Rodrigo Constantino
Sou o presidente da ONG Forças
Obscurantistas Internacionais em Ação (FOBIA), formada por ultra-conservadores
e reacionários saudosistas da Idade Média. Ao ler hoje um artigo de um
ex-ministro que gosta de usar colete brega, marchar pela maconha e abraçar
árvores, senti-me na necessidade de reagir. Fomos desmascarados! Fomos
descobertos! Os progressistas já sabem de nossa existência, de nossa seita, de
nossos rituais macabros contra o avanço da tolerância no mundo.
Vejam só: nós, obscurantistas,
defendemos as armas, essas assassinas cruéis e implacáveis! Como todos sabem,
são as armas que matam inocentes, nunca as pessoas. E nós pregamos a liberdade
da potencial vítima ter uma arma para se defender. Um absurdo! Onde já se viu?
Onde isso vai parar? Claro que somente os progressistas se preocupam com as
vítimas inocentes, e por isso condenam a arma, essa desgraçada. É verdade que o
marginal já o é por não respeitar as leis, e que, portanto, não será o foco do
desarmamento legal. Mas isso é detalhe que só nós, obscurantistas, levamos em
conta.
Nós, obscurantistas, também
temos essa mania de respeitar as tradições de um povo, inclusive as religiosas.
Podemos até ser agnósticos ou ateus (sim, eles existem entre nós!), mas mesmo
assim entendemos que a religião, em especial o cristianismo, tem sua
importância na formação do Ocidente, do qual fazemos parte, e que valores
morais foram muitas vezes forjados com base nesses princípios religiosos. Ou
seja, nós, obscurantistas, não confundimos estado laico com estado
anti-religioso, especialmente anti-cristão, já que os progressistas parecem só
respeitar as religiões africanas.
Por falar em África, os
progressistas culpam a colonização pelas desgraças todas no continente. O
ex-ministro do colete fez exatamente isso no artigo: o “desequilíbrio
demográfico, ecológico e institucional tem origem em séculos de escravismo
colonial”. Claro, antes dos colonizadores a África, como sabemos, era
praticamente um paraíso! Era um oásis de tolerância. Foi o homem branco
ocidental cristão malvado que destroçou o lugar. Como? Alguns países mais
isolados, sem esse contágio do homem branco perverso, são ainda piores? Os
próprios africanos escravizavam outros africanos? Detalhes. Detalhes chatos e
insignificantes que só nós, obscurantistas, levamos em conta.
Vejam só como nós,
obscurantistas, somos preconceituosos: união entre gays já é algo do passado, e
nem falamos mais disso. Mas como a agenda progressista está longe da
satisfação, pois é preciso liberar geral em nome do “amor” e dar vazão aos
apetites sexuais o tempo todo e de todos, só pode ser classificado como
tolerante e progressista quem acha o máximo o “poliamor”, nome novo para
bacanal e orgia, ou quem não vê absolutamente nada demais no pai virar mãe, na
mãe virar pai, e em ambos viverem juntos com seus respectivos marido e esposa,
todos na mesma casa educando os filhos sobre a importância do combate ao
preconceito.
É necessário achar tudo isso
muito normal, do contrário é reacionário, preconceituoso. Não quer dar uma
boneca ou pintar o quarto de rosa para o filhinho de 3 anos? Machista! Nós,
obscurantistas, ainda achamos que há certas coisas bizarras no mundo, enquanto
o conceito de normalidade foi totalmente abandonado pelos progressistas.
Por fim, nós, obscurantistas,
ainda achamos que fazer aborto não é como cortar o cabelo ou a unha, e que
cocaína e crack não são como baguete ou pão francês, que deveriam ser vendidos
em qualquer esquina na maior tranquilidade. Confesso que temos algum preconceito
contra seus usuários sim, pois, afinal, somos obscurantistas. Não achamos cool
o sujeito encarar uma carreira de pó branco no meio de uma festinha
progressista como quem traga um uísque. Para nós, são coisas diferentes, pois
estamos presos na Idade Média.
Nós, da FOBIA, somos fóbicos.
Morremos de medo dos progressistas, do progresso, do futuro. E por isso nos
apegamos a essas coisas ultrapassadas, tais como tradição, família, religião.
Ainda seguimos alguns tabus, vejam só. Por exemplo: achamos um tanto de mau
gosto uma novela tratar com naturalidade uma situação em que um sujeito faz
sexo com a filha e a mãe juntas! Também achamos bizarro um garoto, em novela
das seis, falar que o incesto é um tabu religioso, e que se houver amor entre
irmãos, qual o problema de rolar um sexo?
Nossa conspiração contra o
progresso é internacional, pois sabemos que os progressistas estão no mundo
todo. Menos na África e nos países islâmicos, pois lá eles são normalmente
enforcados. Mas isso também é culpa do homem branco ocidental cristão, claro.
Tudo é culpa dessa praga, desse ícone do conservadorismo, do obscurantismo. Ao
menos é o que “pensam” os tolerantes progressistas, que são tão moderninhos e
descolados, que se tivessem o poder de um Castro já teriam mandado todos nós,
obscurantistas, para a fogueira, para provar que a Inquisição é coisa do
passado obscuro!
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