Valdemar Habitzreuter
Existir implica em duas
coisas: ente e ser. Não são propriamente a mesma coisa. O ente é o fenômeno,
aquilo que aparece; o ser é o que está escondido no ente, subjaz ao ente, é a
essência do ente; sem o ser o ente não existe.
Nós somos entes, isto é: cada
qual é um fenômeno e consequentemente o que sustenta esse fenômeno é o ser que
subjaz nele. Este ser que somos, que é a nossa essência humana – o cerne -, nós
o esquecemos e só nos preocupamos com a nossa casca - o fenômeno.
Existir, portanto, é um
desafio. Primeiro, porque não vislumbramos um propósito claro de estamos aí
jogados no mundo e sem saber qual sentido dar à existência. Segundo, invade-nos
o sentimento da angústia pelo que a existência nos pode reservar: atrocidades,
doenças, catástrofes, tragédias e morte. Por que esta angústia? Porque nos
perdemos nas aparências em detrimento do essencial da existência.
Esquecemo-nos de que por trás
de todo existente subjaz o ser e esquecemo-nos dele, damos importância às
aparências que sufocam o ser. Existimos escondendo o ser, o nosso ser. O ser
quer ser para que o existir tenha sentido.
Assim, o homem/mulher está às
voltas com o amargor da vida por conta do esquecimento de seu ser, e a
existência torna-se um peso, um absurdo e sem sentido. E para sufocar sua
inquietação frente ao mal-estar existencial usa de subterfúgios: viagens...,
consumismo..., baladas..., frenesi musical..., tempo desmesurado no
computador..., celular..., exposição glamorosa no FB..., prazeres
inconsequentes sem monta..., e por aí vai... Tudo visando encobrir a tristeza e
falta de sentido de existir em que o ser permanece esquecido. Despertá-lo seria
a solução para uma vida autêntica, pois ser não implica em dedicar-se a
técnicas para fugir da vida acabrunhada e aliviar a existência, é simplesmente
ser e deixar a vida acontecer onde até a morte é bem-vinda coroando o ser.
Assim, para aliviar esta vida
angustiante (remete a Heidegger), nauseabunda (a Sartre), surgiu uma
perspectiva filosófica denominada ‘existencialismo’ que se propõe a uma análise
existencial do homem, do porquê de suas angústias e medos e qual remédio
aplicar para suportar satisfatoriamente o existir no mundo. O slogan do
existencialismo: “existo, logo preciso dar conta dessa existência”, remete ao
desvelamento de nosso ser e pastoreá-lo.
O existencialismo é
representado por filósofos consagrados como Kierkegaard,
considerado o pai do existencialismo, Martin Heidegger, Karl Jaspers, Paul Sartre, Edmund Husserl, Friedrich Nietzsche,
Gabriel Marcel, etc.
que formulam teorias de como atravessar a existência com autenticidade e
valorá-la, mesmo que ela se apresenta na cruel nudez do desgosto e
desesperança. Para o existencialismo, o desespero, angústia, a náusea, o
abandono que a existência provoca no indivíduo servem de subsídio para construir
cada qual sua essência pessoal - seu caráter. É justo isto: essencializar a
existência; isto é: ter projetos de vida para suportar o mal-estar existencial.
Não é o caso de aqui expor as
filosofias desses pensadores, para isso, basta vasculhar o arsenal encontrável
na internet e alhures..., mas de modo geral, poder-se-ia admitir o
existencialismo em três vertentes: Pelas vias da estética, ética e religiosa.
Pela via da estética, o ser se revela essencialmente como belo e elevado (a
palavra estética é derivada da palavra grega ‘aesthesis’, sentir – portanto,
sentir a beleza da vida, o prazer de existir). Pela via da ética, o indivíduo
naturalmente desvela o ser e assume um comportamento de correção e
autenticidade de vida, preenchendo o vazio da existência (ethos, morada, daí,
zelar pela sua morada, pelo seu ser). E pela via religiosa, a pessoa, ao
vivenciar seu ser, vislumbra o SER Absoluto e dedica-se a uma vida numinosa
para ligar-se a ele (religião seria a religação do elo perdido com o SER
Absoluto, do latim religare,
religar).
O Importante, portanto, é
compreender a existência e elaborar projetos para melhor fazer sua travessia,
seja de modo estético, ético ou religioso...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 21-7-2015
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