António Ribeiro Ferreira
O revolucionário Alexis
Tsipras percebeu bem as regras. Um país da moeda única não pode andar a
contaminar os outros com défices e dívidas.
A Grécia não foi humilhada
coisa nenhuma. Estava de novo na bancarrota, sem dinheiro para pagar aos
credores, bancos fechados e controlo de capitais, com as importações limitadas
e em risco de falhar salários e pensões. Pediu um terceiro resgate, que pode chegar
aos 86 mil milhões de euros, e ouviu dos seus parceiros as condições
necessárias e suficientes para receber mais um empréstimo. Tudo normal, nada de
capitulações, rasgar de vestes e tratados de Versalhes. Claro que para o Syriza
e para o primeiro-ministro Alexis Tsipras, são sapos difíceis de engolir. É
normal. Depois de uma campanha eleitoral cheia de slogans contra a austeridade,
apoiada e aclamada pela extrema-esquerda e extrema-direita europeias, com
alguns socialistas pelo meio, chegar a Atenas com um caderno de encargos
recheado de reformas e cortes não é fácil nem agradável.
Ainda por cima, depois de um
referendo em que o governo do Syriza apelou de novo a um chumbo da austeridade
e recebeu o apoio de 61% dos gregos. Mas Tsipras deve ter aprendido bem a lição
de estar numa moeda única. A austeridade só é exigida a quem não tem as contas
públicas em ordem, tem défices excessivos e dívidas incomportáveis e não
consegue avançar para reformas no mundo do trabalho e no Estado social que
garantam crescimento económico, emprego e excedentes orçamentais que permitam
baixar o endividamento. Um país que aceitou pertencer à União Monetária e
adoptou a moeda única está obrigado a cumprir regras. Não pode, com a sua
indisciplina, andar a contaminar as economias dos países que fazem esforços,
aplicam medidas duras aos cidadãos, fazem reformas e depois vêem os seus
esforços deitados para o lixo por erros alheios. A cimeira de 12 e 13 de Julho
fica, naturalmente, na história.
Não por se ter chegado a
acordo com a Grécia para o terceiro e, provavelmente, último resgate do país.
Mas pelo facto de os países do euro terem, pela primeira vez, posto em cima da
mesa, de uma forma clara, a possibilidade de um país sair da zona euro. É um
passo em frente, um grande e sério aviso a toda a navegação europeia. E deve,
por isso mesmo, ser levado em conta em Portugal, numa altura em que os partidos
estão na estrada a vender aos portugueses os seus programas eleitorais, as suas
promessas e as suas ilusões para o futuro. Os portugueses, que acompanham com
muita atenção o que se passa na Grécia, já perceberam com certeza que as regras
da moeda única não só não vão mudar como não vão ficar mais flexíveis, como
anda por aí a vender o líder socialista António Costa. Não há alternativa ao
Tratado Orçamental e às suas regras.
As contas têm de estar
equilibradas, os défices claramente abaixo dos 3%, e os países devem apresentar
excedentes orçamentais primários para tornar as dívidas públicas sustentáveis.
A promessa socialista de encher os bolsos dos portugueses de dinheiro para
aumentar o consumo, fórmula mágica de fazer crescer a economia e o emprego, é o
caminho certo para o desastre. A promessa socialista de voltar ao investimento
público para aumentar o emprego e o PIB é o caminho certo para o país voltar ao
desastre não só de 2011 como de 1976 e 1983. Os portugueses devem lembrar-se
que o país já caiu três vezes na bancarrota em 41 anos de democracia. Se cair
na quarta, sai do euro e entra no caos e na miséria. Na hora do voto, a Grécia
deve estar na ponta da caneta.
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