Rui A.
Não se trata de um rebate de
consciência pelas malvadezas que tenho vindo a escrever sobre as duas
personagens do título. Tão pouco de uma adesão às velhas teorias sociológicas e
criminais muito em voga nas décadas de 1960 e 70, segundo as quais a culpa do
crime era mais da sociedade (de todos nós) do que dos infelizes dos criminosos
que não tínhamos sabido educar.
A questão é outra. Trata-se do
facto da «geração Tsipras», à qual pertencem os dois malandrins gregos, ter
crescido numa cultura europeia segundo a qual não era necessário haver
responsabilidade para que o sucesso e o sossego estivessem garantidos. Na
verdade, depois de terem sido fundadas nos bons e sãos princípios liberais da
liberdade de comércio que conduz à paz, cedo as Comunidades Europeias assumiram
uma deriva «social», segundo a qual lhes competiria a criação de um «modelo
social europeu» fundado na convicção de que essas organizações supranacionais,
e mais tarde a União, se bastariam a si mesmas para trazerem prosperidade,
alegria e felicidade aos povos que as compunham.
A partir da década de 70, as
Comunidades, não se bastando com o sucesso do Mercado Comum (ainda em
construção, note-se), protegeram o ambiente, o emprego, a saúde, os direitos
dos trabalhadores, dos cidadãos europeus, em suma, a felicidade. Para isso,
despejaram dinheiro a rodos sobre os estados membro, muito do qual para os
estados que agora se encontram em crise, como Portugal e a Grécia.
Infelizmente, o Pacto de Estabilidade e Crescimento só viria mais tarde. Quando
os estragos já eram imensos.
Em 1963, Barry Goldwater
(força aí com as rosnadelas, ó camaradas), escrevia: «O Socialismo através do
Assistencialismo cria um perigo muito maior para a liberdade do que o
Socialismo através da Nacionalização, precisamente porque é mais difícil de
combater. Os males da Nacionalização são evidentes por si próprios e imediatos.
Os do Assistencialismo são velados e tendem a ser adiados.
As pessoas são capazes de
compreender as consequências da entrega da propriedade da indústria
siderúrgica, digamos, ao Estado; e é possível contar que se oponham a tal
proposta. Mas aumente o governo a contribuição para o programa de “Assistência
Pública” e nós, no máximo, resmungaremos contra as despesas governamentais
excessivas. O efeito do Assistencialismo sobre a liberdade será sentido mais
tarde – após os seus beneficiários se terem tornado as suas vítimas, após a
dependência em relação ao governo se ter tornado servidão e ser tarde de mais
para abrir as portas da prisão. (…) É possível que um homem não compreenda
imediatamente, ou nunca compreenda, o dano assim causado ao seu carácter. De
facto, este é um dos grandes males do Assistencialismo – transformar o
indivíduo de um ser espiritual digno, industrioso, auto-confiante, numa criatura
animal dependente sem o saber.».
Foi isto que sucedeu na Grécia
de Tsipras e Varoufakis. E é por isto, também, que eles reclamam, indignados,
por acharem que nada precisam de fazer para manterem o «greek way of life»,
reclamando a «solidariedade europeia» que subitamente lhes começou a faltar
como eles a percebiam. Também eles, à sua medida, são vítimas do
assistencialismo de décadas que recaiu sobre a União Europeia. E o Varoufakis
até escreve livros sobre o assunto. É um teórico da coisa, que não consegue
entender por que raio a coisa que ele teorizou está agora a falhar.
Título e Texto: Rui A., Blasfémias,
21-7-2015
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