Maria João Avillez
Os políticos vão e vem, ganham
e perdem. Os países duram. E quanto a alguns bons resultados ou a felizes
constatações, não se trata de gabar a coligação. Trata-se, bem mais importante,
dos portugueses
1. Valeria a pena questionar esta coisa de António Costa valorizar
sistematicamente a sua posição dizendo mal. Só mal. Todo o mal. Exclusivamente
mal. Do Governo, do primeiro-ministro, da coligação. Tudo foi um erro, nada se
salvou. A ocorrência de haver índices, números, resultados, estatísticas, (já
lá vou) que desmentem, ou pelo menos esbatem consideravelmente, a ficção do
discurso de Costa sobre o país – falo de Portugal, no verão de 2015 – não
parecem interessar-lhe. É mais simples e mais rápido – duvida-se porém se mais
eficaz – negar.
Estará o líder do PS manietado
pelas expectativas hoje infinitamente menores que provoca em relação a 2014,
quando aterrou sem pré-aviso no Largo do Rato, arredando de lá o seu camarada
Seguro? Terá (ainda?) pouco de substancial para dizer? Já não evoco a dúvida de
algo de já decidido para a governação do país, caso dela venha a ser incumbido;
de alguma coisa que ultrapasse em utilidade o “baixar o IVA da
restauração” (e alguma vez houve tantos e tão exitosos restaurantes entre nós,
de norte sul?) ou “eliminar exames”. Ou de algo que não seja um rol de
promessas cuja concretização, quase na sua totalidade, depende de um
incertíssimo “aumento do consumo”, em grande parte estrangeiro. Também não
evoco os incontáveis ziguezagues executados sem norte aparente sobre o
documento idealizado pelos seus economistas. Umas coisas são para ver melhor;
outras só verão a luz do dia, se…; outras ainda são passíveis de discussão e,
quem sabe até, de serem retiradas.
E assim sendo e parece que é,
agarra-se na bengala da linguagem radical como instrumento politico ou
desagua-se no insulto. Como o “mentiroso” aplicado agora a torto e a direito ao
chefe do Governo com a naturalidade de quem diz que ele é alto ou tem olhos
claros. Um passo que o próprio Passos e a coligação nunca deram. Puxem lá pela
cabeça: em meses e meses, quatro anos, quatro, de debates parlamentares,
discursos, entrevistas, centenas de declarações à entrada e saída de sítios,
que me conste não há insultos, verbos radicais ou insinuações falsas arrumadas
nos arquivos. Sim, os políticos não são iguais, mas aqui trata-se de escolhas e
o que sucede é que elas explicam muito bem – ou mesmo definem – os seus
autores. E iluminam o seu caracter e os seus modos de proceder politicamente.
2. Mas qual será o
resultado, interrogar-se-ão muitos, entre o pasmo e a dúvida, ao
ouvir o insulto como argumento? Atingirá o insulto grosseiro os objectivos
políticos em nome dos quais foi disparado? Olhar o gozo quase violento com que
as oposições, fazendo hoje disso uma regra, substituem o uso racional do
argumento político pela aplicação do insulto travestido de “culpa” (a culpa é
sempre “deles”), resvala para o mais baixo do exemplo cívico e político. Não
falo – porque não estamos diante disso – de um saudável combate
democrático duro e agressivo como compete, ou sequer do uso das boas maneiras:
falo de quase uma indecência.
Repare-se em como as oposições
servem agora Cavaco Silva como uma espécie de “prato do dia”, devorado com
gáudio e convenientemente “usado” como um vulgar inimigo político. Ser ele o
Chefe de Estado não impressiona as hostes. A esquerda vomita outsiders (veja-se
o caso de António José Seguro, que não era bem “um deles”) Cavaco não pertence
àquelas fileiras. Não tem legitimidade. E a direita, por definição, não concita
ou merece respeito, mesmo que meramente institucional. Patriótico, ainda menos:
a esquerda dá-se mal com a palavra, não lhe encontra significado ou
importância, confunde-a com nacionalismo.
3. Falei acima de
índices e resultados relativos a Portugal, em Julho de 2015.
Muito a propósito, acabam de
me informar de um estudo sobre desigualdades.
Contra o que parece ser a
convicção mediática entre nós, mostram os números que constam desse estudo que
a desigualdade global dos rendimentos em Portugal não se agravou nos anos da
crise. Pelo contrário, a redistribuição nos rendimentos operada pelo Estado
(por via dos impostos, transferências, etc. incluídos no pacote de austeridade)
foi de molde a conseguir diminuir até, ligeiramente, o (consagrado) índice
global de Gini.
Julgo em consciência que se
tratará de uma quase “façanha”, da qual aliás, nem todos os países sujeitos à
austeridade destes anos se poderão gabar por aí além. Sabendo-se porém como
estes temas vão ser usados à exaustão na campanha eleitoral, aqui fica o
registo, já que a façanha tem sido tornada dispensável pelas oposições ou mesmo
ignorada. Que saberá afinal o PS sobre o andamento do país?
4. A “catalogação”
em curso – quase vertiginosa, quase demencial, mas certamente irracional – levará
a que as considerações acima expostas sejam vistas como vindas de uma
“passista” cega ou sabe Deus. Mas não é de Passos e da sua coligação que se
trata, mas do país. Os políticos vão e vem, ganham e perdem. Os países duram.
Mas mesmo sabendo que Portugal não se esgota nos insultos nem mora apenas na
subcave das redes sociais profissionalmente assassinas, aflige observar como
algumas coisas são possíveis de ser ditas.
E quanto a alguns bons
resultados do país ou a felizes constatações, como esta das desigualdades,
também não se trata de gabar a coligação mesmo que tenha sido a sua navegação a
chegar a alguns bons portos. Trata-se, o que é infinitamente mais importante, dos
portugueses.
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