Valmir Fonseca Azevedo
Na antiguíssima Roma os tiranos da época utilizavam-se do Coliseu e
outras arenas para embromar a galera popular com os espetáculos circenses.
Enriquecendo a pantomima distribuíam pães para a massa que, de barriga
cheia e imensos sorrisos de satisfação, assistia aos gladiadores se matando, as
feras trucidando os miseráveis e as execuções de larápios e assassinos.
E assim, durante centenas de anos, viveram felizes os tiranos e os seus
submissos súditos.
Hoje, numa inversão espetacular, parece que na arena, lá em baixo, ao
invés de gladiadores, de leões, de tigres e outras feras, uma malta de
politiqueiros por fúteis querelas está cuspindo uns nos outros.
A refrega é sem sangue.
O público assistente diverte-se ouvindo cabeludos palavrões e nojentos
gestos obscenos, que cada bando usa para ofender aos seus desafetos.
As acusações são pesadas, desde o “você roubou mais do que eu...”, “deu
mais pedaladas fiscais...”, até o “a sua mãe é...”
Basicamente, os querelantes sempre formaram uma malta unida, só que nos
últimos meses, por ambições pessoais e divergências no quanto cada um pode
usufruir do Tesouro e do Poder Nacional, surgiram os atritos e as
desconfianças.
No momento entre cusparadas, os oponentes esbravejam ameaças, e cada lado
afirma que possui a seu favor as famosas legiões.
“As do Norte estão ao nosso favor”, bradam alguns. “Mas nós
contamos com as do Sul”, esbravejam os outros.
O povaréu boquiaberto nem sabe para que lado torcer, pois parece que,
como sempre, logo os oponentes estarão aos abraços e beijos, e tudo voltará a
ser “como dantes no quartel do Abrantes”.
Como dizem os mais ponderados dos fajutos gladiadores, “conterrâneos,
o Brasil tem riquezas o suficiente para nós todos e a nossa galera popular está
eternamente pronta para nos sustentar e enriquecer, portanto, por que brigar”?
Os pasquins utilizados pelos oponentes acirram a contenda com tétricas
acusações.
Infelizmente, apesar de ambas as partes empregarem em sua defesa
portentosos causídicos ou decantados filósofos, tudo indica que o “bom senso”
irá predominar e, em breve, a linha do politicamente correto será
adotada.
Breve, os afetuosos abraços, os elogios recíprocos apagarão a triste
quadra de atritos e, como usual, os miseráveis plebeus retornarão para a arena
onde, em sua desgraceira, alegrarão, não apenas os tiranos e seus cupinchas,
mas o populacho em geral.
A Nação brasileira é famosa em todo o mundo pelo seu alegre e
irresponsável modo de viver e, portanto, manterá suas tradições de aplaudir as
chanchadas mais ignóbeis.
De fato, como escreveu o filósofo Nelson Rodrigues, “o brasileiro é um
Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Nossa tragédia é que
não temos o mínimo de autoestima.”
O nativo não tem autoestima, nem responsabilidade, nem nacionalismo, mas
não troca sua alegre desgraça por preocupações com o futuro, o seu, e cruz
credo, o do País.
E viva a nossa vã filosofia, “Não importa que a mula manque, o que eu
quero é rosetar”.
Título e Texto: Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira,
Brasília, DF, 24 de julho de 2015
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