quinta-feira, 16 de julho de 2015

Osso duro de roer...


Valdemar Habitzreuter
Houve nações que, ao longo da História, se contentavam em serem supervisionadas por países economicamente prósperos e desenvolvidos, eram nações medíocres sem determinação em prosperar por suas próprias forças e, assim, solicitavam proteção e auxilio; e aí morava o perigo: de protegidos passavam a explorados e ficavam na dependência desses países protetores. O Brasil de passado remoto, por exemplo, sempre foi um quintal fértil onde os Estados Unidos recolhiam mais que plantavam.

Aliás, os Estados Unidos sempre se destacaram nesta tarefa de guardiães do mundo e auxílio humanitário, mas, ao mesmo tempo, eram exímios estrategistas para deixar o mundo aos seus pés; envolviam-se em guerras não só com o intuito de estabelecer a paz, mas também por interesses econômicos. Um exemplo gritante foi o conflito do golfo pérsico na década de 90 para a libertação do Kuwait das mãos dos iraquianos. Estava em jogo o petróleo no qual tinham interesse vital.

Na época da guerra fria, Estados Unidos e União Soviética eram praticamente as únicas potências mundiais antagônicas a deter o poder político e econômico, mas os Estados Unidos sempre tiveram mais pujança como mantenedora da ordem mundial.

Observamos agora que o poder econômico e político se concentram basicamente em três blocos: Os Estados Unidos, os BRICS (com destaque da China) e a União Europeia. Não há mais tão somente a hegemonia dos Estados Unidos como potência única a deitar seus olhares sobre o resto do mundo. As desavenças e conflitos entre países passam a ser resolvidos em conjunto por essas forças hegemônicas, hoje constituídas. Está aí a questão da rebeldia do Irã com sua teimosia de armar-se com armas nucleares e que foi solucionado conjuntamente onde se chegou a um entendimento pacífico: nada de construir bombas atômicas por parte do Irã e, consequentemente, fim do embargo econômico imposto ao país.

No bloco da União Europeia vê-se no presente momento o impasse de salvar a Grécia da falência. País este que na antiguidade plantou as sementes da democracia que germinaram e inundaram praticamente todo orbe terrestre e cuja seiva ou essência é a liberdade dos povos, ratificada pela Revolução Francesa com o slogan: Liberté, Égalité e Fraternité.

Mas, este país democrático e desenvolvido abusou da democracia ao ingressar na Zona do Euro, esbaldando-se com o dinheiro fácil sacado do cofre comum do Banco Europeu. Com isso, deu regalias supérfluas ao povo grego – ricas aposentadorias, isenção de impostos às ilhas gregas, corrupção do setor público, etc. – esfacelando a economia grega e jogando o país no fundo do poço com dívidas impagáveis. (Alguma semelhança com o Brasil sob o governo do PT?)

Mas a festa acabou e o dinheiro também. Apesar da compaixão de muitos países da União Europeia para que se libere o terceiro pacote de empréstimo de bilhões em euros, há um osso duro de roer com a liderança forte de Merkel que exige que a Grécia primeiro se comprometa a fazer reformas radicais para o saneamento da economia e voltar a crescer. Afinal, o que a Grécia pretendia? Deitar e rolar com os empréstimos sem devolução?...

Muitos julgam a Alemanha de intransigência e ingerência ao exigir austeridade extrema por parte do governo grego. Mas, o que aconteceria se imperasse a lassidão e afrouxamento das regras para se ter direito às benesses ao Fundo Bancário Comum que a Zona do Euro proporciona aos países participantes? Sem dúvida, desintegração total da União Europeia e uma crise mundial de proporções inimagináveis, talvez mais nefasta do que a crise de 2008 cujos reflexos ainda persistem.

Osso duro de roer, esta Merkel. Embora figura de simplicidade ímpar, demonstra firmeza em suas convicções, que na maioria das vezes são as acertadas.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 15-7-2015

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