quarta-feira, 15 de julho de 2015

Islamismo: Culpando o Ocidente

Samuel Westrop

§ Terror islamista não é produto da política ocidental. Conforme David Cameron observa corretamente é uma rede ideológica global, com ramificações violentas e não violentas e está dedicado a abarcar a todos nos quatro cantos do mundo.
§        Mas no mundo de Giles Fraser, da Baronesa Warsi e de outros afins, parece que terroristas não são radicais, extremistas não são extremos e o islamismo não é produto de ideias islamistas.

Em junho Talha Asmal, um muçulmano de 17 anos de idade, se tornou o homem bomba mais jovem da Grã-Bretanha. Em um veículo repleto de explosivos, Asmal acompanhado de mais três jihadistas atacaram as forças iraquianas em uma refinaria de petróleo na cidade setentrional de Baiji. Onze pessoas foram mortas.

Depois de alguns dias, três irmãs da cidade de Bradford saíram com seus nove filhos, o mais novo de apenas três anos, rumo ao território do ISIS na Síria.

Na esteira desses recentes recrutamentos à causa jihadista, uma semana antes do massacre de 30 turistas britânicos em uma praia da Tunísia, o Primeiro-ministro David Cameron proferiu um discurso em uma conferência sobre segurança na Eslováquia. Diante de uma platéia ilustre com a presença de políticos, profissionais de nível superior, oficiais militares e especialistas em segurança do mundo inteiro, Cameron descreveu o ISIS como "uma das maiores ameaças que o mundo já enfrentou".

A motivação pela qual jovens muçulmanos britânicos se juntam ao ISIS, segundo Cameron, "é ideológica. Trata-se de uma ideologia islamista radical, que diz que o Ocidente não presta e que a democracia é injusta, que as mulheres são inferiores e que a homossexualidade é moralmente errada. Essa ideologia também diz que a doutrina religiosa se sobrepõe ao estado de direito e que o califado se sobrepõe ao Estado-nação e que ela (ideologia) justifica a violência no que tange se autoafirmar e alcançar seus objetivos".

Um número cada vez maior de jornalistas, políticos e ativistas islamistas, contudo, acredita que a crescente radicalização e o apoio ao ISIS são consequência de uma comunidade muçulmana isolada, ressentida com a política do governo. Por exemplo, a Baronesa Warsi ex-ministra do governo, disse à BBC que o governo britânico estava botando mais lenha na fogueira do problema da radicalização ao se "afastar" das comunidades muçulmanas.

Grupos islamistas sustentam que a política externa e o monitoramento da polícia são causas diretas do extremismo. CAGE, um grupo islamista que trabalhou com o "jihadista John", o carrasco britânico do ISIS encapuzado de preto, afirmou que o rigor dos serviços de segurança e o "descontentamento de longa data, em relação à política externa do Ocidente" são a causa principal dos muçulmanos se voltarem para a violência.

Dois dos maridos das irmãs que foram para a Síria com seus filhos disseram que a polícia britânica "promoveu e estimulou ativamente" a radicalização de suas esposas. Segundo seus maridos elas fugiram para a Síria por conta do "monitoramento opressivo da polícia".

Um representante da Associação Muçulmana da Grã-Bretanha, braço da Irmandade Muçulmana, chegou até a dizer que os cortes do governo no custeio da assistência social cultivavam o apoio ao ISIS.

Outros entretanto, alegam que o governo deixa a desejar. Manzoor Moghal, comentarista muçulmano, observa que as famílias das três estudantes britânicas que se juntaram ao ISIS em fevereiro deste ano expressaram as mesmas críticas: "naquela ocasião os pais juntamente com o advogado levaram suas reclamações ao Parlamento, argumentando que a atitude da Polícia Metropolitana tem sido vergonhosa por não ter fornecido alertas suficientes sobre avulnerabilidade de suas filhas em relação aos fanáticos". 

Em fevereiro três meninas da Bethnal Green Academy, da Tower Hamlets em Londres, viajaram para a Síria a fim de se juntarem ao Estado Islâmico como "noivas de jihadistas": Amira Abase de 15 anos de idade (esquerda), Shamima Begum também de 15 anos (meio) Kadiza Sultana de 16 anos (direita).

 Todas essas censuras minimizam a responsabilidade dos jovens muçulmanos britânicos que abraçam a jihad. O estudioso Frank Furedi explica:

"quando no final de semana veio à tona que Talha Asmal de 17 anos de idade se tornou o homem bomba mais jovem da Grã-Bretanha, muitas reportagens indicavam que ele foi vítima de aliciadores cruéis que maquinavam online. Sua família disse que ele era carinhoso, gentil, atencioso e cordial. A obsessão de pintar jovens homens bomba vulneráveis como vítimas está relacionada à associação da radicalização com a vulnerabilidade. A associação irracional de um ato de terrorismo ao status de vítima está arraigada de tal forma que a imprensa britânica tem pouco interesse nas verdadeiras vítimas desse drama, as pessoas que foram mutiladas e mortas por esse cordial e atencioso adolescente de 17 anos".

Grupos muçulmanos voltados para os islamistas são ávidos em atribuir o processo de radicalização a matérias extremistas disponíveis online. Funcionários do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha, grupo dirigido por agentes da Irmandade Muçulmana e do Jamaat-e-Islami, se referem à "sofisticada mídia do ISIS" encontrada nas "bordas da Internet". Esses grupos só podem estar interessados em culpar a Internet, por ela desviar a atenção de seu próprio fundamentalismo, ainda mais persuasivo.

Observadores de todas as tendências políticas da Grã-Bretanha procuram ignorar o papel crucial que os pregadores e seitas radicais desempenham no processo de radicalização, incutindo em grandes parcelas da comunidade muçulmana britânica ideais fundamentalistas.

Owen Jones, colunista alinhado ao Partido Trabalhista junto ao jornal The Guardianassinala que o governo emprega "uma retórica de culpa coletiva que serve apenas para fazer o jogo" do ISIS e dos demais grupos radicais. As guerras no Iraque e na Líbia, segundo ele, é que criaram a ameaça do ISIS.

Na mesma linha da Baronesa Warsi, Jones, ao que parece, também não é capaz de identificar a ideologia como causa principal. Em sua maneira de pensar, o islamismo não é uma ameaça global coordenada, e sim uma reação orgânica ao caos causado pela insensatez do Ocidente.

É conveniente tanto para Warsi quanto para Jones ignorar a influência do extremismo. Ambos  aceitaram convites para ministrar palestras em plataformas islamistas juntamente com pregadores da estirpe de Abu Eesa Niamatullah, que diz que os judeus "acham tão fácil e natural... massacrar... explodir bebês" e Yasir Qadhi, que afirmou: "Hitler jamais teve a intenção de destruir em massa os judeus... The Hoax of the Holocaust  (A Farsa do Holocausto), eu aconselho vocês a lerem esse livro... Um livro muito bom. Tudo isso (o Holocausto) é propaganda falsa... Os judeus, a maneira que eles o (Hitler) retratam, não é correta".

A seu favor, David Cameron é um dos poucos que parece perceber a realidade do extremismo islâmico. Na conferência sobre segurança na Eslováquia, ele declarou:

"a questão é a seguinte: como se chega a essa visão de mundo?... Uma das razões é que há aqueles que têm as mesmas opiniões, mas que não chegam a defender a violência, contudo concordam com esses preconceitos dando peso a essa visão islamista radical, dizendo aos patrícios muçulmanos: vocês fazem parte disso tudo. Isso abre o caminho para que jovens passem a efervescer preconceito em intento assassino".

Nessa leitura, contudo, o governo parece estar curiosamente só. Em contrapartida, o colunista do jornal The Times e ex-parlamentar do Partido Conservador Matthew Parris, assinala que meramente por mencionar extremismo no Islã britânico, Cameron se transformou em "máquina de propaganda do ISIS". Parris também alega que os jihadistas não são diferentes dos "aventureiros que foram lutar na Guerra Civil Espanhola. ... Nunca ouvi dizer que há provas de que estar sujeito à contaminação por esses assassinos fanáticos na Síria por um período limitado, radicalizaram jovens muçulmanos britânicos que voltam para casa: eles são seres humanos como nós, muitos dos quais terão reagido à realidade dessa guerra suja da mesma maneira que você ou eu reagiríamos, com choque e desilusão".

Parece que Matthew Parris tem memória curta. Há apenas cinco meses, terroristas que juravam aliança ao ISIS abateram a tiros cartunistas e judeus na França. Anteriormente em 2014, um terrorista treinado pelo ISIS assassinou quatro pessoas em um museu judaico na Bélgica. Terroristas ligados ao ISIS conduziram ataques em mais de uma dozena de países, incluindo o recente ataque na Tunísia.

Terror islamista não é produto da política ocidental. É, conforme David Cameron observa corretamente, uma rede ideológica global com ramificações violentas e não violentas. Ela pode prosperar no caos, porém está dedicada a abarcar a todos, nos quatro cantos do mundo.

A noção de que os terroristas britânicos são vítimas das circunstâncias é uma falácia que serve apenas para angariar afinidade com assassinos, minimizar a realidade do islamismo global e minar os esforços para combater o terrorismo.

Giles Fraser, redator do jornal The Guardian e ex-chanceler da Cúria da St. Pauls Cathedral, recentemente assinalou que não há ligação ideológica entre o terror islamista e o Islã propriamente dito. O Ocidente, segundo Fraser culpa "o Islã conservador e as perigosas ideias contidas no Alcorão" pelos recentes horrores no Kuwait, Tunísia e na França, porque nos recusamos a "encarar nossa responsabilidade" pela "longa história das desastrosas intervenções ocidentais no Oriente Médio".

Muçulmanos voltados para o futuro podem até ter seus motivos para dizer que os livros sagrados islâmicos não sancionam o terrorismo, mas ninguém pode alegar que os movimentos islâmicos violentos não causam seus próprios atos de violência.

Para respaldar essa argumentação, Fraser cita um relatório publicado por um grupo britânico chamado Claystone. O estudo assume que "a ligação entre a teologia radical e o terrorismo" se fundamenta em uma "frágil base empírica", incentivada por "lobistas políticos conservadores ávidos em culpar o Islã conservador pelo terrorismo".

Claystone no entanto, é dirigido por Haitham Al-Haddad, um salafista britânico que retrata os judeus como "macacos e porcos" e "inimigos de Deus". Ele também alega que Osama bin Laden é um "mártir" que irá para o paraíso.

O relatório Claystone afirma que o Islã salafista é um aliado na luta contra o terrorismo. O relatório também profere a desconcertante alegação de que pessoas que cometem atos terroristas não necessariamente endossam convicções extremistas.

No mundo de Giles Fraser, da Baronesa Warsi e de outros afins, parece que terroristas não são radicais, extremistas não são extremos e o islamismo não é produto de ideias islamistas.

Há muita leitura equivocada do governo britânico no que tange à questão do extremismo. Ele (governo britânico) continua a financiar grupos problemáticos, como o Finsbury Park Mosque, dirigido pelo agente do Hamas Muhammad Sawalha ou o Islamic Relief Worldwide, uma sociedade beneficente que promove pregadores extremistas. Fora isso, o governo propôs medidas rigorosas para combater pregadores extremistas, inclusive iniciativas para censurar o que clérigos podem escrever ou dizer em público.

Porém na questão da responsabilidade moral, parece que David Cameron está certo. O Ocidente não é culpado pelo terrorismo. A violência islamista é na realidade produto de uma ideologia religiosa abertamente comprometida em abarcar o mundo inteiro. Não é a nossa política interna ou externa que desagrada os islamistas e sim a existência de qualquer coisa que não pertença à sua visão do Islã, o que inclui a nós no Ocidente.
Título e Texto: Samuel Westrop, Gatestone Institute, 15-7-2015
Original em inglês: Islamism: Blaming the West 
Tradução: Joseph Skilnik

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