O Brasil tem uma das maiores
taxas de juros do mundo. Certo. Também tem um dos maiores níveis de emprego
informal do planeta. Correto. As duas expecionalidades resultam de problemas
estruturais acumulados ao longo de muitos anos, de díficil solução a curto e
médio prazos e dependentes de complexas reformas institucionais. Os bancos não
são, ao contrário do que se pensa, os grandes culpados pelas altas taxas de
juros, assim como os empresários não são a causa da informalidade no mercado de
trabalho.
Mesmo assim, a presidente Dilma fez ontem à noite um duro e assustador ataque contra os bancos, em cadeia nacional. Para ela, é “inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos do mundo, continue com os juros mais altos do mundo”. Essa, convenhamos, é a percepção da maioria. Há, todavia, muitos estudos que explicam as razões das altas taxas de juros no país, inclusive no governo (Dilma e seus assessores podem ter acesso fácil a esses estudos no site do Banco Central). As taxas de juros altas refletem nossas próprias excepcionalidades em fatores que influenciam o tamanho do spread bancário. Nenhum outro país tributa tanto as transações financeiras ou tem tanto recolhimento compulsório de bancos ao Banco Central. Há outros fatores, como já comentei anteriormente neste blog.
Mesmo assim, a presidente Dilma fez ontem à noite um duro e assustador ataque contra os bancos, em cadeia nacional. Para ela, é “inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos do mundo, continue com os juros mais altos do mundo”. Essa, convenhamos, é a percepção da maioria. Há, todavia, muitos estudos que explicam as razões das altas taxas de juros no país, inclusive no governo (Dilma e seus assessores podem ter acesso fácil a esses estudos no site do Banco Central). As taxas de juros altas refletem nossas próprias excepcionalidades em fatores que influenciam o tamanho do spread bancário. Nenhum outro país tributa tanto as transações financeiras ou tem tanto recolhimento compulsório de bancos ao Banco Central. Há outros fatores, como já comentei anteriormente neste blog.
A cruzada contra os bancos tem
tudo para aumentar a popularidade da presidente. Com o intuito de reforçar os
ganhos, ela incitou a população a forçar a queda da taxa de juros. Bancos não
são populares em canto nenhum, mas no Brasil eles chegam a ser odiados. A
desinformação, o preconceito e a ideologia formam um caldo complicado. Muita
gente deve estar aplaudindo o discurso e dizendo impropérios contra quem
criticar Dilma (como faço agora). A exemplo de outras vezes, deverei ser
condenado e espezinhado pelo que escrevo, assim que este texto circular no
Facebook.
Investir contra espantalhos e
mirar efeitos com objetivos políticos tem sido uma característica de governos
populistas. Atacar sintomas que a população confunde com causas gera ganhos de
popularidade ou reverte sua perda. A perda ainda não é o que move Dilma a
atacar os bancos, mas foi o caso dos generais argentinos que invadiram as
Malvinas e da recente desapropriação, pela presidente Cristina Kirchner, das
ações da Repsol na empresa petrolífera argentina YPF. Tal qual aconteceu em
ações populistas semelhantes, particularmente no período de Juan Perón, o povo
argentino apoiou: 62% se disseram a favor da desapropriação. O preço, como no
passado, será altíssimo. Como se diz a pida, “as consequências vêm depois”. A
cruzada contra os bancos inclui determinação para que os bancos públicos
reduzam as suas taxas de juros. A consequência poderá ser enormes prejuízos
para essas instituições, que serão pagos pelos contribuintes.
Nos tempos do Plano Cruzado,
começou a faltar carne nos supermercados e açougues. Era um sintoma de uma
causa – o congelamento dos preços – difícil de ser identificada pela população.
A carne faltava porque o preço do boi gordo, tabelado, era inferior aos custos
de produção. Vender a tal preço signficaria a falência. Como ocorreu em outros
períodos da história mundial, os pecuaristas procuraram preservar o patrimônio
duramente construído. Era melhor guardar o boi, arcando com o respectivo custo,
do que levá-lo com prejuízo ao matadouro.
Como se recorda, o governo
empreendeu, com apoio do ministro da Fazenda Dilson Funaro, uma ridícula ação
de caça ao boi no pasto, empregando helicópteros e policiais federais. Deu no
que deu. O errado era prolongar um congelamento insustentável, não a reação dos
pecuaristas. Eles não eram especuladores, como se falava. Apenas buscavam se
salvar da insanidade destruidora do governo. Do jeito que a coisa vai, Dilma
terminará caçando juro no pasto. Isso porque, ao contrário do que ela e seus
assessores pensam, os juros no Brasil não vão convergir tão cedo para níveis
internacionais. A informalidade do mercado de trabalho tampouco será em breve a
dos países desenvolvidos. Cabe lembrar que Funaro tabelou, sem sucesso, o
spread bancário. Dilma fará o mesmo? Não me surpreenderia.
O Brasil vem perdendo o
encanto em certos círculos no exterior, isto é, os que acompanham de perto os
rumos da gestão governamental, particularmente da política econômica. A
percepção de perda de dinamismo da economia brasileira é crescente. E das
intervenções mal feitas na economia também. Isso leva tempo para se disseminar.
Em algum momento, chegará às áreas de planejamento estratégico das empresas que
investem ou pensam em investir no Brasil. O discurso de Dilma contra os bancos
dará uma contribuição adicional para a mudança de percepção de aumento dos
riscos.
Título e Texto: Mailson da Nóbrega, 1º de maio de 2012
Colaboração: Rafael Picate
Edição: JP
Edição: JP
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