Jorge Afonso Morgado
Não somos menos portugueses
por partir. E, quando for o caso, também não ficamos menos cosmopolitas por
voltar. Coitadinhos? Coitadinhos antes os que continuam parados.
Sucedem-se notícias dos que
partem. São enfermeiras, médicos, estudantes Erasmus (cerca de mil, só do
Porto), programadores e futebolistas até. Sempre com a garantia de ter uma vida
e a bela expectativa de que seja melhor. Claro que mudar implica coragem. Mas
não deixa de ser básico tratar os que partem como coitadinhos.
Não faz sentido ter medo de
ganhar mundo. O Infante D. Henrique partiu do Porto para fazer isso. Era filho
de boas famílias, mas nem por isso deixou a sua “zona de conforto”. A tal “zona
de conforto” soa estupidamente portuguesa.
Traduz-se por algo que está
algures entre o viver em casa dos pais até depois dos 40, tirar sete
pós-graduações seguidas e acabar a trabalhar num call-center a ganhar 500 euros
por mês.
Sejam 50, 100 ou 200 mil por
ano, trocar caravelas por aviões da Ryanair significa igualmente alargar
horizontes e procurar sucesso. A diferença é que os portugueses que antes
desesperavam em filas na fronteira de Vilar Formoso ou enchiam o Sud Express,
agora abarrotam salas de embarque em Londres, em Cracóvia, em Doha ou em Praga.
E os que trabalhavam nas obras ou em casas finas de Paris ou Genebra, agora são
profissionais qualificados, muitas vezes em posições de liderança e, melhor,
não têm vergonha do que fazem nem de onde vêm.
Não há cá muitas
oportunidades? Não. Existem imensos empregos bem pagos? Também não. Os que
existem são para a vida? Muito menos. Neste caso, convém mexermo-nos e procurar
um bocado de futuro. Em Londres, há quarenta mil portugueses. Não vivem todos
em Knightsbridge nem têm todos um Bentley à porta. Mas podemos sempre pensar no
José de Chelsea, no António do Lloyds ou nas pinturas da Paula para perceber
que a viagem, a mudança e o risco podem valer a pena.
Foi o que fez o Infante D.
Henrique há sensivelmente 500 anos e já na altura não se deu mal. Não somos
menos portugueses por partir. E, quando for o caso, também não ficamos menos
cosmopolitas por voltar. Coitadinhos? Coitadinhos antes os que continuam
parados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-