Rodrigo Constantino
Na VEJA desta semana, Eduard
Wolf escreve uma ótima resenha do livro Camaradas, do inglês Robert Service, em
que narra a ascensão e queda do comunismo. Ele atesta: violência e
autoritarismo estão na essência dessa decrépita doutrina. O recado é óbvio para
liberais e conservadores, mas precisa ser repetido, pois ainda há muito
esquerdista insistindo por aí que houve, na União Soviética (e em todas as
demais experiências socialistas), uma “deturpação” da utopia marxista. O
problema foram seus líderes, não suas premissas, alegam. Estão errados, claro.
O historiador Richard Pipes já
tinha mostrado, antes, que os resultados trágicos do socialismo “real” foram
consequência lógica de seus métodos e teorias, que não poderiam levar a destino
muito diferente. O socialismo não é uma boa ideia que fracassou; é uma má ideia
em sua essência, por desprezar a natureza humana, por tratar indivíduos como
insetos gregários, por subverter todo o código de valores “burgueses”,
responsável pela relativa ordem a paz dos países desenvolvidos. Service também
mostra que a violência era intrínseca ao comunismo, como argumenta Wolf:
Ao usar seus “nobres fins”
para justificar quaisquer meios, os revolucionários comunistas estão dispostos
a tudo, a “fazer o diabo” para chegar e permanecer no poder. O fervor dogmático
garante a paz de consciência para todo tipo de crime, praticado em nome do
“povo” ou da utopia. A ditadura do proletariado era não só tolerada, como
enaltecida enquanto meta “intermediária” para o destino final: o fim do estado.
Ou seja: os comunistas pretendiam criar uma ditadura para depois simplesmente
aboli-la, sem mais nem menos. É preciso ser ou muito idiota, ou muito cara de
pau para crer em algo assim.
Mas não foram poucos os
“intelectuais” que flertaram ou se apaixonaram com essa ideologia assassina.
Vários pensadores importantes defenderam o comunismo e o socialismo, mesmo
diante de seus resultados trágicos. Para eles, ou esses fatos eram simplesmente
ignorados, não existiam, ou então eram aceitáveis pelo “bem maior”, pelo prêmio
que eventualmente a humanidade ganharia se ao menos insistisse em seu objetivo
de forma obstinada. Cadáveres sendo empilhados, miséria se espalhando, mas todo
esforço precisava ser redobrado para, finalmente, o mundo ser igualitário,
“justo”. Wolf conclui:
Com novo manto, o comunismo
continua sendo pregado por quem nada aprendeu com a história. Vide o
bolivarianismo chavista, o “socialismo do século XXI”, que voltou a encantar
inúmeros idiotas úteis e “intelectuais” em busca de algum ópio para suas
angústias existenciais. Essa gente toda defendeu a Venezuela sob o comando do
bufão autoritário Hugo Chávez, e muitos fingem, agora, não ter nada a ver com
seu resultado catastrófico. Seria, uma vez mais, o caso de uma “deturpação” do
socialismo, de algum desvio qualquer.
Uma reportagem de Franz von Bergen no GLOBO de hoje
mostra, porém, como a experiência venezuelana repetiu os mesmos passos da União
Soviética. Nada disso é coincidência, ou puro acaso. É exatamente o que pessoas
razoáveis esperavam dos métodos adotados por Chávez e Maduro.
O socialismo nunca foi capaz de produzir resultados diferentes. A Venezuela,
cada vez mais parecida com Cuba, segue a mesma ópera bufa soviética, e tudo
isso foi previsto pelos liberais e conservadores, e ignorado pela esquerda em
geral. Diz o jornal:
Se uma mulher decide sair para
comprar carne, a menos que tenha sorte, não conseguirá fazê-lo de uma só
tacada. Será necessária uma série de decisões que podem implicar: 1) não
encontrar o produto e ter de buscá-lo em outro lugar; 2) encontrar o que
buscava, mas enfrentar fila para comprá-lo; 3) substituir a carne por outra
proteína; 4) adiar a compra e 5) abandonar a ideia completamente.
O exemplo poderia descrever a
rotina de escassez vivida pelos venezuelanos. Mas foi pensado por János Kornai,
economista húngaro nascido em 1928 e um dos maiores estudiosos das economias
dos países socialistas europeus do bloco soviético. No livro “The Socialist
System: The Political Economy of Communism”, Kornai adverte que esse sistema se
transformou em uma “economia da escassez”, já que o fenômeno tornou-se
“frequente”, “geral”, “intensivo” e “crônico”. Essa foi uma das consequências
mais graves do socialismo clássico, que se apoiava na gestão governamental do
aparato produtivo e em um planejamento centralizado que aplicava mecanismos de
controle para anular a influência do mercado sobre a economia.
Desde que o chavismo se
declarou socialista, em 2005, o governo tomou uma série de medidas que levaram
o projeto a um modelo parecido ao que fracassou no Leste europeu. Embora com
uma nova roupagem de “socialismo do século XXI”, o princípio é o mesmo, porque
se controlam diretamente a economia e outras atividades, em vez de supervisar
os mercados respeitando as liberdades.
Expropriação de empresas,
ataque ao capitalismo, aos ricos e à sua “ganância”, demonização do lucro,
discurso populista em prol da “justiça social”, concentração de poder e
recursos no estado, antiamericanismo, eis o script ipsis literis dos
velhos – e novos – socialistas. Nada mudou, tanto nos meios pregados como,
claro, nos resultados obtidos. O socialismo produz somente escravidão, miséria
e inanição, escassez generalizada. Mas ainda tem quem o defenda! Os dinossauros continuam vivos! É uma doença mental, ou um sério
desvio de caráter. Nada mais pode justificar a insanidade de querer fazer tudo
exatamente igual, e ainda esperar resultados distintos.
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