Alberto Gonçalves
Não era difícil prever o
desastre que é António Costa [foto]. Os primeiros indícios chegaram com o culto
da "inteligência" caseira, que se destaca pela portentosa falta da
dita e atabalhoadamente tentou converter um amorfo funcionário do PS no D.
Sebastião de 2014. Os sinais acentuaram-se durante o combate contra Seguro,
raro momento em que, por comparação, este se assemelhou a um estadista
promissor ou, vá lá, a um ser vivo. Chegado à liderança do partido, o dr. Costa
continuou a provar com espantosa frequência que a inabilidade na gestão de uma
autarquia não basta para governar um país. Não era difícil prever o desastre:
difícil era adivinhar a respectiva dimensão.
Comentadores magnânimos
atribuem o fiasco a factores externos, da prisão de Sócrates ao advento do Syriza.
Na sua generosidade, esquecem-se de acrescentar que, sozinha, a brutal inépcia
do dr. Costa, que possui a firmeza da esparguete cozida, transformou cada
eventual obstáculo numa cordilheira inultrapassável.
Sobre Sócrates, o dr. Costa
começou tipicamente por avaliar mal o "sentimento" popular e defender
com tremeliques de orgulho as proezas do preso 44 enquanto primeiro-ministro.
Uma bela manhã até desceu a Évora. Meses depois, numa exibição de objectividade
sem precedentes, o dr. Costa criticou um governo de que ele próprio fez parte e
jurou, sem jurar, não repetir a excursão alentejana.
Sobre o Syriza, o dr. Costa já
disse tudo e o seu oposto, de acordo com o que tomou pelo clima do momento.
Qualquer hipotético avanço dos maluquinhos que fingem mandar na Grécia tinha o
dr. Costa, dez minutos decorridos, a erguê-los ao estatuto de farol da Europa.
Em vinte minutos, os avanços recuavam estrategicamente e a apreciação do dr.
Costa também: uma ocasião, apelidou o Syriza de "tonto". Mas isso foi
antes do referendo, em que o Syriza voltou a ser sublime. E o referendo foi
antes do acordo, em que o glamour do Syriza regressou a níveis da peste
bubónica.
Nos intervalos dos Grandes
Temas, o dr. Costa desdobrou-se a opinar acerca de temas minúsculos, naquele
português de causar inveja a Jorge Jesus e sempre no lado errado do
discernimento: o "investimento" público (promete muito), a
austeridade (é uma péssima opção), a autonomia dos autarcas (quer reforçá-la),
a "lusofonia" (acha-a linda). Nos intervalos dos intervalos, passeou
o currículo democrático e arranjou uma guerra interna com as "bases"
do PS, que consultaram as sondagens e desataram a questionar a infalibilidade
do chefe. As cambalhotas em volta dos (inacreditáveis) candidatos presidenciais
não ajudaram. Nem os abraços aos socialistas franceses que, afinal, conspiram
para varrer Portugal do euro. Nem nada.
Resta apurar se a tendência
para a calamidade é involuntária ou propositada. A verdade é que o dr. Costa
conseguiu, em pouco tempo, renovar as esperanças eleitorais da coligação no
poder. Um tiro no pé do Governo é invariavelmente seguido por uma explosão
auto-infligida no porta-aviões do PS. Se o PS perder as eleições, o mérito será
inteirinho do dr. Costa. Se ganhar, é Portugal que não merece melhor. E pior
parece impossível.
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