terça-feira, 16 de junho de 2015

Não queiram impor aos gregos o que eles dizem rejeitar… somente não lhes fiem mais...

Tavares Moreira
O título deste post condensa o pensamento, divulgado em artigo de opinião na edição do Financial Times da última quarta-feira, de autoria do reputado economista Francesco Giavazzi, professor em Bocconi e também no MIT, acerca do dilema suscitado pelas infindáveis negociações entre a Grécia e seus credores internacionais…

… dilema que se resume em poucas palavras: os gregos (ou, para ser mais exacto, os seus dirigentes), dizem pretender manter-se no Euro mas, ao mesmo tempo, reclamam um grau de autonomia na fixação das suas políticas que, sendo muito interessante numa perspectiva puramente doméstica, é todavia incompatível com as obrigações mínimas de permanência.

E, ao mesmo tempo que procuram brandir, até ao limite do absurdo, a ameaça dos presumíveis riscos sistémicos decorrentes de um eventual default no serviço da sua dívida pública (cada vez mais provável), para ver se os credores cedem nas suas posições, aos dirigentes gregos ainda sobra tempo para dar lições ao mundo…

… ainda hoje o PM grego, num arrebatamento genial, afirmou que “o seu governo carrega às costas não só a dignidade de um povo mas também as esperanças dos europeus…” e, ainda, “Não temos o direito de enterrar a democracia europeia no lugar onde ela nasceu”…

Sobre tão bombásticas proclamações, limito-me a recordar o velho adágio “Presunção e água-benta, cada qual toma a que quer…”.

Para pôr termo a este agonizante processo negocial entre políticos gregos e credores da Grécia que, ao fim de mais de quatro meses só não está na estaca zero porque está ainda mais atrás, devido à enorme desconfiança que entretanto se acumulou, F. Giavazzi aponta uma solução que se afigura bastante lógica:
Deixem a Grécia seguir o caminho das suas opções, não lhes imponham medidas que eles afirmam, de todo, rejeitar… com uma condição apenas: não lhes emprestem mais dinheiro pois, quanto mais emprestarem, maior será o grau de incumprimento.

Deixem pois os políticos gregos fazer o que consideram ser a sua missão histórica - levar o seu país para um nível de empobrecimento sem precedentes desde a adesão ao projecto europeu - governando-se com os recursos que conseguirem gerar, ao mesmo tempo que saboreiam o prazer quase luxurioso de entrar em incumprimento nas suas dívidas aos maléficos credores internacionais… 
Título e Texto (e Grifos): Tavares Moreira, “4R – Quarta República”, 15-6-2015

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