domingo, 30 de dezembro de 2018

A Sul algo de novo

Diogo Prates

Um povo que em nada beneficia com as constantes greves dos serviços públicos de transportes começa a perceber o logro do discurso do PCP. É o povo que também sabe comparar a Transtejo com a Fertagus


Dia 9 de junho de 2016: “PS, BE, PCP PEV e PAN votam no parlamento a revogação dos diplomas do anterior governo que previam a fusão e reestruturação dos transportes coletivos de Lisboa. Segundo este diploma, fica estabelecida a autonomia jurídica do Metropolitano de Lisboa, da Companhia de Carris de Ferro de Lisboa, da Transtejo e da Soflusa, cuja reestruturação tinha sido aprovada pelo governo de Pedro Passos Coelho”

Dia 29 de junho 2018: ”A CP é líder das queixas nos transportes registadas durante o ano passado. Só no livro de reclamações, a CP registou 3800 queixas, um “acréscimo acentuado no segundo semestre” face ao primeiro com mais 572 queixas, segundo a AMT”.

Dia 11 de dezembro de 2018: “A circulação de barcos entre Lisboa e o Seixal esteve suspensa devido a episódio de “rebelião” no terminal do Seixal. Um passageiro contou que chegou à estação fluvial do Seixal antes da 7h45, que o barco das 8h10 foi suprimido e quando chegou a embarcação das 8h30 já estavam pessoas de dois barcos no seu interior”.

É inegável, as reversões nos transportes públicos efetuadas por este governo, nunca é demais referi-lo, suportado no parlamento pelo PS, PCP, BE, PAN e Verdes, não contribuíram para melhorar o serviço prestado aos seus utentes, antes pelo contrário. As queixas com os serviços da CP, Metro, Soflusa e Transtejo aumentaram consideravelmente na mesma proporção da degradação do serviço.

Quem ganhou então com esta reversão? Os utentes não foram com certeza. A ironia é que esta era uma das condições da esquerda, sobretudo do PCP para assinar o acordo que permitiu a formação deste governo. No entanto, o presidente da Câmara do Seixal, comunista por sinal, é um dos principais críticos do governo nesta matéria: “Esta é uma situação insustentável e que apesar das sucessivas promessas por parte do governo, pouco ou nada mudou no transporte fluvial. As pessoas que utilizam os barcos da Transtejo não podem continuar a ser prejudicadas desta forma”, referiu o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos.”

Pois bem, temos então o presidente da Câmara Municipal do Seixal, eleito pelo PCP, a criticar o governo, apoiado pelo PCP, acusando-o de faltar às promessas, pelo que talvez o senhor presidente pudesse dar uma palavrinha ao secretário-geral do seu partido.

Quem mora no distrito de Setúbal, trabalha em Lisboa e não se atreve a levar o carro para o emprego sabe que uma das melhores opções é a Fertagus, apesar da sobrelotação nas horas de ponta, pois os comboios são confortáveis e razoavelmente pontuais. Mas agora vejamos qual a ideia do PCP relativamente a esta empresa: “reversão da Parceria Público-Privada do serviço de passageiros concessionada à FERTAGUS com a integração da operação hoje a cargo desta empresa na CP, bem como dos respectivos trabalhadores, material circulante (que é público) e instalações”. Ou seja, o PCP pretende acabar com um serviço que funciona para o transferir para uma empresa campeã de reclamações, o que é brilhante: talvez passássemos a ter apenas um comboio por hora a fazer a travessia do Tejo como temos nas ligações de barco do Seixal.

Mas nem só no que aos transportes diz respeito os habitantes do Seixal têm razões de queixa do atual governo. Na saúde o prometido em campanha eleitoral Hospital do Seixal não passa de uma miragem, o que canaliza os utentes para as urgências do já de si sobrelotado Hospital Garcia de Orta em Almada. Por outro lado, a instabilidade que se vive no Porto de Setúbal com a greve dos estivadores é mais uma prova da inabilidade do governo, prejudicando uma das maiores exportadoras do país, a Autoeuropa.

Nas últimas eleições autárquicas, o PCP perdeu três das suas câmaras históricas neste distrito, Almada, Barreiro e Alcochete, o que significa que aparentemente há algo de novo a sul do Tejo: um povo que não beneficia em nada com as constantes greves dos serviços públicos de transportes que transformam a sua vida num pesadelo e que começa a perceber o logro do discurso do PCP.
Um povo que sabe comparar a Transtejo com a Fertagus.
Título e Texto: Diogo Prates, Licenciado em Medicina, Observador, 30-12-2018

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