sexta-feira, 24 de julho de 2015

Os processos de democratização em Cuba e na Venezuela

Cesar Maia
      
1. As ditaduras têm dinâmicas distintas no processo de democratização. Algumas de dentro para dentro, como, por exemplo, nos anos 80 no Sul da Europa e na América Latina. Outras de fora para dentro, como, por exemplo, na segunda guerra mundial. Há casos mistos, como, por exemplo, a desintegração do sistema soviético.
      
2. Há situações em que a democratização se dá de dentro para dentro, mas de dentro – e entre – as próprias forças dominantes que governam.
      
3. Os casos de Cuba e Venezuela têm levado à construção de movimentos e partidos que lutam por suas democratizações. No caso de Cuba, organizados fora de seu território. Na Venezuela, dentro. Imaginam que esses regimes poderão desintegrar pela força dos grupos democratizadores internos – dentro (Venezuela) e fora (Cuba) dos países – e pressão internacional. Ilusão!
      
4. Análises, estudos e pesquisas nesses países mostram que, no caso de ambos, o processo de democratização tenderá a ocorrer de dentro para dentro, mas de dentro das próprias forças dominantes que governam. Mas há nuances.
       
5. Nada ocorrerá em Cuba até o falecimento de Fidel Castro, que terá um velório de vários dias, com a presença de chefes de estado e governo de todo mundo, intelectuais, artistas, lideranças sociais... e, depois, pelo menos seis meses de decantação. A democratização virá com grau decrescente de autoritarismo por vários anos, ajustando-se a um modelo econômico chinês (pela proximidade com os EUA) e político que tenderá a lembrar o desenho que o Marechal Tito deu à Iugoslávia no pós-guerra.

6. A condução será de lideranças internas que oferecerem maior taxa se confiabilidade e menor excitação pelos prazos ao partido comunista cubano e a base social do regime. Ou seja, uma transição sem traumas.
       
7. O caso da Venezuela virá com traumas, mas de dentro do próprio regime. A importância eleitoral dos partidos de oposição – e os acertos ou erros táticos – reduzirão ou ampliarão os traumas e os prazos. O poder na Venezuela é compartilhado por uns cinco grupos que a presença e o carisma de Chávez davam uma estabilidade relativa.
       
8. O anúncio de sua morte teve que ser prorrogado por semanas para que esses grupos pudessem definir os espaços de partilhamento. O caos econômico agrava os riscos de uma transição traumática em que os grupos dominantes percam poder.
       
9. Nesse sentido, prevalecerá o grupo que tenha – naturalmente – mais pontes de diálogo externo e com lideranças políticas – internas – moderadas e pacientes. Provavelmente a transição será conduzida pelos militares profissionais sem suspeitas de vínculos com narcos, com as FARC e sem dependência a Cuba.
       
10. Esses militares profissionais, naturalmente, ascenderão pelos riscos de desintegração com perda total de poder do consórcio chavista. Cabe às forças moderadas de oposição identificar esses militares e estabelecer com a discrição necessária, os contatos, sem ansiedade pelo exercício do poder. 
Título e Texto: Cesar Maia, 24-7-2015

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