sexta-feira, 24 de julho de 2015

O Coliseu nativo

Valmir Fonseca Azevedo

Na antiguíssima Roma os tiranos da época utilizavam-se do Coliseu e outras arenas para embromar a galera popular com os espetáculos circenses.

Enriquecendo a pantomima distribuíam pães para a massa que, de barriga cheia e imensos sorrisos de satisfação, assistia aos gladiadores se matando, as feras trucidando os miseráveis e as execuções de larápios e assassinos.

E assim, durante centenas de anos, viveram felizes os tiranos e os seus submissos súditos.

Hoje, numa inversão espetacular, parece que na arena, lá em baixo, ao invés de gladiadores, de leões, de tigres e outras feras, uma malta de politiqueiros por fúteis querelas está cuspindo uns nos outros.

A refrega é sem sangue.

O público assistente diverte-se ouvindo cabeludos palavrões e nojentos gestos obscenos, que cada bando usa para ofender aos seus desafetos.

As acusações são pesadas, desde o “você roubou mais do que eu...”, “deu mais pedaladas fiscais...”, até o “a sua mãe é...

Basicamente, os querelantes sempre formaram uma malta unida, só que nos últimos meses, por ambições pessoais e divergências no quanto cada um pode usufruir do Tesouro e do Poder Nacional, surgiram os atritos e as desconfianças.

No momento entre cusparadas, os oponentes esbravejam ameaças, e cada lado afirma que possui a seu favor as famosas legiões.

As do Norte estão ao nosso favor”, bradam alguns. “Mas nós contamos com as do Sul”, esbravejam os outros.

O povaréu boquiaberto nem sabe para que lado torcer, pois parece que, como sempre, logo os oponentes estarão aos abraços e beijos, e tudo voltará a ser “como dantes no quartel do Abrantes”.

Como dizem os mais ponderados dos fajutos gladiadores, “conterrâneos, o Brasil tem riquezas o suficiente para nós todos e a nossa galera popular está eternamente pronta para nos sustentar e enriquecer, portanto, por que brigar”?

Os pasquins utilizados pelos oponentes acirram a contenda com tétricas acusações.

Infelizmente, apesar de ambas as partes empregarem em sua defesa portentosos causídicos ou decantados filósofos, tudo indica que o “bom senso” irá predominar e, em breve, a linha do politicamente correto será adotada.

Breve, os afetuosos abraços, os elogios recíprocos apagarão a triste quadra de atritos e, como usual, os miseráveis plebeus retornarão para a arena onde, em sua desgraceira, alegrarão, não apenas os tiranos e seus cupinchas, mas o populacho em geral.

A Nação brasileira é famosa em todo o mundo pelo seu alegre e irresponsável modo de viver e, portanto, manterá suas tradições de aplaudir as chanchadas mais ignóbeis.

De fato, como escreveu o filósofo Nelson Rodrigues, “o brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Nossa tragédia é que não temos o mínimo de autoestima.”

O nativo não tem autoestima, nem responsabilidade, nem nacionalismo, mas não troca sua alegre desgraça por preocupações com o futuro, o seu, e cruz credo, o do País.

E viva a nossa vã filosofia, “Não importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar”. 
Título e Texto: Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira, Brasília, DF, 24 de julho de 2015

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