Samuel Westrop
§ Terror
islamista não é produto da política ocidental. Conforme David Cameron observa
corretamente é uma rede ideológica global, com ramificações violentas e não
violentas e está dedicado a abarcar a todos nos quatro cantos do mundo.
§ Mas
no mundo de Giles Fraser, da Baronesa Warsi e de outros afins, parece que
terroristas não são radicais, extremistas não são extremos e o islamismo não é
produto de ideias islamistas.
Em junho Talha Asmal, um
muçulmano de 17 anos de idade, se tornou o
homem bomba mais jovem da Grã-Bretanha. Em um veículo repleto de explosivos,
Asmal acompanhado de mais três jihadistas atacaram as forças iraquianas em uma
refinaria de petróleo na cidade setentrional de Baiji. Onze pessoas foram
mortas.
Depois de alguns dias, três
irmãs da cidade de Bradford saíram com
seus nove filhos, o mais novo de apenas três anos, rumo ao território do ISIS
na Síria.
Na esteira desses recentes
recrutamentos à causa jihadista, uma semana antes do massacre de 30 turistas
britânicos em uma praia da Tunísia, o Primeiro-ministro David Cameron proferiu
um discurso em uma conferência sobre segurança na Eslováquia. Diante de uma platéia
ilustre com a presença de políticos, profissionais de nível superior, oficiais
militares e especialistas em segurança do mundo inteiro, Cameron descreveu o
ISIS como "uma das maiores ameaças que o mundo já enfrentou".
A motivação pela qual jovens
muçulmanos britânicos se juntam ao ISIS, segundo Cameron,
"é ideológica. Trata-se de uma ideologia islamista radical, que diz que o
Ocidente não presta e que a democracia é injusta, que as mulheres são
inferiores e que a homossexualidade é moralmente errada. Essa ideologia também
diz que a doutrina religiosa se sobrepõe ao estado de direito e que o califado
se sobrepõe ao Estado-nação e que ela (ideologia) justifica a violência no que
tange se autoafirmar e alcançar seus objetivos".
Um número cada vez maior de
jornalistas, políticos e ativistas islamistas, contudo, acredita que a
crescente radicalização e o apoio ao ISIS são consequência de uma comunidade
muçulmana isolada, ressentida com a política do governo. Por exemplo, a
Baronesa Warsi ex-ministra do governo, disse à
BBC que o governo britânico estava botando mais lenha na fogueira do problema
da radicalização ao se "afastar" das comunidades muçulmanas.
Grupos islamistas sustentam
que a política externa e o monitoramento da polícia são causas diretas do
extremismo. CAGE, um grupo islamista que trabalhou com o "jihadista
John", o carrasco britânico do ISIS encapuzado de preto, afirmou que
o rigor dos serviços de segurança e o "descontentamento de longa data, em
relação à política externa do Ocidente" são a causa principal dos
muçulmanos se voltarem para a violência.
Dois dos maridos das irmãs que
foram para a Síria com seus filhos disseram que
a polícia britânica "promoveu e estimulou ativamente" a radicalização
de suas esposas. Segundo seus maridos elas fugiram para a Síria por conta do
"monitoramento opressivo da polícia".
Um representante da Associação
Muçulmana da Grã-Bretanha, braço da Irmandade Muçulmana, chegou até a dizer que
os cortes do governo no custeio da assistência social cultivavam o apoio ao
ISIS.
Outros entretanto, alegam que
o governo deixa a desejar. Manzoor Moghal, comentarista muçulmano, observa que
as famílias das três estudantes britânicas que se juntaram ao ISIS em fevereiro
deste ano expressaram as mesmas críticas: "naquela ocasião os pais
juntamente com o advogado levaram suas reclamações ao Parlamento, argumentando
que a atitude da Polícia Metropolitana tem sido vergonhosa por
não ter fornecido alertas suficientes sobre avulnerabilidade de
suas filhas em relação aos fanáticos".
"quando no final de
semana veio à tona que Talha Asmal de 17 anos de idade se tornou o homem bomba
mais jovem da Grã-Bretanha, muitas reportagens indicavam que ele foi vítima de
aliciadores cruéis que maquinavam online. Sua família disse que ele era carinhoso,
gentil, atencioso e cordial. A obsessão de pintar jovens homens bomba vulneráveis como
vítimas está relacionada à associação da radicalização com a vulnerabilidade. A
associação irracional de um ato de terrorismo ao status de vítima está
arraigada de tal forma que a imprensa britânica tem pouco interesse nas
verdadeiras vítimas desse drama, as pessoas que foram mutiladas e mortas por
esse cordial e atencioso adolescente de 17 anos".
Grupos muçulmanos voltados
para os islamistas são ávidos em atribuir o processo de radicalização a
matérias extremistas disponíveis online. Funcionários do Conselho Muçulmano da
Grã-Bretanha, grupo dirigido por agentes da Irmandade Muçulmana e do
Jamaat-e-Islami, se referem à
"sofisticada mídia do ISIS" encontrada nas "bordas da
Internet". Esses grupos só podem estar interessados em culpar a Internet,
por ela desviar a atenção de seu próprio fundamentalismo, ainda mais
persuasivo.
Observadores de todas as
tendências políticas da Grã-Bretanha procuram ignorar o papel crucial que os
pregadores e seitas radicais desempenham no processo de radicalização,
incutindo em grandes parcelas da comunidade muçulmana britânica ideais
fundamentalistas.
Owen Jones, colunista alinhado
ao Partido Trabalhista junto ao jornal The Guardian, assinala
que o governo emprega "uma retórica de culpa coletiva que serve apenas
para fazer o jogo" do ISIS e dos demais grupos radicais. As guerras no
Iraque e na Líbia, segundo ele, é que criaram a ameaça do ISIS.
Na mesma linha da Baronesa
Warsi, Jones, ao que parece, também não é capaz de identificar a ideologia como
causa principal. Em sua maneira de pensar, o islamismo não é uma ameaça global
coordenada, e sim uma reação orgânica ao caos causado pela insensatez do
Ocidente.
É conveniente tanto para Warsi
quanto para Jones ignorar a influência do extremismo. Ambos
já aceitaram
convites para ministrar palestras em plataformas islamistas juntamente com
pregadores da estirpe de Abu Eesa Niamatullah, que diz que os
judeus "acham tão fácil e natural... massacrar... explodir bebês" e
Yasir Qadhi, que afirmou:
"Hitler jamais teve a intenção de destruir em massa os judeus... The
Hoax of the Holocaust (A Farsa do Holocausto), eu aconselho vocês a
lerem esse livro... Um livro muito bom. Tudo isso (o Holocausto) é propaganda
falsa... Os judeus, a maneira que eles o (Hitler) retratam, não é
correta".
A seu favor, David Cameron é
um dos poucos que parece perceber a realidade do extremismo islâmico. Na
conferência sobre segurança na Eslováquia, ele declarou:
"a questão é a seguinte:
como se chega a essa visão de mundo?... Uma das razões é que há aqueles que têm
as mesmas opiniões, mas que não chegam a defender a violência, contudo
concordam com esses preconceitos dando peso a essa visão islamista radical,
dizendo aos patrícios muçulmanos: vocês fazem parte disso tudo.
Isso abre o caminho para que jovens passem a efervescer preconceito em intento
assassino".
Nessa leitura, contudo, o
governo parece estar curiosamente só. Em contrapartida, o colunista do jornal The
Times e ex-parlamentar do Partido Conservador Matthew Parris, assinala que
meramente por mencionar extremismo no Islã britânico, Cameron
se transformou em "máquina de propaganda do ISIS". Parris também
alega que os jihadistas não são diferentes dos "aventureiros que foram
lutar na Guerra Civil Espanhola. ... Nunca ouvi dizer que há provas de que
estar sujeito à contaminação por esses assassinos fanáticos na Síria por um
período limitado, radicalizaram jovens muçulmanos britânicos
que voltam para casa: eles são seres humanos como nós, muitos dos quais terão
reagido à realidade dessa guerra suja da mesma maneira que você ou eu
reagiríamos, com choque e desilusão".
Parece que Matthew Parris tem
memória curta. Há apenas cinco meses, terroristas que juravam aliança ao ISIS abateram a
tiros cartunistas e judeus na França. Anteriormente em 2014, um terrorista
treinado pelo ISIS assassinou quatro
pessoas em um museu judaico na Bélgica. Terroristas ligados ao ISIS conduziram ataques
em mais de uma dozena de países, incluindo o
recente ataque na Tunísia.
Terror islamista não é produto
da política ocidental. É, conforme David Cameron observa corretamente, uma rede
ideológica global com ramificações violentas e não violentas. Ela pode
prosperar no caos, porém está dedicada a abarcar a todos, nos quatro cantos do
mundo.
A noção de que os terroristas
britânicos são vítimas das circunstâncias é uma falácia que serve apenas para
angariar afinidade com assassinos, minimizar a realidade do islamismo global e
minar os esforços para combater o terrorismo.
Giles Fraser, redator do
jornal The Guardian e ex-chanceler da Cúria da St. Pauls
Cathedral, recentemente assinalou que não há ligação ideológica entre o terror
islamista e o Islã propriamente dito. O Ocidente, segundo Fraser
culpa "o Islã conservador e as perigosas ideias contidas no Alcorão"
pelos recentes horrores no Kuwait, Tunísia e na França, porque nos recusamos a
"encarar nossa responsabilidade" pela "longa história das
desastrosas intervenções ocidentais no Oriente Médio".
Muçulmanos voltados para o
futuro podem até ter seus motivos para dizer que os livros sagrados islâmicos
não sancionam o terrorismo, mas ninguém pode alegar que os movimentos islâmicos
violentos não causam seus próprios atos de violência.
Para respaldar essa
argumentação, Fraser cita um relatório publicado por um grupo britânico chamado
Claystone. O estudo assume que "a ligação entre a teologia radical e o terrorismo"
se fundamenta em uma "frágil base empírica", incentivada por
"lobistas políticos conservadores ávidos em culpar o Islã conservador pelo
terrorismo".
Claystone no entanto, é
dirigido por Haitham Al-Haddad, um salafista britânico que retrata os
judeus como "macacos e porcos" e "inimigos de Deus". Ele
também alega que
Osama bin Laden é um "mártir" que irá para o paraíso.
O relatório Claystone afirma que
o Islã salafista é um aliado na luta contra o terrorismo. O relatório também
profere a desconcertante alegação de que pessoas que cometem atos terroristas
não necessariamente endossam convicções extremistas.
No mundo de Giles Fraser, da
Baronesa Warsi e de outros afins, parece que terroristas não são radicais,
extremistas não são extremos e o islamismo não é produto de ideias islamistas.
Há muita leitura equivocada do
governo britânico no que tange à questão do extremismo. Ele (governo britânico)
continua a financiar grupos problemáticos, como o Finsbury Park Mosque, dirigido pelo
agente do Hamas Muhammad Sawalha ou o Islamic Relief Worldwide, uma sociedade
beneficente que promove pregadores
extremistas. Fora isso, o governo propôs medidas rigorosas para combater
pregadores extremistas, inclusive iniciativas para censurar o
que clérigos podem escrever ou dizer em público.
Porém na questão da
responsabilidade moral, parece que David Cameron está certo. O Ocidente não é
culpado pelo terrorismo. A violência islamista é na realidade produto de uma
ideologia religiosa abertamente comprometida em abarcar o mundo inteiro. Não é
a nossa política interna ou externa que desagrada os islamistas e sim a
existência de qualquer coisa que não pertença à sua visão do Islã, o que inclui
a nós no Ocidente.
Título e Texto: Samuel Westrop, Gatestone Institute, 15-7-2015
Original em inglês: Islamism: Blaming the West
Tradução: Joseph Skilnik
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