Cesar Maia
1. As ditaduras têm dinâmicas distintas no processo de
democratização. Algumas de dentro para dentro, como, por exemplo, nos anos 80
no Sul da Europa e na América Latina. Outras de fora para dentro, como, por
exemplo, na segunda guerra mundial. Há casos mistos, como, por exemplo, a
desintegração do sistema soviético.
2. Há situações em que a democratização se dá de dentro para
dentro, mas de dentro – e entre – as próprias forças dominantes que governam.
3. Os casos de Cuba e Venezuela têm levado à construção de
movimentos e partidos que lutam por suas democratizações. No caso de Cuba,
organizados fora de seu território. Na Venezuela, dentro. Imaginam que esses
regimes poderão desintegrar pela força dos grupos democratizadores internos –
dentro (Venezuela) e fora (Cuba) dos países – e pressão internacional. Ilusão!
4. Análises, estudos e pesquisas nesses países mostram que, no caso
de ambos, o processo de democratização tenderá a ocorrer de dentro para dentro,
mas de dentro das próprias forças dominantes que governam. Mas há nuances.
5. Nada ocorrerá em Cuba até o falecimento de Fidel Castro, que
terá um velório de vários dias, com a presença de chefes de estado e governo de
todo mundo, intelectuais, artistas, lideranças sociais... e, depois, pelo menos
seis meses de decantação. A democratização virá com grau decrescente de
autoritarismo por vários anos, ajustando-se a um modelo econômico chinês (pela
proximidade com os EUA) e político que tenderá a lembrar o desenho que o Marechal
Tito deu à Iugoslávia no pós-guerra.
6. A condução será de lideranças internas que oferecerem maior taxa
se confiabilidade e menor excitação pelos prazos ao partido comunista cubano e
a base social do regime. Ou seja, uma transição sem traumas.
7. O caso da Venezuela virá com traumas, mas de dentro do próprio
regime. A importância eleitoral dos partidos de oposição – e os acertos ou
erros táticos – reduzirão ou ampliarão os traumas e os prazos. O poder na
Venezuela é compartilhado por uns cinco grupos que a presença e o carisma de
Chávez davam uma estabilidade relativa.
8. O anúncio de sua morte teve que ser prorrogado por semanas para
que esses grupos pudessem definir os espaços de partilhamento. O caos econômico
agrava os riscos de uma transição traumática em que os grupos dominantes percam
poder.
9. Nesse sentido, prevalecerá o grupo que tenha – naturalmente –
mais pontes de diálogo externo e com lideranças políticas – internas –
moderadas e pacientes. Provavelmente a transição será conduzida pelos militares
profissionais sem suspeitas de vínculos com narcos, com as FARC e sem
dependência a Cuba.
10. Esses militares profissionais, naturalmente, ascenderão pelos
riscos de desintegração com perda total de poder do consórcio chavista. Cabe às
forças moderadas de oposição identificar esses militares e estabelecer com a
discrição necessária, os contatos, sem ansiedade pelo exercício do poder.
Título e Texto: Cesar Maia, 24-7-2015
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