

Na última parte arremata: Se a alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga  e  escarra nessa boca que te beija!
Pois, é...sem querer usar de matáfora mas, agora... “só sinto no ar o momento, em que o copo está cheio e que  já não dá mais prá engolir” como  diz uma música de Gonzaguinha.

Com toda certeza, os donos das datas dos “acertos e dos finalmentes”,  matam as nossas esperanças todas as vezes que transformam essas datas em reuniões de um “cercalourencismo” que não levam a nada. Nada decidido, nada. Amarga espera.

Depenar anjos, no sentido literal, quer dizer tirar as penas dessas criaturas celestiais. 
No nosso caso, ao enterrarem, a todo tempo e continuamente, as nossas esperanças, retiram das nossas “asas” todas as penas,  excluindo assim as mínimas possibilidades de  poder “voar” na aspiração  de ver respeitados os nossos legítimos direitos, relativos às nossas  aposentadorias do Fundo de Pensão Aerus.
Do padecer e das agruras desse sofrimento só  entende  aquele cuja precária situação é idêntica, comum.
Para esses trabalhadores que cumpriram com seus compromissos de pagar um Plano de Aposentadoria Complementar  para ter uma velhice decente, ter um plano de saúde, comprar remédios,  pagar por fisioterapias e cobrir as despesas de uma existência digna,  tornaram-se  desejos inalcançáveis para muitos dos Aposentados do Aerus, verdadeiras quimeras.
Aqueles   que não nos  assistem por fecharem seus olhos e por cruzarem seus braços,   jamais entenderão nossas justas aspirações. 
Título e Texto: Jonathas Filho, Comissário Varig - Aposentado Aerus  e é um  aspirante a alvíssaras... 03-9-2013


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija

3 comentários:

  1. Acima do drama,da amargura e da anarquia a que estamos sendo submetidos , vemos nascer as primeiras flores de algo que foi plantado recentemente, mas que já se mostra com uma força incomum.
    Talvez, quem sabe , talvez se a nossa vida não tivesse levado o rumo que levou, não haveria a oportunidade de vermos nascer esta força que sai das nossas mentes dos nossos corações e que cada vez mais jorra com o ímpeto do grito dos inconformados, daqueles que sabem exercer a sua cidadania, daqueles que nunca vão se calar.Parabéns Jonathas e seja bem vindo á nossa academia. A cadeira de imortal já é sua.
    Não foi á toa que o destino nos colocou frente á frente,cinco décadas atrás.
    Receba um abraço do seu amigo José manuel

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  2. Obrigado pelo estímulo kirido amigo, acredito estar apenas ajudando à empurrar a pedra de Sísifo morro acima, o que você com inequívoco talento faz todos os dias, há mais tempo. A minha consciência também me empurra para isso. Tenho a certeza que um dia essa pedra estacionará definitivamente no cume da montanha e vai parar de “rolar” esse castigo injusto imposto pelos guardiões da omissão, do descaso, e da iniquidade.
    Grande abraço fraterno.
    Jonathas Filho

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  3. Foi acesa uma luz no fim do túnel e me parece que alguém está querendo apagá-la e se isso realmente acontecer temos que nos unir cada vez mais para uma reação a nível nacional e minha sugestão é que se faça uma campanha através dos nossos representantes para que acampemos em todos os aeroportos do Brasil até que se resolva definitivamente a nossa situação! Jorge Tartaruga.

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