Rodrigo Constantino
Poser. É esse o nome que se dá aos que usam as redes sociais para posarem
de bonzinhos, para mostrarem aos mil “amigos” como são engajados, abnegados,
“conscientes”.
Só andam de bike pois querem preservar o
planeta, seus filhos só pensam em como salvar as baleias ou as crianças
africanas, são super-esclarecidos e “tolerantes”, pensam 24 horas por dia em
“justiça social” e detestam a insensibilidade dos gananciosos, que são sempre
os outros. Mas claro que, na prática, não é nada disso.
Em artigo de hoje na Folha, Ricardo Mioto fala
desse “duplipensar” orwelliano dos que perderam o senso do ridículo, incapazes
de perceber suas gritantes contradições. Pondé os chama de “inteligentinhos”, e
eu os dissequei em Esquerda Caviar. Sem eufemismo, o fenômeno
lida com a velha e conhecida hipocrisia.
Mioto cita alguns exemplos
engraçados:
Em tempos de economia na
vala, é achar que juros altos da dívida pública são uma desgraça que só
favorece uma classe de rentistas, mas não ver problema se governo gasta mais do
que arrecada, adiando a conta.
É ligar o mercado
financeiro à voz da elite, mas defender generosos subsídios a empresários bilionários
via BNDES.
É crer que cabe ao Estado
decidir taxas de retorno da iniciativa privada, forçá-la a ser sócia da
Petrobras (que parceira!) e depois lamentar que interessados em investir… ué,
sumiram.
No campo social, é achar
que a mulher que aborta é dona do seu corpo e destino, mas desdenhar a herege
que faz cesárea (parto “não humanizado”) ou desacelera a carreira porque é
feliz cuidando dos filhos.
É mudar a análise do crime
conforme a conveniência ideológica. É dizer, com óbvia razão, que estupradas
não podem ser responsabilizadas pelo ocorrido, mas atribuir roubos à ostentação
do paulistano, como faz Leonardo Sakamoto.
É atacar o machismo entre
nós, mas, por relativismo cultural, calar ante atrocidades contra mulheres por
islâmicos.
[...]
É papagaiar sua opção
política pelos pobres, mas demonizar o agronegócio, cuja produtividade
significa comida mais barata no mercado – quanto menos dinheiro tem uma
família, maior o impacto da alimentação no orçamento.
É dizer que a criança deve
ser alfabetizada quando se sentir pronta, sem “opressões”, mas saber que isso
só vale para os filhos dos outros – os nossos vão ao colégio Bandeirantes,
estudar norma culta e tabuada.
[...]
Para ficar na Folha,
sei que pega melhor no Facebook compartilhar, digamos, o Gregorio Duvivier do
que o Alexandre Schwartsman. Aliás, Alexandre quem? Tem canal de humor no
YouTube? Não, é o cara que escreve sobre… superavit. Uau.
O único porém é que botar a
carência a serviço da lógica não costuma dar muito certo.
Não costuma dar nada certo.
Mas quem liga para os resultados efetivos, não é mesmo? Com
certeza essa turma não dá a mínima. O lance é só a aparência, a imagem, tanto
aquela para os outros, como aquela refletida de forma deturpada no próprio
espelho. Essa gente, só porque repete chavões sensacionalistas e compartilha
textos ridículos de Sakamoto e Duvivier, já se sente a alma mais nobre que
vagou pelo planeta. Estão contra os “gananciosos”, a “elite”, os “insensíveis”.
Como é fácil a vida dos hipócritas!
O monopólio dos fins nobres
dispensa o chato debate calcado em argumentos e fatos. A demonização dos
adversários ideológicos, tratados como inimigos, é suficiente para a sensação
de regozijo pela suposta superioridade moral. A repetição de slogans elimina a
necessidade de estudo aprofundado sobre os assuntos. Os aplausos dos pares,
todos em busca dos mesmos objetivos, garante o peso da quantidade, e a manada
sempre compensou parcialmente a mediocridade individual.
A turminha perdeu mesmo
qualquer senso do ridículo. O negócio é ser ganancioso, da elite, insensível e
intolerante com qualquer divergência, mas depois acusar os outros de
tudo isso, diante de um espelho, e seguir a vida como se Madre Tereza de
Calcutá devesse se curvar diante de tanta nobreza e altruísmo, enquanto o papa
Francisco deveria logo de uma vez pedir sua canonização urgente. Amém!
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, veja, 25-7-2015
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, veja, 25-7-2015
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