Cesar Maia
1. Os rígidos programas econômicos de ajuste dos novos governos da
Espanha e Portugal, 4 anos atrás, foram semelhantes. O de Portugal ainda mais
forte, dada a sua situação. As consequências desses ajustes foram intensas em
relação a renda, ao emprego e a produção. Ambos os governos perderam
popularidade e viram suas aprovações despencarem.
2. Agora, quatro anos depois, Espanha e Portugal enfrentam eleições
gerais que definirão as maiorias parlamentares e os novos governos. Na Espanha
surgiram movimentos antipolíticos no rastro das redes sociais. Em seguida
registraram-se como partidos políticos. Já nas eleições europeias, de um ano
atrás, estes partidos elegeram deputados.
3. Nas eleições regionais deste ano não só elegeram legisladores,
como obtiveram maiorias parlamentares simples em cidades tão importantes como
Madrid e Barcelona e conquistaram o poder com apoio do socialista PSOE e da IU,
esquerda unida. E mais ainda, quebraram a hegemonia nacional do PP e do PSOE
que, por anos, se revezaram no poder.
4. Dos mais de 70% que somavam, agora tangenciam os 50%. É neste
quadro que virão as eleições deste final de ano. A situação do PP, que governa,
é muito difícil, pois mesmo que obtenha uma maioria simples, será muito difícil
agregar forças, na medida em que os novos partidos tendem a formar maioria à
esquerda.
5. Mas em Portugal - seu vizinho - enfrentando os mesmos problemas
econômicos, nada disso ocorreu no nível político. Não surgiram movimentos
antipolíticos relevantes e menos ainda transformados em partidos. No limite,
nas eleições para municipais/prefeito, poucos candidatos independentes
venceram, como por exemplo no Porto.
6. Com eleições marcadas para 4 de outubro, o mesmo quadro
partidário dos últimos anos disputa o poder e as mesmas coligações em torno do
PSD - de centro-direita - que governa e do PS - de centro-esquerda - governo
anterior e atual oposição. E por que tamanhas diferenças políticas a partir de
medidas econômicas semelhantes?
7. Talvez porque o processo de corrupção na Espanha tenha atingido
os dois principais partidos. Em Portugal atingiu o Partido Socialista e mais
grave, com prisão de seu ex-primeiro ministro. O PSD, no governo, carregou o
ônus da austeridade, mas não da moralidade.
8. Com isso, não foram abertos espaços para o surgimento de forças
antipolíticas nacionais à esquerda e a possibilidade de uma coligação em torno
dos socialistas se diluiu, tornando a centro-direita, que governa, favorita em
outubro.
9. No Brasil, quem governa é a esquerda. A corrupção atingiu o PT e
contaminou suas referências. Cresceram os protestos nas ruas mobilizados pelas
redes sociais. Mas as redes sociais não tiveram e não têm o tempero de
esquerda, como na Espanha. E menos ainda se transformaram em partidos, em
função das restrições da legislação partidária brasileira.
Quando a delação não era premiada
1. No auge de Hollywood quase todos os filmes que tratavam de
julgamentos traziam a imagem de um juiz de toga no centro da mesa no plenário
do julgamento e o acusado em pé, ao lado de seu advogado.
2. O réu era chamado à frente do juiz e de uma bíblia e o juiz
pedia que colocasse a mão em cima dessa. E o juiz perguntava: Promete dizer a
verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade? E o réu respondia ‘sim’.
3. Corria dois riscos: primeiro, mentir e pecar em um dos
mandamentos da lei de Deus. Segundo, na lei dos homens, prestar falso
testemunho.
4. Dizem que aí está a origem da delação premiada. Foram tantos e
tantos que mentiam, que aqueles juramentos deixavam de fazer sentido. Caberia
apenas as investigações comprovarem e não contar mais com os réus.
5. O tempo corria contra a justiça. A delação premiada revive o
juramento de antes - dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a
verdade. Com o prêmio de redução da pena, que passa a ser a novidade
introduzida no juramento de tempos atrás. E – assim - acelerar as
investigações.
Título e Texto: Cesar
Maia, 29-7-2015
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